Capitulo 8 - O cerco se fecha.

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Um grito ecoa pela madrugada, vindo das entranhas de Carla, que entrou em desespero, ao ver que o carro estava completamente coberto por vultos, do lado de fora, o que se via era uma massa negra que se movimentava em todas as direções.
Carla começou a chorar no peito de Roberto, que tentava acalma-la com afago nos cabelos, de repente, ele entrou em estado de medição, e começou a elevar seus pensamentos aos céus, ao universo, ou a qualquer entidade que pudesse ouvi-lo.
-Por favor, se existe esta história de Deus, por favor, alguém me escute, alguém atenda a minha prece, ET, super herói, espírito do bem, anjo, pode ser qualquer um, o que vier é lucro, mas por favor, proteja o meu amor, eu não me importo que aconteça algo comigo, eu só preço que nada de mal aconteça com ela.
Sem que algum dos dois, que estavam de olhos fechados, percebessem o que estava acontecendo, uma luz verde claro, que envolvia o corpo de Roberto muito discretamente, passou a cobrir também Carla, como uma especie de fina película. Esta película foi se expandindo, até atingir o lado de fora do carro, conforme ela crescia, a massa de vultos foi se dissipando até que finalmente podia se ver o céu com uma lua imensa de cor avermelhada. Se isto fora real ou apenas imaginação, eles não tinham como saber ou provar, o que restou foi o silêncio da madrugada.
Pouco a pouco Roberto foi abrindo os olhos.
-Carla olha, eles foram embora.
- Sério? - Disse Carla se afastando lentamente do peito de Roberto, enquanto enxugava as lágrimas.- Então tenta ligar o carro e vamos embora daqui, por favor.
Roberto bateu a chave na ignição e funcionou de primeira. Durante o trajeto, nenhuma palavra foi dita, apenas o som do carro se locomovendo. Ao chegarem em casa, o céu anunciava discretamente a vinda do amanhecer.
- Eu não vou dormir, porque se não eu vou ficar imprestável durante o dia todo, eu vou tomar um banho, um café e vou pro trabalho, mas você pode ir dormir. -Disse Roberto se despindo.
-Posso ir pro banho com você?- Perguntou Carla com ar de inocência.
Roberto respondeu apenas com um sorriso, pegou na mão da jovem e a levou para dentro do banheiro, onde a despiu lentamente, olhando em seus olhos. Quando seus lábios se encontravam, era como se uma reação física acontecesse, um evento cósmico, lábios e línguas, explosões de galáxias. Desnudos foram até o chuveiro, onde Roberto maravilhado, observava as gotas de água percorrem o corpo de Carla, ele amava cada curva, cada centímetro de seu corpo. O contraste de sua pele clara, com seus cabelos cabelos negros e olhos verdes, que agora o desejavam com ardor. Os corpos se encontraram de baixo da torrente de água, não só para
uma sequência de beijos apaixonados, mas agora, para se conectarem da forma mais íntima possível.
Quando Roberto estava fechando a porta de casa, Carla já estava dormindo, enquanto os primeiros raios de sol, já haviam tocado o solo de sua cidade. A caminho de seu trabalho, de pé, dentro do ônibus um pouco cheio, ele estava imerso em seus pensamentos, tentando entender esta cadeia de eventos que estava acontecendo em sua vida, este turbilhão de emoções havia bagunçado completamente a sua vida. "Roberto"... "Roberto"... "Roberto".
Quando ele veio a si, se deu conta que Bruno, o seu colega de trabalha, o estava chamando. Bruno era um dos primeiros colegas de Roberto, com uma estatura de mais ou menos 1m75, cabelos pretos e curto, pele em tom de bege claro, portando um óculos leve, com porte atlético porém não exagerado. Assim como Roberto, também usava uma camisa polo, calça jeans e sapato preto, padrão da empresa.
- Tudo bem cara? - Perguntou com cara de deboche mas, brincando com o amigo.
- Ah tudo bem sim, eu só não dormi de novo, pra variar.
-Caraca veio, esta tua vida de putaria ainda vai acabar contigo. - Bruno ficou parado olhado para Roberto, até que os dois caíram na risada.
A conversa fluiu naturalmente, até que encontraram Rodrigo, assim que desceram do ônibus, ele era o outro amigo que faltava para a tríplice. Rodrigo e Bruno foram as primeiras pessoas que acolheram Roberto na empresa e desde então se tornaram bons amigos, que Roberto havia abandonado, em meu a sua loucura.
Rodrigo, usava o mesmo vestuário, ele era um pouco mais alto que Roberto e um pouco mais musculoso, com um sorriso enorme do tamanho de seu coração, era assim que recebia seus amigos, ser moreno de cabelos curtos parecia ser exigência na empresa. Rodrigo tinha a pele mais bronzeada dos três, além de ser extremamente religioso, era de família de militares, uma pessoa super correta dentro dos parâmetros, o que incluía não falar palavrão.
- Roberto o que têm acontecido contigo cara? Se tu quiser tu pode se abrir com a gente cara, além de teus colegas, somos teus amigos. -Disse Rodrigo, se aproximando do lado esquerdo de Roberto, enquanto Bruno estava do lado direito.
- Ah nada não, apenas problemas conjugais. -Disse Roberto com um sorriso amarelo.
-Cara desde que tu entrou nesta relação, você não está bem, isto é visível, tu tá um bagaço cara. -Disse Bruno em tom sério, enquanto eles viravam a esquina do pequeno estádio de futebol, para pegar a rua que daria no prédio imponente da empresa em que trabalhavam.
-Eu sei galera, eu to revendo os meus conceitos sobre esta relação. -
Disse Roberto agora num tom triste, mas ainda discreto.
- A gente podia marcar de ir na praia da Sepultura neste final de semana, o que acham?- Rodrigo além de um amante de esportes, era apaixonado por natureza e praias.
-Nossa, eu to tão mal assim, que vocês já querem me enterrar?- Após Roberto dizer isto, os três caíram na gargalhada.
A conversa fluiu de forma descontraída até chegarem no prédio da empresa.
Quando estavam entrando, Roberto avista, do outro lado da rua, seu amigo falecido, estático, só que desta vez, olhando para ele. Ao passar um dos pilares, já dentro do prédio, ele tenta encontrar novamente seu amigo, mas ele já não estava mais lá.
Antes de entrarem no elevador, Roberto pergunta a Rodrigo:
-Rodrigo, você acredita em vida após a morte?
Rodrigo respira fundo e responde incisivo.
-Eu acredito na bíblia, qualquer coisa além disto, é do diabo.
A porta do elevador se fecha.

Entre a luz e a sombra - part.1Onde histórias criam vida. Descubra agora