O Segredo do Bosque

Capítulo VI

Me acordei em uma cama de hospital. Ainda muito fraco, mal podia me mover.

Olhei para os lados, e ali sentado na cadeira do acompanhante, estava ele, o Padre.

O mesmo que entrou na caverna e me livrou da morte, que no início duvidou de mim, mas que, por fim, acabou acreditando e me salvando das mãos daqueles monstros.

Monstros que outrora acreditei que fossem meus "anjos", mas que no final se mostraram traidores e frios. Me usando para uma finalidade muito macabra.

O que acontecera com aqueles espíritos? E com a criança que ficara abandonada?

Enquanto eu pensava, percebi que o padre estava acordando. Ele, percebendo que eu tinha acordado, veio até o meu leito ver como eu estava. Eu disse que estava bem, porém fraco.

Tentei me sentar, mas ainda não tinha forças suficientes para me levantar.

O padre tentou me acalmar, dizendo que eu deveria repousar.

Ele se apresentou, pois nem seu nome eu sabia.

Seu nome era padre Miguel, ele atendia aquela igreja do centro da cidade pelo menos a quinze anos, e ele não tinha vivido algo como aquilo.

Perguntei para ele onde estava a criança desaparecida, e como ela estava.

Ele me respondeu que, naquela noite, ele me levou em seu ombro, e pediu para que a menina aguardasse que logo viria ajuda, pois ele já tinha comunicado a polícia. Porém quando a polícia chegou encontraram a caverna vazia, ainda com os seus móveis, mas não havia ninguém dentro, e nem nas redondezas da mesma.

Ela continua todos esses anos desaparecida.

Achei difícil de acreditar, como alguém conseguiria ficar tanto tempo desaparecida?
Novamente tentei me sentar, mas sem êxito. Não conseguia entender porque estava tão fraco.

Não era por menos, explicou o padre. Eu estava em coma por dez anos.

Fiquei sem entender como fiquei tanto tempo em coma, não era normal aquilo. Eu realmente deveria ter perdido muito sangue, o que poderia acarretar no máximo uma transfusão de sangue. Mas, um coma por tanto tempo? Aquilo não era possível.

Padre Miguel me disse que os médicos também ficaram sem entender, pois nunca tinham visto um caso como o meu.

Ele me explicou que o que mais assustou os médicos, foi que meu coma não era um coma normal, eu simplesmente dormia profundamente.

Mas com a minha recuperação repentina, o que eu mais queria aconteceu: Finalmente recebi alta.

Arrumei minhas coisas e voltei para a minha casa, a mesma que havia deixado para trás havia dez anos.

Tudo estava no mesmo lugar que deixei, meus desenhos, meus livros, a cama bagunçada, somente tinha muita poeira espalhada pela casa toda.

Eu acreditava que o meu jardim estaria totalmente invadido pelo mato quando voltasse para lá, mas o padre disse que se prontificou em cuidar do mesmo enquanto eu estava em coma. Porque, segundo ele, era um jardim muito belo para deixar se perder.

Depois de ter colocado a casa toda e ordem, e ter limpado tudo, finalmente fui me despedir do padre.

Ele me disse então que se eu precisasse, saberia onde encontrá-lo, e que, com toda certeza, aquilo não era um adeus.

Arrumei os últimos detalhes que tinham para ser arrumados na minha casa, e resolvi verificar algumas coisas do meu antigo trabalho.

Passei, praticamente, a tarde toda fora de casa, mas antes de escurecer, resolvi ir aquela igreja localizada na região central da minha cidade, onde conheci padre Miguel.