Oito

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Ele se sentou a minha frente, mantendo seu sorriso convencido.

—E todo aquele papo de o amor precisar surdo? — perguntou.

—Não tem nada haver com o amor. Quero ver se com você cantando minha mente se convence a desligar.— disse e ele revirou os olhos.

—Por que está nesse lugar?— ele perguntou e eu dei de ombros.

—Pisei na pata de um cachorro e ele não aceitou muito bem meu pedido de desculpas. E você? O que te torna um "Caso perdido"?— 

Seu silêncio deixava as coisas claras para mim, ali era o limite e tudo o que eu mais queria era ultrapassa-lo.

Eu me sentei e olhei para as paredes manchadas que cercavam o lugar.

—É melhor você ir.— ele disse se levantando.

—Estamos presos Ian, não faz diferença em que canto desse lugar ficamos, desde que fiquemos do lado de dentro. — ele nada disse, apenas caminhou para longe.

Eu não me importava com o fato de que iria ouvir mil e uma reclamações de Rose, também não ligava para o fato de que todo esse lugar soava como uma mentira.

Um cenário idiota de filme adolescente ruim. 

Qualquer coisa era melhor do que estar em casa debaixo de toda aquela superficialidade.

Levantei-me do chão e resolvi conhecer o lugar no qual passaria os próximos meses.

Porque raios eu tinha que fazer aniversário em novembro e ser presa em abril? Perguntei-me enquanto caminhava para fora do ginásio. O mundo era mesmo injusto, concluí olhando para o céu que não estava mais tão escuro quanto antes.

Logo que entrei novamente no saguão mal iluminado, vi Agustus apoiado em um pilar, próximo a escada. Ele caminhou na minha direção com um largo sorriso. O sorriso de alguém que queria algo.

—E aí cara?

—Cara? — ele perguntou arqueando uma sobrancelha. —Não importa, —ele disse mudando de assunto rapidamente — quero apenas te convidar para uma "festa".

—Festa é?— perguntei.

—Sim, você é novata, por isso não está sabendo, mas aparece lá. Aposto que vai gostar.— disse com um sorriso sedutor.

Por meio segundo acreditei que receberia mais informações.

—Você vai?— ele perguntou um tanto ansioso.

Uma festa de reformatório parecia uma ótima oportunidade de se morrer e acabar enterrada em um canto qualquer do Jardim lamacento.

—É. Talvez eu apareça por lá.— dei de ombros, tentando passar por ele, que me barrou.

Respirei fundo, e olhei para ele:

—O que foi? — perguntei.

—Nem um beijinho de boa noite? — perguntou.

Analisei seu rosto atentamente buscando algo que me dissesse que ele estava brincando, mas não havia nada.

Empurrei-o e passei por ele, que logo gritou:

—Tudo bem meu anjo, eu sou paciente.
  
                            ***

Sábados costumavam ser meu dia preferido de toda a semana, mas hoje ele me soava mais como uma segunda-feira, onde eu tinha de levantar cedo para ir a escola e enfrentar todas aquelas pessoas insuportáveis.

Vermelho é a cor da confusão! Onde histórias criam vida. Descubra agora