Confiar

Ela quem?

“Vamos sair desse labirinto com Ana em segurança”, que porra está acontecendo? - Julia abaixou a voz - foi você que pegou ela, Chloe?

- Por isso eu falei pra você que deveria ter esperado amanhecer para chamar Vitoria - Chloe esbravejou - você mal chegou aqui e já chamou ela, o que está acontecendo com você?

- Eu tive medo - Julia a puxou pelo braço para se afastarem mais um pouco da sala de Vitória - Ana é minha amiga e você me disse “Ela foi levada”, eu tive medo, você
acha que eu pensei? Como poderia adivinhar que você a levou?

- Primeiro - Chloe ergueu o dedo indicador - eu não a levei, eu disse que fui atender a uma ocorrência, não foi eu que vim aqui e a salvei daqueles caras, segundo, se você tivesse atendido a porra do celular saberia que Ana estava segura, eu não pude falar nada quando você chegou aqui com tantos policiais por perto - olhou para Julia e respirou fundo - Julia, eu sei que nunca nos demos muito bem, mas cá estamos nós, juntas e com esse problema e você sabe que é tudo culpa sua, temos que trabalhar em equipe aqui.

- Culpa minha? - Julia sorriu sarcasticamente - O que faz aqui então se não tem culpa de nada?

- Estou ajudando uma amiga.

- “Amiga” - fez aspas com as mãos - Quem pegou Ana? - Julia olhou para a colega de trabalho que fez uma cara que dizia sem precisar falar uma palavra quem era - não acredito Chloe, você poderia ter colocado tudo a perder - colocou as mãos na cabeça
- a mulher não está nas últimas? Sem poder sair de casa com a doença? Como você manda ela fazer isso?

- Eu não tive escolha, entendeu? - Chloe apertou as têmporas e bufou - você não atendeu o telefone e Mônica estava no hospital com Luana, eu não sabia para quem ligar, não tive escolha, pedi para que ela viesse e levasse Ana para um lugar seguro, não imaginava que ela iria fazer essa bagunça, matar três homens… ela nem me avisou - respirou fundo - eu nem tive tempo de dar um jeito nos corpos, aquela menina viu tudo e
buscou por ajuda, eles chamaram a polícia - falou apontando para o fim do corredor, na direção da saída - Thay contou ao primeiro policial que chegou aqui que os homens
tentaram pegar Ana, eu não vou conseguir tirar isso dos registros, você sabe que tem alguém lá dentro de olho em nós, em toda essa merda, não sabe?

- Sim, eu sei.

- Caleb Hass está por um triz de descobrir tudo, ele pode ter poucos homens com ele, mas o cara não é burro, ele vai descobrir onde elas estão e vai levar a menina de volta.

- Nós vamos ser mais rápidas que ele - Julia começou a andar de um lado para o outro - o que ela disse quando você ligou e pediu que viesse buscar Ana? - perguntou para Chloe.

- Disse que não era babá - revirou os olhos - disse que não ia ser delicada com ela.

- Se ela machucar Ana... Vitória irá matá-la - disse Julia.

- Vitória irá matá-la por vários motivos, machucando ou não Ana.

- Chloe - Julia fez uma pausa - não posso ver Vitoria naquele estado, ela precisa saber.

- Eu concordo.

- Você concorda? - Julia perguntou surpresa.
 
- Sim, vamos levar Vitória  até Ana, vamos levá-la até Jasmim se tem uma hora melhor para pegar Caleb é agora, quando ele começar a desconfiar que estamos na cola dele, será muito mais difícil e acredite, depois dessas três mortes e o sumiço de Ana ele vai saber - respirou fundo - os corpos já foram retirados, já está tudo finalizado por aqui, busque Vitória, vamos no meu carro, é melhor que ela deixe o dela aqui.

Não demoraria muito para o dia amanhecer e Julia já podia sentir o alívio em seu peito pela escuridão ir embora, onde quer que Ana estivesse, estaria bem e longe dos homens de Haas. Viu Chloe sumir pelo corredor e respirou fundo, colocando seus pés a andar até a sala em que sua amiga se encontrava. Finalmente podia
fazer o que prometeu por muito tempo, embora ainda fosse arriscado, Julia levaria Vitória até Jasmim e tiraria aquele peso de suas costas, estaria livre para pagar pelos
seus erros. Abriu a porta devagar e viu a amiga deitada no sofá, segurando com as duas mãos o óculos de Ana, seus olhos estavam fechados, mas o som de seu choro indicava que estava acordada, Vitória  pareceu não perceber que alguém entrara ali, Julia caminhou devagar e se abaixou, sentando-se no chão e deitando a cabeça próximo ao rosto de Vitória, alisou seu cabelo e vagarosamente tirou o óculos de suas mãos fazendo Vitória semicerrar os olhos, conseguiu enxergar neles toda a dor que a amiga sentia, a culpa por ter contribuído para essa dor nunca deixaria Julia dormir em paz.