Confiar

Daniela ?

- Vitória Falcão - disse Luana sentando-se no sofá - precisamos conversar.

Seu olhar percorreu todo o corpo da mais velha que estava sentada à sua frente com as mãos pousadas nos braços da poltrona e pernas cruzadas, usava um coque no alto da cabeça, mesmo assim o cabelo estava bagunçado. A mulher era linda.

- Eu entendo perfeitamente Ana - Vitória sorriu abaixando o rosto, não que ela ficasse envergonhada com essas coisas mas... Luana estava flertando? Esperava que não - vamos para a cozinha? - Luana olhou para a irmã que dormia sossegada no sofá - quero deixá-la descansando mais um pouco - olhou para Vitória- apesar do seu esforço ela não teve uma noite muito boa. Vitória franziu o cenho tentando entender o que Luana dizia, mas nada perguntou, viu a mais nova se levantar e seguiu o mesmo caminho. A cozinha estava praticamente do mesmo jeito que Vitória se lembrava, Luana colocou a água para esquentar para fazer o café, era um dos vícios que partilhava com a irmã.

- Como assim ela não teve uma noite muito boa? - Vitória se sentou na cadeira. - Pesadelos - disse Luana se apoiando na pia da cozinha e observando a expressão de Vitória , a loira piscou várias vezes e olhou para os lados incomodada - vocês estão juntas a quanto tempo?

- Há poucas semanas - Vitória respondeu com uma voz desanimada - para falar a verdade Ana me aceitou mesmo nesta semana - deu de ombros recebendo um sorriso de Luana.

- Não pensei que tivesse sido fácil, minha irmã não é fácil - Luana deu uma piscadela e Vitória sorriu, estavam se dando bem, isso era um bom sinal - Mas ela tem seus motivos e... fico feliz que tenha encontrado você...

- Eu também - sorriu.

- Preciso saber, nesse tempo que você está próxima a Ana, quantos pesadelos ela já teve?

Vitória colocou a mão na cabeça e apoiou o cotovelo na mesa, olhou para cima parecendo tentar se lembrar.

- Eu acho que quatro - falou depois de um tempo - no dia que nos "conhecemos" ela tinha uma marca em uma das bochechas - sorriu ao se lembrar daquele encontro no
estacionamento - disse que tinha caído da cama por causa de um pesadelo.

- É bem a cara dela fazer isso - Luana abriu a geladeira tirando de lá queijos, presunto, algumas frutas e leite e colocando tudo na mesa.

- No outro dia aconteceu algo... incomum e eu vim dormir aqui, acordei mais cedo e como hoje vim para a cozinha preparar o café da manhã e quando voltei para quarto ela me disse que teve outro pesadelo.... - Vitória alisava a mão na toalha que cobria a mesa - há alguns dias, no acampamento em que estávamos Ana adoeceu...

- Eu notei que ela não está 100% - Luana começou abrir os armários - onde será que eles guardam o pó de café? - Na terceira porta do armário de cima - Vitória respondeu e viu Luana abrindo o compartimento do armário indicado e soltando um som nasal - ela teve outro pesadelo no dia em que ficou doente, mas eu achava que era por causa da febre e agora o de hoje, são quatro.

- São muitos - Luana suspirou, fez uma pausa como se os pensamentos a levassem para outra dimensão e começou a passar o café deixando o cheiro invadir rapidamente a cozinha. - São muitos - Vitória repetiu com pesar em sua voz - eu queria poder ajudar, mas Ana não me diz como...

- Ela tem um trauma, eu não sei se posso dizer... - olhou para Vitória que parecia estar preocupada - ela vai dizer na hora certa, não se preocupe.

- Mas o que eu faço enquanto isso? Eu nem mesmo vi ela saindo de perto de mim na madrugada, não ouvi nada... - lamentou.

- Não se culpe por isso - Luana terminava de fechar a garrafa que agora estava cheia de café - Mas Ana estava bem, isso me deixa preocupada, ela já tinha se recuperado disso tudo, não tinha pesadelos há meses - abriu a geladeira pegando as sobras de pizza da noite anterior e sentou-se em uma cadeira próximo a Vitória - foi muito difícil no começo, Ana não queria sair de casa, tomava muitos remédios para dormir... não era somente algo físico, ela tinha uma dor emocional grande demais para ser curada com remédios... - pausou.