Talking to the moon

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CAMILLE

~Como vai ser?

~O quê?

~Você vai voltar para Miami em novembro?

~Não tenho certeza, não sei se quero isso.

~Prece pouco confiante em sua decisão, aconteceu algo?

~Não, sabe, eu devia te agradecer. Obrigada.

~Não sabe quanto tempo eu esperei para ouvir isso.

~Bobo, te vendo em novembro?

~Sim, já vou vendo um apartamento para você.

~Conhece bem meus gostos.

~Passei muito tempo com você.

Já faz três anos... uma lembrança em cima da outra, estamos em agosto e eu estou arrumando uma mala para ir ver minha mãe, não quero que Laura vá comigo porque preciso de um tempo longe de tudo, depois passo em Nova Iorque e encontro Steven ele disse que teria um desfile da Hugo Boss e que os organizadores queriam minha presença então acho que vou passar bastante tempo fora.

Meu aniversário... depois de um tempo isso se torna apenas números e meus 23 não vão mudar muita coisa na minha vida... vamos ver, carregador, camisetas, camisas, blusas, calças...

— Nem pense que você vai para Filadélfia sem mim. — escutou Laura atrás de mim.

— Já pensei e já estou de saída. — fecho a mala e sigo para a cozinha e ela vem atrás de mim.

— Camille, eu não vou te deixar viajar sozinha, sabe o tamanho do medo que eu tenho de você não retornar? — a olho séria e entreguei um copo de água a ela.

— Sei, você veio me dar um beijo e se despedir? — isso foi o suficiente para eu ver ela brava.

— Até hoje você não me disse o porquê vai para a Filadélfia. — pego o copo da mão dela e bebo um pouco.

— Visitar o túmulo da minha mãe é o suficiente para você? Eu preciso de um tempo para mim, todo ano que volto para casa eu volto sozinha, antes eu voltava com meu irmão, mas ele seguiu outro caminho. — deixo o copo na pia e ela suspira ainda mais brava.

— Você fala tanto do seu irmão e sempre fala com um tom de medo, por quê? — ela percebe minha insegurança e acaba mudando de assunto.

— Tá, outra hora nós conversamos sobre isso, tem mesmo como eu te impedir ou ir com você, então. — ela fica na ponta do pé e me beija.

— Volta logo. — olho o sorriso no rosto dela e me abaixo a beijando e a abraçando.

— Amo você. — digo antes de soltá-la.

— Também te amo, grossa. — sorrio com a brincadeira e sigo para o quarto pegando minha mala.

— Feliz aniversário, Camille. — ela me entrega uma caixinha e eu agradeço colocando na minha mochila.

— Abro no avião, já está quase na hora de eu ir Obrigada. — ela sorri e me beija mais uma vez antes de eu sair. 

Com o avião já estabilizado, as luzes já diminuídas para as pessoas poderem dormir, eu relaxei e decidi abrir o presente de Laura, eu fiquei encarando ele por alguns segundos antes abri-lo, ela me deu um pulseira com um pingente de leão e um de raposa, sorri com presente e o coloquei pensando nela e na conversa que tivemos quando começamos a ficar.

...

~Seu olhar me lembra o olhar de um leão.

~Você me lembra uma raposa.

...

Ela me faz tão feliz, quando comecei a me apaixonar por ela? Ela me mudou, pensei que alguém tão pessimista como eu não podia ver um mudo otimista como o que ela me mostrou.

— Desculpe atrapalhar seus devaneios, desculpe mesmo, mas posso te perguntar uma coisa? — olho para o lado e vejo uma garota de uns quinze anos chamando minha atenção.

— Acabou de perguntar. — digo grossa como sempre.

— Eu sou do time de basquete da minha escola, poderia me dar algumas dicas? — me surpreendo com a pergunta da garota.

— Não está pirando por estar sentada ao meu lado? — pergunto e ela sorri.

— Talvez um pouco, tenho uma boa sorte. Não vou te perguntar sobre sua carreira, seu passado, sua vida atual, nada disso. Só quero ajuda para jogar melhor. — sorrio com a resposta dela e decidi dar algumas dicas.

