Capitulo 4 - O limite da paciência

11 0 0
                                    


Eram quatro da manhã, quando Roberto ouviu o interfone tocar, atônito, foi correndo atender e do outro lado ouviu uma voz trêmula e arrastada:
-Não to conseguindo abrir, abre pra mim, vem me buscar.
Roberto desceu as pressas, saltando os degraus da escada, para chegar no pequeno hall de entrada do edifício e encontrar Carla, sentada no lado de fora, com a cabeça encostada na porta de vidro de tom marrom, segurando os joelhos contra o peito.
Inconscientemente, Roberto diminuiu o ritmo de sua passada em direção a porta, não acreditando na cena que estava presenciando. Era madrugada de segunda para terça, ele teria que acordar daqui a três horas para ir trabalhar, ela supostamente deveria fazer o mesmo. Ao abrir a porta de vidro, Carla levantou a cabeça lentamente, com o rosto inchado e vermelho, assim como seus olhos devido ao choro:
-Eu não to bem, me leva pra casa. - Disse Carla aos prantos.
Tomado de compaixão, Roberto, aflito e com os olhos já marejados, se agachou para que pudesse colocar sobre o seu ombro, passando em seu pescoço, o braço esquerdo da jovem, que estava sentada no canto entre a parede e a porta. Quando ele a levantou e a trouxe para perto de seu corpo, pode sentir o forte cheiro de álcool e cigarro. Assim que ele a arrastou para dentro e fechou a porta de vidro, a jovem tocou a parede branca com a palma da mão direita e um líquido pastoso jorrou de sua boca, lembrando muito o filme "O exorcista" de 1972. O líquido se estendeu por mais ou menos um metro quadrado, atingindo não só o chão, como a parede e a calça de Roberto.
Assim que ela cessou de regurgitar, ele a pegou nos braços e subiu até o primeiro andar. Assim que adentrou no apartamento, tentou tirar as roupas da jovem, que estava semi inconsciente.
-O que você está fazendo? Para, eu vou chamar a polí...- A frase de Carla foi interrompida por mais um jato de vômito, que desta vez acertou a mesa retangular de madeira escura, que ficava no centro da sala e os respingos acertaram um armário, também de madeira escura que media em torno de   1m e que ficava entre a mesa de jantar e a entrada do banheiro.
Roberto arrastou Carla para dentro do boxe, com roupa e tudo e ligou o chuveiro na temperatura gelada.
Os berros de Carla aos poucos foram cessando, para um choro sentido e cheio de pesar.
As gotas de água do chuveiro se confundiam às gotas de lágrimas de Roberto, que sentou junto a Carla, no chão do boxe, que media 0,80cm de largura, por 1,07m de comprimento.
-Por que você tá fazendo isto com você? Comigo? Por que você está fazendo isto com a gente? - Perguntou Roberto com as voz tremula.
-Eu não sei. - Responde Carla aos prantos. - Eu sou uma merda, minha vida é uma merda.
-Não, não fala assim, você é uma pessoa maravilhosa, é uma mulher maravilhosa, linda. -Neste momento Roberto toca o seu rosto, joga seus cabelos para trás, e a puxa para ficar aninhada entre suas pernas, com os braços encolhidos e a cabeça encostada em seu peito. - Você é super inteligente, está prestes a terminar o teu doutorado, só que está metendo os pés pelas mãos.
Um instante de silêncio, em que Roberto acariciava os cabelos de Carla, de forma carinhosa e aconchegante, um momento de paz e silêncio, um momento de reflexão.
Depois de Roberto ajudar a jovem a secar e a colocar um roupão, ele a ajudou a se deitar. A moça se deitou em diagonal na cama, não dando muito espaço para o rapaz, que acabou se sentando no chão, com as costas encostadas no guarda roupas, de joelhos levantados na altura do peito, segurando a mão esquerda da moça, que estava deitada de bruços, com o braço de fora.
-Por que você se preocupa tanto comigo? Por que você está fazendo tudo isto por mim?- disse ela com a fala arrastada.
-Porque eu te amo. - Ele respondeu de uma forma doce e sincera, como um garoto de escola, que responde ao seu primeiro amor.
-Por que você me ama?- Ela rebateu.
-Eu não sei ao certo te explicar porque, mas, você lembra quando a gente se conheceu la em Paris?
-Sim. -Ela respondeu com meio sorriso.
-Era a primeira vez que eu estava indo no apartamento do Jeff.
-Eu te vi lá de cima.-Respondeu sorrindo.
-Pois é, tu era loira, e quando eu te vi pela primeira vez, tu pareceu uma elfa retirada de uma das histórias de Senhor dos Anéis. O sol refletia nos teus cabelos, espalhando uma luz dourada, como se fosse a aura de um ser angelical, era a coisa mais linda que eu já tinha visto até então. Eu senti todo aquele papo de pessoa apaixonada, coração acelerado, suor nas mãos. Se bem que não é muito difícil pra que eu comece a suar né. - Deu uma leve risada consigo mesmo.- Eu não sabia explicar o que eu estava sentindo, mas eu sabia que aquilo era algo especial, único, eu até ignorei o fato de você estar fumando. Você sabe como eu detesto isto.
Quando ele se deu conta, ela já estava dormindo.
-A única coisa que eu sei, é que eu te amo incondicionalmente, com todas as minhas forças.
Ele a beijou na testa, se levantou em silêncio e suavemente, tomou um banho,preparou e tomou seu café, tudo em silêncio e saiu para trabalhar.

Entre a luz e a sombra - part.1Onde histórias criam vida. Descubra agora