Capítulo III

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Eu ainda respirava com dificuldade quando acordei, sentia que tinha sido realmente estrangulado.

Levantei da cama e fui até o banheiro lavar o rosto.

O que tinha sido aquilo?

Eu geralmente via e interagia com aquele ser engravatado enquanto sonhava acordado, mas nunca em um sonho normal.

Comecei a me preocupar. Será que, de alguma forma, ele estava cada vez mais me dominando?

Tomei meu café da manhã e resolvi procurar novamente aquele padre, e contar em detalhes tudo o que realmente estava acontecendo.

Os sonhos acordados, a garota do ônibus, o sonho com a mulher que foi morta a 10 anos atrás, e todo o restante.

Peguei o ônibus, sentei próximo a janela, e ali encostei minha cabeça.

Enquanto estava ali pensativo, um senhor, maltrapilho e sujo, sentou ao meu lado. Pôs sua mão em meu ombro, perguntando se eu estava tendo uma semana difícil.

Olhei no fundo dos seus olhos, e vi que a preocupação dele parecia realmente sincera.

Com um sorriso tímido nos lábios, respondi que sim, mas que acreditava ser algo passageiro. Ele abriu então um sorriso largo, e passou sua mão em minha cabeça dizendo que eu precisava ter fé, logo tudo se resolveria.

Fazendo isso, levantou-se, o ônibus parou e abriu as portas, e ele desceu sem dizer mais nenhuma palavra.

Cheguei na igreja, mas o padre não estava ali hoje. Mesmo assim entrei e fiquei sentado. Fiquei pensando em todas as palavras de conforto que recebi, de todos os sonhos e pensamentos. E tirei uma conclusão: Medo.

O medo estava me consumindo cada vez mais.

E não era de hoje.

Sempre tive medo do futuro, de como seria minha vida, medo de perder as pessoas mais próximas, medo de ficar só. Fora os medos que apareceram recentemente: medo de me distrair por um longo tempo e acabar voltando para aquela caverna, medo de dormir e sonhar com aquele ser engravatado.

Me veio em mente, então, uma frase que minha mãe me falou quando eu ainda era uma pequena criança.

Eu sempre tive hidrofobia, medo de entrar na água. Toda vez que eu entrava em algum rio, mar ou piscina, e a água ficasse na altura do meu peito, me faltava ar. Isso me impediu, muitas vezes, de sair com amigos, de aproveitar uma praia.

Minha mãe me ensinou que eu precisava vencer meus medos, e pra isso acontecer, eu precisava enfrentá-los. Evitar os medos, só os deixavam mais fortes.

E essa foi minha decisão.

Eu vou enfrentar meu medo, vou caçar e encontrar aquele monstro. Vou detê-lo, custe o que custar.

Fui para o trabalho, mas quase não consegui me concentrar. Eu já tinha tantos pensamentos que me deixavam confuso, mas a ideia de enfrentar aquele ser engravatado tomava minha mente.

Voltei para casa, ainda com tudo isso em mente. Não encontrei a garota do ônibus, porém eu estava tão fissurado em encontrar uma maneira de deter aquele ser, que acabei nem me preocupando com isso no momento.

Resolvi arriscar.

Esperei a noite chegar e, sorrateiramente, fui entrando no bosque, agora me prevenindo que ninguém pudesse me impedir.

Andei sem rumo mata a dentro, focado em poder achar aquela clareira de qualquer jeito.

Se passaram algumas horas, e eu ainda não tinha encontrado nada. Resolvi parar para descansar, minhas pernas doíam, e os mosquitos me atacavam. Mas estava determinado em encontrar aquela clareira.

O Segredo do BosqueOnde histórias criam vida. Descubra agora