— Quer ir para WNBA também? — perguntei após várias dicas e várias outras coisas.

— Não, eu jogo por sua causa, mas não quero seguir como você, sempre quis ser médica. — aquela garota tornou minha viagem um pouco melhor.

— Minha mãe era enfermeira, foi assim que ela conheceu meu pai. — ela sorri e então o piloto avisa que chegamos e estávamos prestes a pousar.

— Hey você é aqui da Filadélfia por que estava na Califórnia? — ajusto minha poltrona junto a ela e respondo uma última pergunta.

— Eu moro na Califórnia agora, mas vou me mudar para Miami em novembro, vou voltar a ser perseguida por fãs. — brinco e ela ri.

— Bom, espero que possamos nos encontrar mais uma vez. — digo vendo que ela vai para um lado do aeroporto e eu do outro.

— Feliz aniversário Hunter! — grita ela já longe.

Sai do aeroporto e fui para meu hotel, dois dias aqui é o suficiente, voltar aqui me traz péssimas lembranças e o medo de achar meu irmão vagando por aqui com aquela cara que me lembra o pai.

Após estabelecer eu peguei um táxi e fui até o cemitério, andei por túmulos e túmulos até achar o de minha mãe, embaixo de uma grande árvore que fazia uma enorme sobra eu me sentei de frente para o túmulo.

— Oi mãe, acho que se você estivesse aqui estaria orgulhosa de mim. Vou voltar para Miami e vou voltar para às quadras como sempre quis, tenho uma namorada que amo muito e sempre falo de você para ela, o quanto você me amava e acreditava em mim. Lembro quando te levei assistir meu primeiro jogo profissional, você gritava a cada cesta e ficava brava toda vez que roubavam a bola de mim, foi um jogo bem tenso. — sinto a brisa bater no meu rosto e me lembro do cheiro de café que só minha mãe sabia fazer.

— Queria poder ter te levado no meu segundo jogo... queria que você pudesse estar aqui, que você pudesse me olhar com aqueles olhos verdes e dizer o quanto me amava. Você disse para eu não ter raiva do papai, mas como não vou ter ódio do homem que matou minha mãe e ainda teve coragem de dizer que você reagiu a um assalto? Meu irmão, mãe, aquele garoto que você fez prometer que iria cuidar de mim, aquele homem que disse que iria fazer medicina para ser um médico que salvaria pessoas, me estuprou. — enxugo algumas lágrimas e sinto novamente a brisa, mas dessa vez mais forte.

— E eu nunca vou poder contar isso olhando para você, porque você não está aqui! — a brisa se torna um vento forte e eu me levanto.

— Está brava comigo? Está pedindo para eu me acalmar? Eu não vou me acalmar, não vou passar mais um ano sem dizer o quanto te amei, o quanto me arrependo de não ter feito nada naquele dia que o pai colocou o dedo na minha cara e disse que me mataria se algum dia eu sonhava em ir embora. Eu amei muito você mãe, porque você foi a única que sempre acreditou em mim. — me ajoelho e limpo minhas lágrimas que eu já não conseguia controlar.

— Quando ganhei a camiseta 01 Hunter, você me perguntou porque o Hunter e não o Kell, os dois sobrenomes são seus, mas quando eu era criança você disse que eu era caçadora de sonhos e desejos. Por isso o Hunter, porque eu sempre vou caçar o sonho de ter uma vida calma ao lado de quem amo e o desejo de te ver sorrir novamente. — o vento se acalma e se transforma em uma brisa fraca como antes.

— Eu tenho que ir, tenho um voo para Nova Iorque amanhã. — digo me levanto e arrumando as flores que eu havia encomendado a dois dias, especialmente para hoje.

— Feliz aniversário, para mim. — digo olhando fixamente para a lápide e sentindo como se minha mãe estivesse sentada ali me olhando com aqueles olhos esverdeados e sorrindo por estar feliz de me ver novamente depois de tanto tempo longe.

I Depois do último jogo (português BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora