Perfume - DEGUSTAÇÃO

Confidência

-Parei pra pensar, quando ouvi o refrão, eu não sou um cara triste, mas também não sou feliz, eu estou meio vazio por dentro, sigo uma vida sem sonhos, sem férias, apenas anulei minha existência, para deixar meus pais felizes e olha o que me tornei...

-Um grande médico?!

-Não é isso, como pessoa, não sou realizado.

-Mas e sua esposa?

-Infelizmente, não sinto nada por ela à não ser um sentimento de amizade e convivência, é horrível eu dizer isso, mas minhas escolhas fizeram eu anular não só a minha vida, mas a dela também, sinto que fiz uma escolha errada no passado.

-Eu também penso o mesmo, do passado sabe, eu poderia ter mudado algo, mas o medo falou mais alto.

- O que você fez ou iria fazer ?

-Eu me apaixonei por uma pessoa e com medo de perder a amizade dessa pessoa eu me afastei, esse foi meu maior erro, perdi a pessoa de qualquer jeito...

Júlio olhava para os joelhos dele enquanto ele falava eu coloquei minha mão solidário no joelho dele e ele pôs a mão dele em cima da minha, nesse momento um arrepio passou pela minha lombar, o medo me percorreu e eu tirei a mão devagar, será que ele falava de mim, lembrei do que a tia me comentou sobre ele amar um amigo e que eu lembro nós andávamos só nos dois naquela época, mas vai que ele teve algum outro amigo depois de mim, mas e como eu conseguiria aceitar algo assim. Minha curiosidade me venceu.

-Então e você teve muitos amigos depois de mim ?

-Não, nunca consegui fazer novas amizades sinceras como nós eramos.

-Sério?! eu também não!

Agora eu tive certeza, que era de mim que ele estava falando, meu coração ficou feliz, mas minha cabeça começou a girar, como eu me aceitaria, eu não tenho certeza de como seria, será que vou ficar com nojo se um dia tentasse beija-lo ou algo além, é tão difícil pra mim aceitar esse sentimento, mas estou me sentindo tão bem com ele, me cinto leve ... feliz...

Saí da piscina e me sentei do lado dele bebemos um pouco em silêncio olhando a piscina e curtindo o som.

-Quero te mostrar uma coisa! - disse ele apontando pro campo.

-O que da pra ver nesse escuro ? kkkkk

-Algo que você não vê a muitoooo tempo.

-Como você sabe?

-Ué, pelo que vi sua vida é trabalho e trabalho então você não vê.

-Vamos então.

Me levantei e o segui. Caminhamos um pouco em direção ao escuro, era um campo aberto, caminhamos alguns minutos e quando não deu pra ver as luzes da casa, ele passou o braço no meu ombro e disse.

-Fecha os olhos e me obedece.

Fiz o que ele pediu, meu coração disparou cheguei a sentir o calor do halito dele bem perto de mim e o perfume dele fazia minha mente girar, ele pegou minha mão.

-Não abre os olhos, pega minha mão e te senta.

Obedeci, depois ele pegou meus ombros e me empurrou, fiquei deitado de olhos fechados, meus batimentos estavam elevadíssimos fazendo minha respiração ficar pesada.

-Agora abre os olhos!

-Uau!

A via láctea, brilhava inteirinha sobre meus olhos, coloquei meus braços atrás da cabeça. Ele estava sentado ao meu lado abraçando os joelhos.

-Você tinha razão, não vejo isso desde criança.

- Eu venho aqui todas as noites e me perguntava por onde andava o amor da minha vida, e pedia para um dia poder ver as estrelas com ele.

Não consegui olhar pra ele, eu sabia que era de mim que ele falava, o medo me assombrava e a certeza do sentimento que eu tinha por ele se aflorava a cada segundo, fechei os olhos e contei um segredo.

-Sabe, a uns dias atrás, eu sonhei com lá muerte, ou melhor a Catrina, ela me levou ao passado no momento que fiz minha escolha, fiz uma escolha pensando na felicidade dos outros e não pensei na minha.

-Posso saber que momento foi esse ?

Respirei fundo e sem pensar muito respondi.

-No dia em que estávamos sentado na porta da casa da minha tia a 20 anos atrás, foi ali que fiz minha escolha e você sabia que eu estava mentindo pra mim mesmo, mas o medo aquela hora foi de perder meu melhor amigo ...

Julio estava chorando com a cabeça encostada nos joelhos, ele começou a falar devagar.

-Esse foi o momento em que cometi um erro também, com medo de te perder, porque você nunca demonstrou um carinho físico por mim e quando eu te tocava eu sentia que você ficava tenso e se eu te beija-se como eu queria ter feito isso naquele momento, você poderia me odiar para sempre.

-Eu jamais te odiaria, mas não sei o que pensar ... eu estou confuso ...

Eu me levantei e me ajoelhei na frente dele, meu estômago começou a se agitar e fiquei meio enjoado, mas resolvi falar, já não sou mais criança e preciso desabafar.

-Julio eu nunca te esqueci, e você nunca saiu da minha cabeça, mas eu sou homem e você também e acho que isso é um erro e então luto contra meus sentimentos, seu perfume me atormentou a vida inteira porque sempre amei esse cheiro e nunca encontrei um frasco do perfume, então encontrei um caderno de poesia nas coisas da minha tia e lá estava seu perfume, no mesmo instante meu coração disparou e eu sabia de alguma forma que era seu, e sempre que você me tocava na escola meu estômago se enchia de borboletas e o medo de você ou alguém perceber fazia com que eu fugisse do seu toque, você nunca foi afeminado nem eu como poderia acontecer algum tipo de relação entre nós ... e eu não sei...

Nesse momento Julio chegou mais perto de mim, olhou em meus olhos e eu apenas olhei seus olhos que pareciam liquido na noite, e fiquei quieto esperando pelo nojo ou algum sentimento desse tipo, mas não foi o que eu senti, ele passou a mão em meu rosto sem tirarmos os olhos um do outro, depois a mão dele foi até minha nuca e um arrepio de prazer percorreu minha espinha, eu não me mexi um centímetro que fosse, então o perfume dele tomou conta do meu pulmão e os lábios dele encostaram nos meus, minha respiração ficou mais forte, meus batimentos também, eu retribui o beijo imediatamente. Eu estava beijando o amor da minha adolescência e era nessa paixão que eu me prendia, esqueci da parte física que era o que eu mais temia, estava beijando uma alma que eu amava com todo o meu ser ...