Cinquenta e dois

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Partidas, recomeços e fins.

Naquela mesma noite eu deixei o reformatório. Me arrastei para fora, tendo a mão pouco familiar de meu pai em meu ombro, ignorando a crescente sensação de ardência.

Sequer havia me dado ao trabalho de erguer os olhos para o quarto de Ian, por medo de vê-lo parado na porta, me vendo partir. Nem mesmo havia reagido ao sorriso de escárnio que Augustus lançou ao me ver cruzar o saguão carregando minhas malas.

Porque eu estava de luto. De luto pela parte de mim que havia morrido e por todos os dias que os McCarthy haviam perdido. E que ainda perderiam.

—Você está pronta? —meu pai perguntou jogando minhas coisas no banco de trás.

—Estou.

Meu pai não sabia lidar com sentimentos. Nem com os dele, sobre os quais havia descoberto recentemente, nem com os meus, e por isso, ele apenas deu dois tapinhas em meu ombro e abriu a porta para que eu entrasse.

—Dylan McCarthy era o garoto que não saía da cozinha sem algo na boca, não é? —meu pai perguntou, quando começamos a sair do estacionamento. —Cruzei com ele algumas vezes.

Eu ri.

—Sim. Marta adorava encher ele de comida e ele não se importava de agradar ela.

—Sabe, você ficou brigando esse tempo todo para no fim... Deixar como está? Você é uma O'Connor, aja como uma. —ordenou.

—O que eu posso fazer? Arrastar Dylan para fora da cama e obriga-lo a acordar? Sequestrar Ian antes do julgamento? Obrigar Sarah a confessar? —perguntei. —Tudo isso só ia piorar ainda mais a situação. Eu já estendi o sofrimento da mãe dele quando assumi a conta do hospital. Ela estava pronta para deixá-lo ir e eu impedi sem considerar se era isso que ele queria. Sem pensar no que Dylan faria se fosse o contrário. Eu só pensei em como eu estava com medo de vê-lo morrer, porque ele não merecia nada disso. Ele era um cara incrível, um pai melhor ainda e estava se apaixonando de novo! Aquele cara tinha planos, pai! E agora eu não posso fazer absolutamente nada por ele, além de deixar que as coisas aconteçam.

—E então o que, Alice? E se ele morrer? Se não acordar? Ou se o irmão dele for condenado?

Eu não sabia. Só tinha a certeza de que isso tudo causaria uma destruição em larga escala, como já estava causando. Será que Margot já havia se acostumado a ausência de Dylan? Será que ela havia visto ele nesse meio tempo?

Ela se lembraria de todas as vezes que ele a fez parar de chorar só pegando-a no colo? Ou então, das vezes em que ele escondia doces pela casa apenas para vê-la andar e rir? Ela se lembraria da voz desafinada dele cantando para acalma-la nos dias de chuva?

—Eu não tenho controle sobre isso. —sussurrei.

—E desde quando isso te impediu de tentar? —perguntou.

Desde agora.

***

Quando cheguei em casa Bryan me esperava saltitante no portão. Ele se agarrou a mim com tanta força, que solucei. Estava com tanta saudades do meu pequeno garoto e tão cansada de toda aquela bagunça que meus joelhos cederam.

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