Capitulo 12- O fim do túnel

6 0 0
                                    


Dor, escuridão, frio, vozes soando distante, o som se tornando pouco a pouco mais nítido, a pálpebra que pouco a pouco se clareia. Cheiro de soro, cheiros familiares, olhos que se abrem aos poucos, luz forte, luz branca, não, Roberto não estava morto, mas estava em uma cama de hospital, ainda tentando entender o que havia acontecido, a sensação que Roberto experimentava era de um gosto amargo na boca e dor por todo o seu corpo, como se ele tivesse passado por uma máquina gigante de moer carne. Ele sentiu algo incomodo em seu antebraço esquerdo, uma agulha que perfurava sua veia e lhe transmitia soro em doses homeopáticas, sentiu algo gelado em seu pulso direito, era uma algema, que o prendia ao ferro da cama. Roberto começou a se desesperar e a sacudir o braço tentando se libertar, o que chamou a atenção de um segurança que estava do lado de fora do quarto. Felizmente, não havia mais ninguém no quarto além de Roberto, caso contrário ele teria acordado a todos, tamanha baderna. O guarda chegou com uma enfermeira.
-Acalma-se senhor. - Disse o guarda em tom apaziguador.
-O que que está acontecendo? Onde é que eu estou? Me tira daqui! - Disse Roberto quase que gritando em desespero.
-Calma senhor, o senhor sofreu um acidente de carro a dois dias atrás e precisa repousar, amanhã de manhã o delegado estará aqui pra conversar com o senhor.
- Delegado? Como assim, eu não fiz nada, eu tenho direito a um advogado, me tira daqui ago...- A Fala de Roberto foi amolecendo.
A enfermeira injetou um liquido incolor em uma das veias de Roberto. De repente, as pálpebras começaram a pesar e antes de apagar por completo, ele conseguiu avistar o vulto de uma mulher esguia ao fundo do quarto. Eram por volta das dez horas da manhã, quando Roberto foi acordado por uma voz masculina.
-Senhor Roberto... Senhor Roberto...
Roberto foi abrindo os olhos lentamente, ainda com a fala arrastada.
- O... Que... Tá... acontecendo?
Sentado ao lado da cama, estava um senhor que aparentava seus 50 anos, com um terno preto, gravata preta, camisa social branca e sapatos bem lustrados. De pele mate, cabelos e um grande bigode grisalhos. De pernas cruzadas, um olhar sério, porém tranquilo.
- Bom dia senhor Roberto Almeida Prado, eu me chamo Carlos de Albuquerque, sou o oficial de justiça da região e gostaria de te fazer algumas perguntas e esclarecer algumas dúvidas, seria possível? O senhor está em condições de responder? - Roberto claramente não tinha condições de responder de maneira sã.
- Sim senhor, eu posso responder o que o senhor quiser, só por favor, tire esta algema do meu pulso, por favor.
Se fazendo de desentendido, o oficial respondeu:
- Ah claro!
E chamou o guarda que estava do lado de fora do quarto, fazendo um sinal com que tirasse a algema.
- Está melhor senhor Roberto? - Perguntou o oficial em tom amigável.
- Bem melhor, obrigado. - Respondeu Roberto, um tanto quanto ressabiado. - Senhor oficial, por que eu estou aqui? E por que eu estava algemado?
Carlos se ajeitou na cadeira, suspirou, passou o dedo indicador e polegar no bigode, pegou uma pasta e começou a falar.
-Seus vizinhos de prédio, alegaram que o senhor se envolveu numa briga em seu apartamento e que logo em seguida, saiu em disparada, arrebentando o portão da sua garagem. O senhor... confirma isto?
-Ahn? Como assim? Não, pera aí, esta história está muito alterada, eu discuti com a minha namorada... Ou ex... E depois fui atrás dela de carro. Em seguida tinha muita névoa, neblina, sei lá e eu acordei aqui.
- O senhor é usuário de drogas? -Perguntou Carlos de maneira séria?
- Não senhor, nunca usei! - Exclamou Roberto se colocando sentado na cama.- Inclusive, eu praticamente não bebo álcool.
- OK e como o senhor explica isto? - O oficial de justiça, mostrou fotos da mesa com o tampão retangular de vidro estilhaçado, do portão de alumínio completamente destruído.
- A minha namorada, ou ex, me deu um chute no peito e eu voei contra a mesa. E o portão, não fui eu que arrebentei, eu lembro que eu esperei abrir pra sair e ainda fechei.
- Senhor Roberto, nenhum morador viu mulher alguma sair do seu apartamento, tão pouco as câmeras.
- Não, não é possível, a minha namorada, me chutou, ela estava lá, eu juro pro senhor! - Exclamou Roberto em tom realmente transtornado.
- Senhor Roberto, quanto mede e quanto pesa a sua suposta namorada?
- Ela tem em torno de um metro e sessenta e cinco. E o peso eu não sei, nunca perguntei, mas ela é magrinha. O senhor da duvidando que ela chutou meu peito? E o que isto tem a ver? Do que eu estou sendo acusado?
- O senhor quer realmente que eu acredito que uma mulher de 1,65m de altura pesando aproximadamente 50 ou 60kg, deu um chute no senhor, que tem aproximadamente 1,80m e pesa quase o dobro que ela, e que este chute arremessou-o contra uma mesa?
-Sim, eu também não acreditei no momento.
- Tirando esta história absurda senhor Roberto, o senhor arrebentou o portão da garagem de seu prédio, dirigiu sem documentos, a mais de 140km por hora na BR101, colocando em risco a vida de diversos motoristas, além é claro, de ter sofrido um acidente. Sorte a sua que não encontraram nada no seu exame toxicológico, o que não o exime de suas responsabilidades para com os teus atos, que serão julgados e provavelmente penalizados. O senhor passará por uma bateria de exames neurológicos esta tarde e depois poderá ir para casa, nós lhe enviaremos uma intimação, para a sua residência. O Policial Justino o acompanhará até a sua casa, assim que os exames terminarem. Tenha uma boa tarde.
Sem mais delongas, o oficial se levantou, virou as costas para Roberto e saiu da sala.
Roberto por sua vez, ficou tentando entender o que estava acontecendo e por que um oficial de justiça, teria se dado ao trabalho de ir até o hospital interroga-lo, toda esta história estava maluca e sem nexo e cada vez que ele forçava pra se lembrar, ou entender, a sua cabeça doía absurdamente.
Sozinho no quarto branco, com uma cama de ferro e um colchão fino, que ficava de frente para uma janela, que por sua vez dava para um mini jardim, abandonado, rodeado por três paredes que um dia foram brancas, Roberto tentou se fazer ouvir:
- Oi, será que alguém pode me trazer uma água ou um café, por favor? Eu to morrendo de fome.
Ninguém respondeu... O hospital estava estranhamente silencioso... Isto não seria possível naquela hora do dia, para Roberto, alguma coisa estava errada...

Entre a luz e a sombra - part.1Onde histórias criam vida. Descubra agora