Entre a luz e a sombra - part.1

Capitulo 2 - O monstro da rotina

Na manhã seguinte aos acontecimentos, o despertador tocou as 7 horas da manhã, com um sino insistente e irritante, que obrigou Roberto a acordoar com a cara de uma noite mal dormida e o humor de um domingo chuvoso. A jovem Carla, já não estava mais na cama. Ele ainda não entendia exatamente com o que ela trabalhava, tudo aconteceu tão rápido, o primeiro encontro no velho continente, de retorno ao Brasil, pouquíssimo tempo depois do reencontro, já começaram a morar juntos, tudo foi estranhamente muito rápido. Desperto de seus devaneios, tomou a atitude de se levantar, como toda manhã, fazia uma promessa vazia de que naquele dia, ele iria incorporar o alongamento a sua rotina, mas acabava deixando de lado, por sua extrema dificuldade de manter o foco e a disciplina em seus hábitos. Passou do quarto direto para a cozinha, pegou uma velha chaleira enegrecida, por culpa de seus esquecimentos e colocou um tanto de água para esquentar. Se direcionou ao banheiro se lembrando do ocorrido na noite anterior, mas desta vez, com a impressão de que tudo não passara de um sonho. No banho, enquanto a água morna escorria por seu 1,80m de corpo esguio e atlético, ele massageava seu coro cabeludo, novamente perdido em pensamentos, em como ele era insatisfeito e ao mesmo tempo passivo com a vida que tinha e o modo que a levava, em seu anseio por mudança, quando o assovio da chaleira o trouxe a realidade.
Já na rua, de sapato social preto, calça jeans e camisa polo rosa, com as mangas curtas, que faziam pressão em seu bíceps, saiu correndo em direção ao ponto de ônibus, novamente atrasado. Ele acreditava que além da economia em não usar seu carro para ir trabalhar, ele estaria contribuindo com a natureza, diminuindo a emissão de CO2.
Quando ele finalmente chegou no grande edifício espelhado de cor azul marinho, o seu estado era deplorável, todo suado, com os cabelos completamente bagunçados e grandes olheiras. A empresa de comércio exterior na qual ele trabalha, ficava na cidade portuária, vizinha a sua. Era o edifício mais alto e mais moderno da cidade, onde as empresas mais poderosas da área de comércio exterior, tinham seus escritórios.
Depois de ouvir em silêncio, no elevador, algumas piadinhas sem graça, de seus colegas de trabalho, se dirigiu à ala esquerda da recepção, onde se encontrava um complexo de semi baias, feitas de PVC branco, mas já amareladas pelo tempo. Cada baia isolava uma área de trabalho, com computador, folhas A4, bloco de notas, canetas e outros apetrechos de escritório. Fazia muito calor no exterior do prédio, era o verão mais quente de todos os tempos, diziam os noticiários e aquele dia, fazia parte do pacote de dias em que não tinha uma nuvem no céu e pouco vento pra refrescar, mas dentro do escritório o ar era refrescante e agradável, com o metabolismo acelerado, Roberto suava com o mínimo indício de calor e por mais que houvesse essa discrepância de temperatura entre o exterior e o interior, seus olhos não saiam da janela. Em seus pensamentos, ele se sentia como um animal em cativeiro, um passarinho que entrou por conta própria dentro da gaiola e agora não sabia mais como sair. Quando chegou a hora do almoço, ele foi comer sozinho, como de costume, tinha uma dificuldade imensa de se socializar e também não fazia muita questão, pois os poucos amigos que tinha, eram verdadeiros, segundo o que acreditava. Voltando do restaurante, ele avista um de seus amigos, parado na calçada, alheio a multidão de gente que caminhava em todas as direções. Este velho amigo vestia um casaco marrom velho, que lembrava uniforme escolar, uma calça jeans surrada e um tênis de esporte desgastado. De costas, Roberto conseguia ver parte de seu rosto, de aparência cansada, pele queimada do sol, barba e cabelos grisalhos e olhos perdidos no horizonte. Apesar da aparência mal cuidada, o que não era hábito do velho amigo, havia um outro detalhe que perturbou o jovem de 30 anos, com o coração saltitando em seu peito, ele se deu conta que este velho amigo, na verdade, já havia falecido a dois anos...