O dia passou tranquilo, com muito trabalho e pouca conversa. Ainda era dia quando Roberto saiu do trabalho, ele estava caminhando sozinho, desatento e despreocupado com a vida, em direção ao ponto de ônibus, quando ele ouve uma voz vinda de trás:
-Roberto?
Ao se virar, ele se depara com Luana, um antiga paixão de faculdade, a jovem ruiva de olhos castanho esverdeados, quase da altura de Roberto, vestia uma saia preta, colada no corpo, até o joelho, salto alto preto e camisa social branca.
-Luana? Caramba, quanto tempo que eu não te vejo, o que tu andas fazendo da vida? - Pergunta Roberto surpreso em revê-la.
-Então, eu saí agora a pouco da camara dos vereadores, tava fazendo uma matéria e só falta mais uma entrevista pra fechar a pauta, tu quer ser meu entrevistado?
-Ahn... É... Claro, O que eu preciso fazer? Digo, o que eu preciso falar? - Roberto não tinha intimidade alguma com as câmeras e o fato de estar de frente com a Luana, o deixava ainda mais constrangido.
-Vou te fazer algumas perguntas, sobre as reformas que o prefeito anda fazendo na cidade, se você está satisfeito com as melhorias, tudo bem?
- Claro, claro.
- Ah ótimo.
O camera se aproximou, armou o tripé a alguns poucos metros dos dois, Roberto estava suando frio.
Quando ela começou a fazer as perguntas, a voz de Luana parecia distante, vinda de uma caverna, ele não entendia porque seu coração batia acelerado, todas as memórias dos dois vieram a tona, como uma bomba nuclear. Quando a entrevista terminou, ele não fazia ideia do que tinha falado, a voz de Luana voltou ao normal, assim como a sua visão e a noção do tempo e espaço.
-Obrigada pela força Roberto, assim eu consigo terminar a pauta ainda hoje.
-Ah de nada, que bom que eu pude te ajudar. Você voltou a morar aqui? Achei que você ainda estava morando em...
Luana o interrompeu.
-Pois é, eu resolvi voltar, não estava aguentando morar lá. E você tá bem? Tá trabalhando no que?
-Em comércio exterior.
-Ai que bom, então você chegou a se formar, que coisa boa né, parabéns.
-Ah obrigado. - Deu um sorriso amarelo e continuo, totalmente sem jeito.- O que você acha de a gente marcar um café pra conversar? Tanta coisa se passou desde a última vez que a gente se viu.
- Ai nego, tá tão corrido pra mim, eu to em dois empregos e ainda tem o teatro, mas prometo que uma hora desta a gente senta pra conversar ta? Mas agora eu preciso ir.
Ela deu um beijo em seu rosto de forma amigável, porém distante e partiu junto com o cinegrafista.
-Tá... Tudo bem... Sem problemas- Disse Roberto para si mesmo, em tom de voz baixa e desanimado.
Quando o jovem chegou no ponto de ônibus, o ponto estava vazio e quando se sentou no banco, os últimos raios de sol se despediam da cidade, deixando o céu purpura com tons de azul escuro.
-Roberto, abre olhos!
Roberto deu um salto do banco.
A sua direita estava o seu amigo, moribundo e falecido.
-Você precisa acordar Roberto!
Roberto ficou pálido e com as pernas tremendo, seus lábios perderam a cor e seus olhos saltados da orbita.
-Você deveria estar morto... -A voz de Roberto quase não saiu.
-Isto não importa, nada neste universo importa, esta é a verdade, somos todos frutos do acaso.
Roberto estava perplexo, sem reação, seu amigo tinha o rosto sereno, com uma postura um pouco arcada, não emanava uma aura de terror, exceto pelo fato de já estar morto.
Quando Roberto tentou esboçar uma pergunta, o ônibus parou a sua esquerda abrindo as portas, para sair uma dezena de pessoas e novamente, fazer com que o moribundo sumisse de vista. Roberto subiu no ônibus, olhando pra trás, ainda inconformado. Agora não mais com medo, mas extremamente curioso e intrigado, com o que aquele antigo amigo tinha pra lhe dizer, mas sobre tudo, se aquilo era delírio, imaginação ou realmente um espírito.
Ao chegar em casa, Carla estava sentada no sofá, de mini short e camisa branca larga, sem sutiã, estava de cabelos molhados, com o note book em seu colo e a televisão ligada passando novela, um cigarro aceso sobe o cinzeiro, que estava no braço do sofá, o sofá por sua vez ficava encostado na parede do quarto, de frente para a parede onde se encontrava a TV e a esquerda, ficava a grande porta de vidro que dava para a sacada, a porta estava aberta, criando uma corrente de ar.
-Oi, eu não sabia que horas você iria chegar, eu pedi pizza. - Disse Carla sem tirar os olhos do note book.
-Ótimo, maravilha, eu to faminto. -Disse Roberto deixando sua pasta de couro em uma das cadeiras. - Você não vem comer?
-Eu já comi, desculpa, não consegui esperar.- Disse ela, ainda sem tirar os olhos da tela.
-Ah, tudo bem então. - Disse Roberto com ar de decepcionado, sentando-se à mesa.
Ao abrir a caixa de pizza, se deparou com 4 fatias, duas de calabresa e duas de quatro queijos, nem de longe os sabores preferidos do Roberto.
Quando estava saboreando um dos pedaços, olhava desatento para a sacada, quando avistou um ponto luminoso no céu. De princípio, achou ser um helicóptero e deu de ombros, mas percebeu que o ponto luminoso se aproximava à alguns quilômetros do apartamento. Roberto foi retirando lentamente o pedaço de pizza da boca e foi se dirigindo a sacada, até se apoiar na marquise de alumínio. O que via à sua frente era algo que destoava completamente da realidade... Carla se juntou a ele boquiaberta, os dois não conseguiam esboçar nenhuma reação daquela imagem...
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Entre a luz e a sombra - part.1
Mystery / ThrillerUm jovem atormentado por eventos paranormais, tenta discernir a realidade da ilusão, enquanto tenta lidar com sua vida amorosa conturbada, sua vida profissional instável e sua vida social quase inexistente. Um conto que promete te envolver e mexer...