Capitulo 5 - O reflexo da mente.

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A manhã passou tranquila, sem problemas com tramites de carga, sem problema interpessoal com os colegas de trabalho, assim como foi a tarde. Era mais um dia de céu azul e clima quente, a meteorologia não anunciava previsão de chuva para aquela data e o horário de verão ainda imperava. Quando Roberto saiu do trabalho ainda era dia, os acontecimentos da noite não o haviam perturbado até então, era como se sua mente tivesse desligado e ele estivesse agindo no piloto automática, o que ele provava naquele momento, era uma certa sensação de paz, de tranquilidade, as pessoas não agiam como animais, uma leve brisa agradável tocava o seu rosto, as árvores, repletas de pássaros cantando. Ao subir no ônibus em direção a sua casa, pouco a pouco, as lembranças da noite anterior vieram em sua mente e uma leve tristeza começou a tomar o seu coração, ele não sabia explicar ao certo o porquê, mas a ideia de voltar pra casa, não o alegrava.
Ao chegar em casa, um silêncio pairava no imóvel, um odor de café velho, vindo da cafeteira, que somente Carla usava, tomava conta do ambiente. Logo que fechou a porta, foi para a cozinha desligar a cafeteira que provavelmente, deveria estar ligada o dia inteiro. Atravessou a sala e foi até a sacada, que era em formato de "L", no qual passava pelas janelas do seu quarto, do quarto de hóspedes, da pequena janela do banheiro, acabando na janela da cozinha, que dava para um tanque de lavar roupas, feito de plástico branco, esta parte era coberta por um toldo, sobe três ligas de ferro presas a sacada. Carla estava sentada, contra a parede do quarto de hóspedes, ainda com roupa de dormir, uma caneca de café, um cigarro aceso, algumas bitucas num cinzeiro improvisado feito com uma latinha de alumínio cortada, e o seu note
book no colo. Ela não levantou o rosto, mesmo sentindo a presença de Roberto.
- E aí, como é que você está? - Disse Roberto se sentando, encostado ao muro oposto ao de Carla. A mureta da sacada media por volta de um metro.
-Tô bem.- Respondeu Carla sem tirar os olhos do note book.
- Você não quer conversar sobre ontem? - Disse ele, levantando os joelhos na altura do peito e com os cotovelos apoiados sobre as rótulas.
-Não. - Ela respondeu de maneira seca, puxando mais um trago do cigarro e sem tirar os olhos da tela.
- Olha, a gente precisa conversar, não dá mais do jeito que tá, eu te amo, mas desta forma não está sendo bom, nem pra mim e nem pra você.
- Então me manda embora.
- Caramba Carla, tu não está dando a mínima pro que eu to falando. Eu não quero que você vá embora, eu quero que você fique, eu quero que a gente fique bem, que a gente se acerte, que a gente volte a ser feliz.
-Então para de encher o meu saco e querer me controlar.
Roberto ficou paralisado, perplexo com o que acabara de ouvir. Ficou alguns segundos sem saber como reagir.
-Eu estava bem onde eu morava, tinha a minha bolsa de pós doc, estava perto da natureza, eu estava feliz.
-Como? Carla, era você que queria sair da casa do teu ex, eu te trouxe pra cá pra te ajudar, assim tu ficaria mais perto das tuas pesquisas, além de estarmos juntos. Você mudou muito desde que fomos buscar os restos das tuas coisas naquela casa. E como assim, "tinha a bolsa"?
- Eu não tenho mais. - Ela respondeu com pesar.
- Tá tudo bem... -Ele respondeu respirando fundo e coçando a testa e os cabelos. - A gente pode conseguir um emprego pra você, até você terminar a tua tese do doutorado.
-Não dá, eu tenho que me concentrar 100%  nisto, pra conseguir terminar e um trabalho vai ocupar muito do meu tempo. - Ela respondeu agora olhando para ele.
- Tá ok... Eu acho que eu consigo bancar nós dois, até você terminar isto. Tu acha que demora muito? - Disse ele se levantando.
- Acho que em dois ou três meses eu termino, mas não me pressiona. Tu vai la dentro? Pega mais café pra mim, por favor?- Ela disse estendendo a xícara para ele com um sorriso sem mostrar os dentes. Neste momento, ele viu na tela do computador, diversas abas de conversas no Facebook, além de joguinhos infantis.
Ele aquiesceu, pegou a xícara em silêncio e foi até a cozinha, colocou a xícara em cima da mesa de mármore, preparou o café na cafeteira e foi ao banheiro. Quando estava lavando as mãos, sentiu como se alguém estivesse passando por de trás dele e apoiando a mão direita em sua cintura, deslocando-o, como se alguém estivesse pedindo licença.  O frio na espinha e as pernas bambas, foram reações imediatas. Pálido, ele abriu a porta do banheiro lentamente, foi até a cozinha e na entrada, viu com seus próprios olhos a xícara deslizar lentamente até se espatifar no chão.
Imediatamente Carla gritou lá de fora:
- O que foi isto?
Roberto, com os olhos saltando das órbitas, respondeu:
- Nada não... Olha só, o que você acha de comermos fora hoje?
-Oba, vamos, eu só preciso tomar banho.- Carla respondeu entusiasmada.
Roberto limpou em silêncio, sem comentar nada sobre o assunto.

Entre a luz e a sombra - part.1Onde histórias criam vida. Descubra agora