Confiar

Luana

- Gab, se você encostar nesse aparelho de som mais uma vez eu juro que vou jogá-lo pela janela - Ana voltava para casa com G que estava impaciente mudando as estações de rádio a cada minuto.

- Eu não tenho culpa se não tem nada de bom nessas rádios - Ana semicerrou os olhos para a amiga - tudo bem, vou desligar.

- Você está ansiosa.

- Não estou.

- Está sim, eu te conheço G …

- Ok, estou um pouco sim… mas me diga, o que você vai fazer neste final de semana?

- Humm - respirei fundo e sorri - amanhã vou ter que ir trabalhar e espero depois disso ver Vitória - olhei para G - estamos namorando agora, é totalmente sério.

- Humm - Gabriela abriu a janela deixando um pouco de vento gelado entrar - eu não sei como vocês conseguiram sair das vistas de todos e transar, o amor realmente move
montanhas - Ana a olhou com uma cara surpresa, ainda não tinha contado para a amiga sobre a noite maravilhosa e a primeira vez com a namorada - o que foi? Você acha que eu não vi as marcas em seu corpo? Elas estavam praticamente atacando meus olhos de tão chamativas, eu não falei nada na hora pois você estava com febre, delirando e em outro
mundo e nós estávamos preocupadas em tirar a sua roupa e te jogar na água fria, mas acredito que minha cara de surpresa foi bem satisfatória pois senhorita Parris ficou com o rosto corado e eu fiquei mais surpresa ainda por descobrir que aquela mulher tem um pouco de vergonha na cara - suspirei - Essa Vitoria é uma selvagem. Ana riu alto estacionando o carro na frente da casa da amiga, G a abraçou forte antes de sair do carro e pegar suas malas.

- Depois me conte as novidades - disse Ana recebendo uma piscadela da amiga, sai com o carro e em trinta minutos estava em casa. Era o que eu mais ansiava.

Entrei  calmamente em casa, tudo estava no lugar, a casa estava em ordem e isso era um forte indício de que o amigo não pisava lá há dias, chequei  o celular e fiquei um
pouco decepcionada por não ter nenhuma mensagem de  Vitoria, não fazia muito tempo que nos duas tinha se despedido na faculdade, mas queria notícias, Julia não disse
exatamente o que aconteceu e isso me deixava apreensiva, odiava segredos, odiava ficar de fora das coisas, se algo aconteceu a Vitória tinha o direito de saber, fui direto para o quarto e entrei  no banho, ainda estava se recuperando da forte gripe e dor de
garganta, mas já me sentia forte, durante o banho pensei em tudo que Vitória contou, pensei em como poderia ter sido difícil para a Vitória passar por tudo aquilo sozinha,
ter uma família e perder tudo, imaginei eu perdendo minha irmã, perdendo Fee, como seria o mundo sem eles? Não conseguiria viver, como ela conseguiu? Sentia que meus
problemas do passado não eram nada perto do que Vitória viveu, estava na hora de acabar com os pesadelos e ser forte. Vitória merecia alguém forte por perto.
Céus, Agente Parris foi casada. Ela amou de verdade alguém, amou tanto que se casou. Eu só torcia para não precisar competir com um fantasma, pois se o fizesse já sabia que seria uma batalha perdida.

Sai do banho e me joguei na cama, mas antes que pudesse fechar os olhos e cair no sono meu celular tocou, era Vitória. Um sorriso singelo se formou no meu  rosto, a alegria de poder ouvir a voz dela inundava meu peito, atendi rapidamente,não queria ficar um minuto a mais sem ouvir aquela voz.

- Alô.

- Ana...

- Oi Vi - eu disse com uma voz manhosa.

- Chegou bem em casa?

- Sim… tudo bem por aí? -  ficou em silencio - Vi... se tiver que existir algum segredo entre nós, não vejo motivos para esse “nós” existir. Eu já tive um relacionamento construído a base de mentiras, mas a pior de todas foi quando ouvi que era para me proteger, peço que não faça isso, se está acontecendo alguma coisa, eu gostaria de saber, me deixe fazer parte de sua vida, por favor. É você quem pode decidir se quer que eu vá ou fique - joguei tudo de uma vez, era o que sentia, não queria que Vitória me deixasse de fora de sua vida, ainda mais agora que sabia um pouco sobre seu passado.