Perfume - DEGUSTAÇÃO

Tudo dando certo!

Estávamos empolgados com nossa clínica, estava tudo dando certo. Marien ainda não queria nem ver minha cara, mas também não quer assinar os papéis do divórcio, minha tia estava com saudades, mas feliz por me ver bem, apresentei "formalmente" Júlio a ela em um almoço em um restaurante no centro da cidade.

-Aquela sensação ainda é presente em mim!-falou Júlio-Tá tudo bom de mais!

-Eu sei, mas não temos o que fazer!

Estávamos sozinhos na fazenda, deitados na rede da varanda vendo a chuva cair de mancinho, nos cobrimos com um edredom e ficamos um bom tempo ali.

-Eu quero adotar. -falou ele-Sempre quis ter um filho!

-Vamos adotar!-falei-Mas acho que vamos ter que morar na cidade, podemos passar os finais de semana aqui, podemos encher está casa de alegria!

-Podemos mesmo , vou convidar Vick e a família pra virem no final de semana que vem!

-Você está bem próximo da Vick!

-É uma Boa amiga, e também gosto de cozinhar!

-Fico feliz com isso!

-Vamos visitar um orfanato?

-Segunda vamos procurar uma instituição para nos informarmos.

Ele me abraçou forte e ali ficamos sentindo o cheiro da terra até nossas barrigas roncarem.

...

Depois de nos informarem sobre tudo, fomos acompanhados por uma assistante social no orfanato, haviam bebês recém nascidos passando por processo de desintoxicação, pois as mães eram dependentes químicas, as crianças maiores eram nosso foco, acho que não estamos preparados para um bebêzinho, não agora.

-E aquela área lá?-perguntou Júlio.

-Lá ficam os maiores!

-Daqui a pouco eles vão vir para o pátio, ai vocês podem conhecer!

-Muitos casais gays conseguem adotar?-perguntei.

-Olha, vou ser sincera com vocês, no nosso país só quem tem dinheiro consegue adotar, muitas crianças ficam aqui até completar maior idade por culpa da maldita "justiça", vocês sabiam que temos uma media de mais de 8mil crianças e adolescentes a espera de um lar e mais de 43 mil pessoas cadastradas pretendentes para adotar e graças a falhas burocráticas do sistema muitos não conseguem esse apoio!

-Isso é injusto!-falei.

-Infelizmente eu não faço as leis e sim nosso país é injusto.

-Bom, felizmente dinheiro é o que mais temos!-disse Júlio.

-Então creio que a adoção será rápida!

Havistamos um menino de talvez uns 14 ou 15 anos cruzar os portões.

-E aquele menino?-perguntei.

-Aquele é um caso que quase nunca consegue-se um lar!

-Pode nos contar a história dele?

-Daniel tem 13 anos e é vítima de espancamento pelo próprio pai, ele está aqui com o irmão dele de 5 anos, já é a terceira vez que ele vem pra cá, a "justiça" solta o pai e eles entregam as crianças à aquele maldito, mas agora ele está morto, não vai mais conseguir agredir ninguém, mas uma adoção tardia assim é difícil, principalmente porquê ele não quer se separar do irmão!

-Podemos conhecê-los ?

-Claro!

-Daniel!?-chamou a mulher.

Ele baixou a cabeça e veio em nossa direção, dava para ver a humildade em seus jestos.

-Oi!-disse ele sem nos olhar-Só vim ver meu irmão!

-Daniel estes são Júlio e Carlos, se importa de mostrar as crianças a eles, preciso fazer algumas coisas!-ela piscou o olho pra nós e se foi.

-Então Daniel, você conhece tudo por aqui?

-Hurum... Daqui a pouco as crianças saem e posso lhes apresentar todos!

-Você tem um irmão?-perguntei e os olhos dele brilharam.

-Tenho sim senhor!

-E como ele é?-perguntou Júlio.

-Como o próprio nome dele!-disse Daniel-É um anjo, sofreu um pocado, mesmo eu tentando protegê-lo!

-Qual o nome dele?-perguntou Júlio.

-Gabriel, como o anjo!

-Seu nome também é de um anjo!-falei.

-Mas não sou um!-ele baixou a cabeça colocou as mãos no bolso e nisso as crianças começaram a sair pro pátio-Então querem adotar algum bebê?

-Ainda não sabemos, queremos conhecer histórias!-falei.

-Aquele menino ali foi e voltou várias vezes, a mãe dele é drogada, aquela ali é...

-Daniiii...

-Esse é meu irmão!-disse ele se abaixando e abrindo os braços para o irmão que pulou em seu colo o derrubando no chão-Ei você tá ficando pesado!

-Você é mais!-disse o menino enquanto nós admiravamos a cena-Eu fiz uma coisa pra você!

-Ah é, depois você me mostra, agora vou te apresentar duas pessoas!-ele se levantou com o irmão no colo-Desculpe-me eu esqueci os nomes de vocês!

-Sou Júlio e este é Carlos!

-Vocês são casados?-perguntou o menino- Vão adotar meu irmão?

-Bi, eles não vão me adotar, já conversamos sobre isso!

-Viemos visitar, e ainda não nos casamos, mas vamos nos casar!

-Eu nunca fui a um casamento!-disse ele pensativo- Deve ter bolo.

-Estará convidado para o nosso se você quiser ir!-falei-E você também Daniel, se não se importar é claro.

-Adoraria!

-Vamos comer bolo!-disse Gabriel descendo do colo dele e se distraíndo com um balanço.

-Dani posso te perguntar o que tanto você conversou com ele sobre adotarem você?

-Olha eu sei que não serei adotado, já sou muito velho pra isso e se levarem meu irmão eu não vou aguentar ficar longe dele, ele é tudo que eu tenho!

-E você tem planos para o futuro?-perguntei.

-Assim quê eu fizer 18 anos vou conseguir um emprego e alugar uma casa para pedir a guarda de meu irmão, rezo todas as noites para que isso aconteça.

-E o que você pensa de casais como nós?-perguntei.

-Vocês se amam?-peguntou ele.

-Sim, muito!

-Isso é que importa, o resto é resto!

-Gostei de te conhecer!-falei indo em direção para abraça-lo e ele se encolheu como se eu fosse bater nele.

-Perdão... É força do hábito!-disse ele.

-Você achou que eu ia te bater?!

-É... Não ... É quê... Desculpem.

-Está tudo bem Dani, não se desculpe, não consigo imaginar pelo que passou.-falei.

-Espancamento de quebrar os ossos, foi isso o quê passei!

-E como você está agora?

-Curado, sem seqüelas, vou poder trabalhar em qualquer coisa!

...