Fui dormir naquela noite desconfiado, algo naquele sonho não estava certo, quem era a garota? E o que estava fazendo?
Meu medo era que tudo aquilo fosse apenas minha cabeça criando ideias, afinal passei por tantas coisas, e fiquei tantos anos dormindo. Não me impressionaria que minha cabeça tentasse compensar todo tempo que passei em coma, e toda dor que passei, me fazendo sonhar daquela forma. Mas algo lá no fundo, dizia que alguma coisa estaria para acontecer.
E realmente aconteceu.Fui deitar já tarde da noite, bem cansado da correria do dia todo, queria apenas me deitar e finalmente descansar. Foi somente eu me deitar na cama, que desabei em sono.
Contudo, assim que dormi, comecei a sonhar, e um sonho que não esqueceria jamais:
Me vi do lado de minha mãe, ela acamada, sem poder andar, sentindo muitas dores. Meu pai do seu lado, acariciando-a, tentando acalmá-la, dizendo para ela e para si mesmo que aquilo ali seria passageiro, que os dois logo poderiam passear abraçados como sempre faziam.
Porém, surgiu uma sombra negra do lado do meu pai, tinha formato humano, mas sem definição. Aquela sombra se aproximou do rosto da minha mãe, acariciava o seu rosto e, toda vez que fazia isso, minha mãe gritava cada vez mais de dor. Até que ela, aparentemente, olhou nos olhos daquela sombra, e deu seu último suspiro.
Fiquei em choque, eu queria fazer algo, dizer algo, gritar. Mas eu estava como um expectador, não conseguia me mover, nem interagir.
Supliquei do fundo do meu coração que alguém me tirasse dali.
Todavia, a imagem mudou, agora podia ver meu pai na cozinha, chorando, com a barba mal feita, tomando seus antidepressivos. Ele, algumas vezes, cerrava as suas mãos, dando murros na mesa.
Parecia que ele se culpava pela morte da minha mãe.
Novamente, vi aquela sombra surgir ao lado dele. Ela ia de um lado para o outro dele, parecendo cochichar ao seu ouvido. E com certeza não era coisa boa.
Meu pai com último murro na mesa, saiu de casa, foi até a oficina dele que ficava no fim do quintal, pegou uma corda, fez um laço e jogou no chão.
Voltou a cozinha, apanhou uma cadeira e voltou para fora.
Meu cachorro vendo ele no terreno foi a toda pra cima dele querendo brincar, mas meu pai apenas enxotou ele com um chute, coisa que nunca tinha feito. Pois os dois eram muito amigos, meu pai era muito apegado aquele cão, nunca conseguiria imaginar meu pai fazendo isso.
Com a cadeira ainda em mãos, ele pegou a corda no chão, e foi até atrás da oficina. Ele colocou a cadeira no chão, e ficou parado por alguns instantes olhando para ela, realmente parecia que ele queria desistir.
Mas a sombra novamente apareceu, foi ao ouvido dele, parecia incentivá-lo a fazer isso. Eu não conseguia ouvir nenhuma palavra, mas meu pai apenas balançava a cabeça para cima e para baixo em sinal de aprovação.
Então ele subiu na cadeira, jogou a corda por cima da madeira que sustentava o telhado da oficina, amarrou-a, e passou o laço pelo seu pescoço.
A sombra foi até os seus pés, acariciou o rosto dele, corriam lágrimas do rosto do meu pai. Mas eu não aguentaria ver essa cena. Supliquei novamente para sair dali.
A sombra continuou acariciando, até que, com um chute derrubou a cadeira.
No mesmo instante eu fechei meus olhos bem forte, embora eu não visse, eu podia ouvir meu pai sufocando, e agonizando naquela corda.
Por fim, pude ouvir uma voz na minha cabeça, uma voz nada conhecida. Parecia que eram duas vozes, uma masculina e outra feminina, que falavam uníssonos:
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O Segredo do Bosque
Gizem / GerilimQuando criança, ouvimos várias histórias que nos assustam e assombram. Eu já ouvi milhares, e contei muitas outras. Mas essa é a primeira vez que uma vem atrás de mim. Anjos e Demônios nos rodeiam, cabe a nós descobrir quem estará ou não ao nosso la...