capιтυlo onze.

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Enquanto Susan deixava na rádio local e batucava os dados no volante do carro, esperando (im)pacientemente o farol ficar verde, um turbilhão de pensamentos envolvendo Taeil passou em minha cabeça.

Taeil significava muito para mim. Além de ter sido o primeiro garoto que beijei, foi ele quem me ajudou grande parte na minha luta contra as crises, envolvendo minha ansiedade e fobia social. Não era de se esperar menos, que uma garota, que nunca havia ganhado tanta ajuda e afeto de um garoto, não fosse acabar caindo na isca da paixão.

Taeil me pescou, é isto. Pescou meu fraco e doce coração, que pertencia mais a ele, do que a mim mesma.

Ainda no meu auge dos 10 anos, fui vítima de xenofobia na escola. Como era Sul Coreana e morava no Canadá, as pessoas não eram muito generosas comigo. Passei por algumas situações chatas e constrangedoras ao longo da minha inicialização na fase pré adolescente. Antes mesmo, quando ainda tinha apenas 8 anos, já não me via mais brincando na rua com as crianças do bairro, nem indo andar de bicicleta com meu pai. Minha casa parecia o local mais seguro e confortável que havia no mundo.

A verdade: não sei quando começou toda essa fobia social que desencadeou minha ansiedade.

Desenvolvi ansiedade indo para a escola, era moderada. Porém, passou a piorar ao longo dos anos. Quando mal percebi, já não saía mais de casa por motivo algum. Optei por fazer aulas particulares, o que não funcionou, pois, meu pai não estava tão bem financeiramente. Voltei a escola. Tudo piorou.

As crises eram constantes. Sentia meu corpo entrar em colapso sempre que alguem ousava falar comigo, o que não era tão frequentemente, (in)felizmente. Era a típica nerd estranha de olho puxado, como costumavam me chamar.

Voltei para a Coréia do Sul, com o pensamento nas nuvens mais coloridas. Imaginei que estava saindo de um local negro, para um local rosa. Para mim, estando em minha terra natal, tudo iria se resolver.

Crises passariam. Teria vontade de sair nas ruas. Faria amigos. Arranjaria um namorado. O bullyng e xenofobia passariam. A nerd estranha de olhos puxados, cairia em esquecimento e ficaria trancado em uma das centenas de gavetas que imagino ter em meu cérebro.

No entanto, não mudou quase nada. A xenofobia parou, mas o resto, continuou. O vácuo negro que existia dentro de mim, não poderia mais ser preenchido.

Talvez, teria sido mais fácil se minha mãe estivesse comigo.

Quando menos esperei e quando mais pensei que ficaria sozinha, Taeil e Taehyung apareceram para jogar basquete em frente minha casa. Espiava-os todos os dias pela greta da janela, tentando tomar coragem para sair para fora e ver se me notariam. E de fato, me notaram.

Taehyung me viu espiando eles. Foi uma das vergonhas mais bem sucedidas que já tive. Ambos me salvaram da solidão. Logo após, Jisoo chegou. Agora, tinha com quem conversar, fazer trabalhos de escola e não me sentir tão sozinha assim na vida.

Pensei que iriam desistir de mim, pois não saía na rua para falar com eles. Permanecia dentro de casa, apenas com a janela aberta. Porém, continuavam a insistir em minha amizade, dizendo que havia um cisne por trás desse patinho.

Gritaram "olha o cisne" quando sai para fora dos muros. Fiquei cheia de vergonha e quase sai correndo para dentro novamente, mas, apenas continuei andando. O olhar de Taeil naquele dia, ficou gravado para sempre em minha memória. Um olhar tão esperançoso e orgulhoso.

— Estou ansiosa para saber como ela é. — Disse Susan pegando a bolsa no banco de trás.

Abri a porta do carro, logo saindo. Mal havia percebido que havíamos chegado.

— Ou ele. — Dei de ombros.

Susan me olhou e arqueoou as sobrancelhas.

— Taeil não é assim...

Coloquei as mãos nos bolsos do casaco e cerrei os olhos. — É, acho que não.

Susan não perdeu tempo, apenas começou a andar tropeçando em seus próprios pés e deixando a alça da bolsa cair de seus ombros.

Taeil estava na porta, esperando ansiosamente por nossa chegada. Nos recebeu com um sorriso enorme e os olhos brilhantes. Quase fiquei comovida.

Papai já estava sentado na mesa com seu celular em mãos, provavelmente respondendo algum cliente. Procurei pela garota, mas tudo que vi, foi seu prato vazio e sua cadeira afastada da mesa. Papai ainda não havia me olhado. Senti um certo incômodo perante a isso.

— Cadê a garota? — Perguntei com indiferença.

— Esta no banheiro.

Coloquei minha mochila na cadeira ao lado e me sentei, sentindo meu coração errar as batidas ao ver cada vez mais, Taeil sorrir.

— Aish, estou nervosa. Queria ter vindo mais cedo, porém, Helsey se demitiu e tive que resolver isso.

— O que? Halsey? O loiro? — Papai disse, finalmente tirando os olhos do celular e olhando boquiaberto para Susan.

— Sim. Aquele traiçoeiro, sabia que era problema! — Revirou os olhos. — Jennie vai ficar no lugar dele, pelo menos, por hoje.

— Jennie? — Taeil perguntou com as sobrancelhas elevadas.

— Sim. — Respondi dando os ombros. Odiava aquela reação.

Vo Taeil sorrir novamente, tao largo que pensei que iria derreter ali mesmo na cadeira. Sorria sem parar em minha direção, já sentia minhas bochechas avermelhadas. No entanto, Susan e papai sorriram também, então, percebi que Taeil não sorria para mim. Mas sim, para...

O quê? Que raios está acontecendo aqui? Que falha foi essa na matrix?

 "Jennie Is Calling" [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora