Meu coração

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- Ju-Julio... entre ...

- Tem um tempinho ?

-Claro!

- Cara faz 20 anos que te procuro nas redes sociais e nada, onde andavas? perguntou ele sorrindo.

-Meu, pra falar a verdade não tenho nada disso, minha vida é só trabalho.

Falei sorrindo, mas no fundo aquilo era triste de admitir eu não tinha vida, apenas trabalho, casa, casa, trabalho, anulei minha vida social.

-Vamos marcar uma saideira uma hora dessas o que você acha?

-Claro, vamos sim!

Então pegamos o número do telefone um do outro.

-Você vai ficar com a sua irmã ?

- Na verdade o marido dela já chegou, daqui a pouco vou pra casa.

-Quer uma carona ?

-Não, pode ficar tranquilo, mas aceito um café que tal, tem uma padaria que serve um café dos Deuses aqui perto.

-Aceito sim!

Peguei o endereço, e o encontrei no local que ele já esperava, sentei meio desconfortável, não sei o que poderiam pensar de nós, acho que estou ficando paranoico, ele é só um amigo, pensei pra mim mesmo, então começamos a conversar, ele me contou um pouco sobre o que ele fazia e quando ele perguntou sobre minha vida eu não tinha muito o que dizer sobre ela, apenas o básico.

-Poxa acho que você está precisando de umas férias, que tal passar o final de semana comigo na fazenda?

-Humm, não sei o que te dizer.

-Você pode trazer sua família se quiser.

-Acho que preciso de um tempo com um velho amigo mesmo, ou você tem namorada?

-Não tenho não, vamos passar o final de semana juntos relembrando os velhos tempos.

-Vai ser bom, conversarmos um pouco.

-Vai sim, posso te pegar na sua casa na sexta de noite o que você acha?

-Pode ser.

-Depois me manda uma mensagem com o teu endereço.

-Está bem, bom vou indo, tenho plantão logo mais, foi muito bom te ver.

Nos levantamos e ele pagou a conta, eu quis rachar, mas ele não deixou, estendi a mão e ele pegou minha mão e me puxou para um abraço apertado, meu corpo reagiu de um jeito estranho, tive palpitações e meu estômago parecia ter borboletas, e o perfume dele me fez viajar até o sonho que tive, ele me soltou e olhou no fundo dos meus olhos, fiquei soando com minhas reações corpóreas, entrei no carro e senti um pouco do cheiro dele em minha roupa, respirei fundo liguei o som do carro pela primeira fez, em uma música que nós ouvíamos quando andávamos de skate na época da escola, cantei em voz alta enquanto entrava na garagem, desliguei o som, respirei fundo para voltar a minha rotina.

-Oi querido como foi no hospital?

-Hoje foi bom, encontrei um velho amigo de escola.

-Que bom, fico feliz.

-Ele me convidou pra passar o final de semana com ele, numa fazenda, você se importa de passar só com a tia?

-Querido já estou acostumada, lembra, você trabalha aos finais de semana, vou aproveitar para ir ao shopping com a tia.

-Que bom, e desculpa.

-Pelo quê ?

-Por passar sempre trabalhando, e sem tempo pra você ...

-Está tudo bem, eu estou bem...

Passei o resto dos dias agitado, ansioso, chamei um colega para me cobrir e avisei que estaria com o telefone desligado o final de semana inteiro, então sexta de noite eu já estava com uma mala pronta e um cooler cheio de cerveja a espera dele, eu não parecia um homem maduro eu estava mais para uma adolescente esperando seu príncipe atrasado, um barulhinho no celular e olhei, ''estou chegando'', meu coração parecia sair pela boca, ele buzinou e eu já estava com a mão na maçaneta, Marien saiu na porta e Julio desceu do carro para cumprimenta-la.

-Olá Marien, nos conhecemos a muito tempo atrás, não sei se ainda se lembra de mim.

-Oi, é claro que lembro, o Carlos falava muito de você.

-Fico feliz, bom vamos, temos uma hora de chão ainda pela frente, não se preocupe trago ele na segunda, são e salvo.

Ele piscou para ela e acenou enquanto eu colocava a mala na parte de trás da camionete dele, dei um selinho em Marien.

-Tchau querido divirta-se!

-Tchau!

Entrei no carro, e Julio deu um tapinha de camaradagem na minha cocha.

-Bora ?!

No caminho íamos relembrando músicas do nosso tempo de guri.

-Bah, lembra dessa?

-A vida é feita de atitudes nem sempre decentes...
-Não lhe julgam pela razão, mas pelos seus antecedentes...
-É quando eu volto a me lembrar do que eu pensava nem ter feito...
-Vem, me traz aquela paz ...

Cantei olhando pra ele e ele me acompanhou no refrão.

-Ouvi dizer que só era triste quem queria...

-Ouvi dizer que só era triste quem queria...

Parei de cantar e pensei na letra da música, não sou uma pessoa feliz, mas também não sou triste, apenas me sinto vazio, Julio percebeu e baixou o som.

-Você está bem?

-Estou, só parei pra pensar um pouco na letra da música.

-Chegamos!

Ele desceu e abriu uma porteira, passou o carro e depois desceu para fechar a porteira, andamos mais uns metros e vi a casa dele, com as luzes verdes do jardim deixavam tudo mais bonito, ele estacionou e descemos.

- Bem vindo a mi casa!

-Obrigado, é lindo aqui, você tem sorte!

-Se você acha que é sorte ser sozinho o tempo todo ...

-Desculpa, não pensei por esse lado...

-Está desculpado, vem vamos pra piscina, comprei uns beliscos pra gente.

-Uau que casa hein!

-Obrigado!

A casa era grande, mas simples tudo muito aberto, cheio de vidros, bem arejado, ele largou minha mala na sala e tiramos os sapatos e fomos pra piscina, estava uma noite quente , Julio ligou o som bem baixo, que dava para conversarmos, ele colocou uns salgadinhos numa mesa do lado das espreguiçadeiras e eu larguei o cooler do outro lado, ele tirou a camiseta e eu a minha camisa sem olha-lo com medo de minha reação, conversamos um pouco de bobagens e dei um mergulho, ele se sentou na beira da piscina com os pés dentro da água, eu me calcei do lado dele, tomei um gole de cerveja, eu estava me sentindo em paz.

-O que te fez parar pra pensar na letra da música?

-Vou ser honesto com você como sempre fui.

-Fico feliz com isso.

Perfume - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora