Cinquenta e três

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Sobre as guerras que evitei

—Uau. Você cresceu muito! —apontei, incapaz de conter o sorriso.

—Eu sei. Papai vai dizer o mesmo. —disse dando gritinhos. —Vovó disse que finalmente vamos ver ele. —contou e enquanto meu sorriso vacilou, o dela se manteve largo e intacto.

—Ele certamente vai ficar muito feliz.

—Sim, mas a vovó não para de chorar. —ela coçou a cabeça, confusa. —Mas acho que ela vai ficar feliz depois, não é Alicee? —perguntou eu me encolhi. —Estou com tantaaaaa saudade do papai. —resmungou, fazendo um biquinho.

—Margot. —Lola gritou ofegante e eu me levantei.

—Desculpe, Sra. McCarthy! Margot acabou se distraindo comigo. —murmurei e ao me ver, seus olhos se encheram de lágrimas.

—Alice. —ela murmurou e dando alguns passos, jogou sobre mim, me envolvendo em um abraço apertado. —O-obrigada por tudo que fez. —soluçou.

—Eu sinto muito por interferir na sua decisão. —sussurrei. —Sinto muito por... Prolongar o sofrimento.

Ela chorou em meu ombro.

—Estou tão arrependida. —confessou. —Você vai vê-lo? Tenho certeza que ele ficaria radiante.

Tomei fôlego.

—Eu saio da cidade essa tarde, mas vou tentar. —menti e ela se afastou.

—Soube que o visitou algumas vezes e gostaria de agradecer por isso! —falou, tomando minhas mãos. —Nunca quis que ele se sentisse solitário, mas era tão difícil.

Passei meus dedos pelo rosto dela:

—Ele vai ficar bem. Eles vão. —garanti. —Ian é um cara incrível e...

—Tio Iannnnnn. —Margot repetiu rindo.

Acenando levemente, seus olhos recaíram para o relógio de Dylan que estava preso em seu pulso. Ele havia me dito que o irmão e Margot haviam comprado para ele e isso tornava muito difícil tirá-lo.

—Nós temos que ir, Alice. Não quero me atrasar. —ela murmurou e sorriu, tentando inutilmente conter as lágrimas.

Me abaixei diante de Margot e abrindo os braços, deixei que ela se jogasse contra mim, como costumava fazer antes.

—Seja uma garota fantástica, ok? Seja forte e corajosa e deixe o papai orgulhoso! —sussurrei.

—Acho que o papai vai estar dormindo de novo, mas se ele acordar vou dizer que você ainda é muito bonita, Aliiicee. —ela disse baixinho. —Vovó disse que vamos levar muitas flores. Você vai também, Aliicee?

—Vão? —perguntei, contendo o soluço. —Seu pai adora flores, não é? Vou me lembrar de mandar algumas, ok?

—Simmmmmm. —concordou, se afastando.

Lola pegou a mão dela e tentou sorrir para mim.

—Nós precisamos ir. —repetiu. —Obrigada por tudo, Alice!

Assenti e assisti enquanto elas se afastavam, esperando até que desaparecessem antes de desabar no chão, chorando.

Ali, eu estava perdendo Dylan McCarthy pela segunda ou terceira vez e conseguia ser pior, pois eu podia ver de um lugar privilegiado a forma como minha impulsividade e egoísmo podiam ser destrutivas.

—Dylan McCarthy, que adora torta de limão e que odeia usar meias. Que ama o mar sem sequer ter posto os pés nele. Que é o melhor pai de primeira viagem de todos os tempos e que sempre teve muita coragem e estupidez: a vida, o mundo, sua família e o resto das pessoas mereciam ter mais de você. —sussurrei. —Você merecia mais amor e mais tempo! Merecia muito mais que isso. Eu odeio que esteja acabando assim e preciso me desculpar, já que no fim, nossa relação e despedida não passam de guerras que evitei e pelas quais vou perder o sono durantes infinitas noites.

Apoiei a cabeça no joelho e continuei:

—Mas Dylan, por todas as vezes que balançamos, choramos, rimos, dormimos, jogamos e comemos juntos, eu sou absolutamente grata. E você estava certo, afinal: a gente só percebe que cresceu quando paramos de ter medo de chorar. Quando percebemos que certas batalhas não são nada além de perda de tempo e energia. —fechei os olhos. —E eu vou me arrepender, Dylan. Talvez por dois anos ou duas vidas, eu vou me arrepender de não levantar do chão e ir segurar sua mão pela última vez, mas entenda Dylan: eu prefiro passar uma tarde toda esperando te ver chegar ao invés de ir e te ver partir. Eu não estou pronta para te deixar ir. —solucei.

O universo esperou que eu tomasse coragem para crescer e então me deu algo real para perder. É verdade que só nos lembramos das grandes e significativas batalhas, aquelas impostas pela vida e intensificadas pela forma que escolhemos lidar com elas e Dylan tinha estado em cada uma das minhas. Naquelas que lutei com coragem ou estupidez, nas que chorei sem parar e nas que tentei desistir e, tudo, para no fim se tornar uma delas.

E talvez,l eu nunca me perdoasse por não dizer adeus pessoalmente. Assim como, provavelmente, nunca perdoaria o universo por roubar a chance de garotos inocentes de terem a vida magnífica que mereciam.

***

—Alice. —meu pai chamou, entrando no quarto apressado.

As malas abertas e quase prontas o fizeram parar:

—Combinamos que eu iria começar o treinamento na nova filial, se você tirasse Noah do reformatório. —expliquei, encolhendo os ombros. —Eu já fiz minha matrícula no curso de administração e entreguei toda a papelada no escritório. Espero começar rapidamente.

Antes eu diria que isso era o fim da linha, mas agora eu só conseguia pensar: “e se eu realmente gostar disso?”. E eu tentaria até decidir se era ou não para mim. Meu pai e todo o universo sabiam que eu jamais insistiria em algo que não me agradava, mas eu queria pelo menos tentar.

Porque é preciso correr e cair se quisermos nos encontrar, afinal, a coisa toda não vinha ao nosso encontro e eu havia esperado tempo o suficiente para ter certeza disso.

—M-mas... A advogada Callie acabou de dizer que o julgamento foi adiado e....

—Sim, eu sei. —murmurei, dedicando mais esforço que o necessário ao fechar as malas.

—Alice? —ele chamou confuso. —Ian pode... Não, ele vai ganhar o caso!

—Sim. —repeti. —Você não faz ideia do quanto estou torcendo por isso é só que... —eu puxei o ar e finalmente o encarei, as lágrimas embaçando minha visão — eu já perdi e é mais que o suficiente por uma vida.

Estrelinhas, estamos de volta ao jogo!
Peço perdão pelo atraso.
Estava morrendo de saudades de vocês e desse lugar.

Eu amo vocês!

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2022 ⏰

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