Dois

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SALUTTTT, MON PETITS

Joyce

Eu nunca fui daquele tipo de gente reclamona ou que não consegue ver o lado bom das coisas, pelo contrário, desde pequena aprendi que devemos fazer o melhor com o que nos foi dado, mesmo que o que nos foi dado seja quase nada

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Eu nunca fui daquele tipo de gente reclamona ou que não consegue ver o lado bom das coisas, pelo contrário, desde pequena aprendi que devemos fazer o melhor com o que nos foi dado, mesmo que o que nos foi dado seja quase nada. Mas imagine como é ser a única menina em uma família de cinco irmãos, onde eu era o número quatro? Imaginou? Pois bem, foi um pouquinho pior que isso.

Enquanto crescia não tinha muitas amigas na escola, mas também nem tentava fazer muitas amizades, era uma solitária convicta, exceto pela presença constante de Adiany, minha fiel companheira durante o ensino fundamental e médio, mesmo que ela fosse dois anos mais nova que eu, nossa amizade começou antes das espinhas surgirem, logo a idade pouco importava. Enquanto eu era tímida e quieta, ela sempre foi o que se pode chamar de a alegria da festa, dois opostos que se atraíam de uma forma única. Então, quando decidi que iria cursar Medicina em Mossoró ao invés de ficar em São Felipe, nossa cidade natal, ela não fez cara feia ou reclamou, longe disso, fez questão de organizar a melhor festa de bota-fora que aquele lugarzinho minúsculo no interior do Rio Grande do Norte já viu.

Foram muitos anos longe da família, falando com meus pais uma ou duas vezes por mês apenas, toda economia era bem-vinda na minha tentativa de que minhas despesas lhes custasse o mínimo possível. Tinha um plano montado na minha mente desde sempre: seria a próxima médica formada saída daquela cidade, já que o último foi anos antes de eu nascer. Durante a faculdade não deixei que nada atrapalhasse o meu futuro, nada de namorados, baladas ou o que quer que viesse distrair minha cabeça.

Agora aqui estou eu, doze anos depois, trabalhando em um dos maiores hospitais do estado, na cidade de Mossoró. Sou uma dos três cirurgiões gerais do IETM (Instituto de Emergência e Traumas de Mossoró). E foi em meio a um plantão frenético que o vi pela primeira vez.

Estava no meu horário de descanso quando o telefone do quarto reservado para médicos tocou. Não pensei sei duas vezes antes de correr escada acima para me deparar com o único sobrevivente de uma colisão frontal entre dois carros. Seu corpo estava inerte na maca enquanto os socorristas do SAMU o levavam direto para a sala de cirurgia. A mão do rapaz estendida para fora da maca era como se estivesse pedindo ajuda e isso me fez sair do transe e entrar em movimento, indo me preparar para aquela que seria uma das mais difíceis cirurgias que já realizei como cirurgiã.

Não perguntei o nome dele ao entrar na sala de cirurgia depois de colocar a vestimenta cirúrgica e luvas, apenas parti para o trabalho, como acontece na maioria das vezes, deixando o mundo exterior fora da sala.

— Qual o quadro atual? — perguntei a Marion, enfermeira-chefe.

— Homem adulto, entre vinte oito e trinta anos, trauma torácico causado por impacto — respondeu tão concentrada quanto o restante da equipe que trabalhavam no pré-diagnóstico antes de concluirmos se uma cirurgia se fazia necessária.

— Batimentos caindo! — A voz de Airton, anestesista de plantão, me fez olhar para longe de Marion.

— Nós tamo perdendo ele. — Minhas mãos entraram em movimento antes mesmo que desse a ordem e comecei a massagem cardíaca, contando mentalmente: um, dois, três, enquanto forçava minhas mãos no seu tórax para tentar assim fazer seu coração voltar a bater. Olhei para o monitor e a linha continuava sem alteração e o grito agudo que a máquina fazia me levou de volta ao movimento de pressão. — Desfibrilador em 200 Joules! — comandei a ninguém particularmente, minha cabeça estava focada no paciente que continuava inerte na mesa.

Nunca havia estado tão perto de perder alguém na minha mesa de cirurgia e não poderia deixar que fosse ele. Em meio ao frenético ritmo das minhas mãos e a tentativa de ressuscitá-lo pelo eletrochoque, olhei pela primeira vez suas feições e dentro de mim veio a desolação por ver alguém tão jovem à beira da morte e não conseguir fazer nada para mudar a situação. A enormidade de tudo aquilo me atingiu como um raio, não era justo que ele morresse sem uma luta, se ele não tinha condições de lutar por si mesmo não importava, eu faria isso. Todos os meus anos de reclusão e estudos deveriam ter me preparado para isso não, é mesmo? Nem um pouco, mas não iria desistir.

— NÃO SE ATREVA A MORRER, EU NÃO PERMITO! — gritei em um determinado momento, não sabendo dizer se o fiz momentos antes ou não.

Foi então que seus olhos, antes abertos e sem vida, focaram nos meus, o branco anterior dando lugar a um marrom intenso e não pude respirar por dois segundos inteiros antes deles perderem o foco novamente ao mesmo tempo que o monitor avisava que o tínhamos trazido de volta. Só não sabia por quanto tempo.

CONTINUAAAAAAAAAAAAAAAA....

EM BREVE!

Minha cura♥ }☘{♥ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora