O Segredo do Bosque

Capítulo II

Acordei assustado, ouvi algo como alguém correndo no terreno de casa.

Meu terreno é coberto de britas, então é fácil ouvir quando alguém anda ou corre por ele. E eu tinha certeza que havia alguém correndo.

Esperei que os passos na brita terminassem, para que eu pudesse olhar o que ou quem estivesse andando ao redor de casa. Mas assim que terminou os passos, ouvi como se alguém estivesse arranhando a porta de casa. No primeiro instante achei que poderia ser o meu cachorro que estivesse querendo entrar, mas, quando sai do meu quarto para ver, percebi que os sons vinham mais ou menos na altura do meio da porta. Definitivamente não era o meu cachorro, e se fosse um cachorro, pequeno com certeza ele não seria.

Não sabia o que fazer, eu poderia voltar pra cama e fingir que nada disso estava acontecendo, mas como iria fingir isso? Se nem dormir eu conseguiria.

Mas abrir a porta estava totalmente fora de cogitação, eu assisto filmes de terror, e com certeza a pessoa abriria a porta e acabaria morrendo, e morrer não estava entre meus objetivos atuais.

Então fiquei ali, paralisado, sem saber o que fazer, para onde ir. Pensei em ligar para a polícia, mas o que eu explicaria? "Algo está arranhando minha porta, mande uma viatura imediatamente!" Com certeza eles mandariam uma viatura, mas não da polícia, provavelmente mandariam uma ambulância e me levariam para um hospício.

Depois de um longo tempo de espera, resolvi agir, aquilo estava determinado a não parar, e fazer da minha vida um inferno. Fui até a porta e gritei: "Quem está aí?"

Eu sei, eu sei. Falei tanto antes sobre não fazer como nos filmes de terror, e na hora mais crucial, faço igualzinho. Mas entendo o lado deles, nessas horas a gente não tem muita criatividade para gritar para algo ou alguém que não sabemos o que é.

Enfim, logo depois que gritei irracionalmente perguntando quem era, apenas ouvi uma risadinha infantil atrás da porta, e alguém saindo correndo pela brita em direção ao portão de casa, passando como um vulto na frente da janela de casa.

Claro que, como qualquer homem responsável, que preza pela sua casa, eu não tinha outra escolha: Voltei a cama e tentei dormir.

Como era de se esperar, não preguei os olhos em nenhum instante nessa noite, eu não tinha como não imaginar o que seria, pois aquela risada era idêntica ao da menina na outra noite.

Logo cedo resolvi sair, fui procurar ajuda. Resolvi ouvir aquele padre, vai que ele estava certo, e é apenas loucura. Afinal, todo mundo tem a sensação de estar enlouquecendo hoje em dia, não é? Talvez seja apenas estresse excessivo mesmo, tudo o que passei com os meus pais, a mudança de rotina repentina depois que perdi eles. Não foi nada fácil.

E eu preferia acreditar que estaria louco do que acreditar que algo ou alguém estava naquele bosque, e que estava atrás de mim.

Pesquisei o endereço de algum psicólogo no meu celular, na região do centro, queria que fosse o mais distante possível de casa.

Fui até o local do consultório, porém só atendiam com hora marcada, expliquei minha situação, para a atendente mesmo, disse tudo o que passei, o que vi e ouvi. Ela resolveu conversar com o psicólogo, ver o que ele achava e se teria como me encaixar no atendimento. Foi até o consultório, ficou alguns instantes lá dentro e logo depois saiu, pedindo para que eu sentasse e aguardasse, que o doutor iria me atender.

Fiquei feliz por conseguir atendimento, porém ao mesmo tempo ansioso pelo o que ele poderia falar.

Ao entrar no consultório, já fui recebido com um "O que você tem?", nesse momento já vi que a conversa seria bem longa, pois se soubesse o que eu "tenho" não teria ido até ali. Pois bem, deixei para lá, e resolvi desabafar, contei toda a minha história, e enquanto falava, ele fazia algumas anotações. No meu íntimo, tentava imaginar o que ele estaria escrevendo, será que fazendo algum laudo, ou anotando detalhes importantes que eu não tinha notado? Enfim, assim que terminei de falar, a sala ficou em silêncio, ele ainda fazia anotações, e eu cada vez mais ansioso sobre a opinião dele sobre tudo.