Meredith e Caleb observavam, calados, a lenta partida de seus colegas de faculdade para suas respectivas cidades natal para comemorar o período festivo. Sentados em um banco na entrada da faculdade, já com as malas arrumadas, abraçavam-se, tristes por ter de se separar, mesmo que só por alguns dias.
Nas preciosas semanas que aprofundaram seu relacionamento, haviam decido que o período de recesso podia ser mais bem aproveitado se estivessem juntos durante ao menos uma parte dele. Assim, Mer iria para sua casa em Dallas para passar o natal, e Caleb para Nova Iorque. Depois, ele a visitaria até o ano novo e conheceria os pais dela, mas passariam a mudança de ano juntos, na cidade dele, o que supriria o sonho dela de ver a bola cair à meia noite, como no filme que a menina tanto amava "Véspera de Ano Novo".
Algo sobre a reunião de várias pessoas que não se conheciam, com uma mesma energia positiva, a encantava. Meredith sempre havia passado a virada do ano com sua família e seus amigos em Dallas, então nunca havia realmente vivenciado a sensação de fazer parte de uma multidão, algo muito maior do que ela.
Arregalando os olhos ao checar seu relógio e perceber seu atraso, ela sorriu para o menino e murmurou um melancólico "Está na hora". Os dois se levantaram e, antes que ela pudesse direcionar-se a um dos taxis parados na entrada, com a grande demanda naquela época do ano, ele puxou-a para um beijo, mais casto que o comum, contudo, que prometia uma continuidade.
— Tem certeza que não quer vir logo comigo, Maddy? — perguntou-lhe, com olhos suplicantes de cachorrinho no caminhão de mudança. — Você poderia conhecer minha mãe e também "turistar" um pouco por Nova York antes do dia primeiro, o que acha?
— Nem começa, espertinho! — disse a menina, balançando a cabeça em um forte negativo. — Já discutimos isso mil vezes, amor. Eu preciso ver meus pais e eles querem muito te conhecer... Além da Bonnie! Ela me mataria se eu não passasse pelo menos o natal em casa. Sabe como tem sido um inferno só de estudar quilômetros de distância de uma pessoa que costumava fazer tudo juntas? Imagina como seria se meus pais soubessem que você pretende levar a menina deles para passar o ano novo em outra cidade?! Eles já estão muito irritados com...
— Tudo bem... – cedeu, após perceber que havia iniciado um longo monólogo no qual a menina já insistira em recitar repetidamente sempre que ele tentava convencer-lhe. Parecia que, naquele relacionamento, não era ele que teria muito poder de decisão, o que era muito frustrante, mas ao mesmo tempo algo positivamente inovador no seu repertório de namoros. — Te vejo daqui a poucos dias, Hazel... – replicou ele, com um olhar pensativo. — Feliz natal. — continuou ele, sorrindo com um novo brilho nos olhos, como se estivesse guardando um segredo.
— Até mais, gatinho — brincou, dando-lhe uma tapinha na bunda, o que o deixou corado e fazendo uma expressão escandalizada de falso recato. Não tinha ninguém mais confortável com o próprio corpo do que aquele homem. Ela poderia abaixar a calça dele que a maior reação que receberia seria um meio sorriso malicioso. Talvez isso fosse uma das características que o faziam tão hipnotizante quando este tocava com sua mais nova banda, The Waves. Caleb sempre havia sido talentoso, porém, agora que decidira arriscar formar um conjunto com alguns colegas de surfe, seu dom havia sido elevado a outro nível. Eles estavam ganhando público rapidamente, tocando em diversos bares da região. Maddy ficava um pouco irritada com a composição dos fãs, que era, basicamente, feminina, entretanto, isso era compreensível, já que todos os integrantes da banda eram amigos atraentes de Caleb.
Travis e Malcom eram os habilidosos guitarristas. Sendo irmãos, davam a maior dor de cabeça para o resto da banda com suas constantes implicâncias e ocasionais crises de estrelismo ou vaidade. Mesmo assim, eram uns amores assim que o conhecessem. O primeiro era um negro alto e atlético, surfista profissional e lutador de boxe. Já Malcom era uma cópia exata do irmão, se não fosse o corpo magrelo e mais desajeitado. Além disso, havia Chris, o baixista introspectivo e alheio a qualquer tipo de agitação. Era quase cômico observar seu ar inexpressivo em qualquer que fosse o ritmo da música que estivessem tocando, contudo, seus talentos no baixo suplantavam quaisquer defeitos de performance. Por fim, o baterista era dos mais animados e aclamados entre os meninos, só não mais que o vocalista. Gale era uma das pessoas mais extrovertidas e interessantes que Maddy, já havia conhecido e uma conversa com ele valia como um aprendizado para a vida.
O show inicial da banda havia se dado devido a um projeto para a feira de exposição cultural da universidade, mas o extremo sucesso fez com que alguns comerciantes locais, como um pub chamado The Cave, com ampla frequentação do público de estudantes, chamasse a banda para fazer uma apresentação-teste. Apesar de serem novos no ramo, o profissionalismo surpreendente dos meninos acabou conquistando a todos, assim quanto ao dono do estabelecimento, que tornou os shows algo constante. Essa era uma das razões de Caleb para não acompanhá-la direto até Dallas e acabar por vê-la somente no Natal. Um último show havia sido marcado, além disso, precisava fazer uma rápida visita à sua mãe em NY, para acertar os detalhes da festa que anualmente promoviam na Véspera do novo ano.
Após horas divagando sobre o futuro brilhante de seu novo namorado, super talentoso, não só com o piano, mas também com o violão e voz e seu papel na nova banda, Mer finalmente pousou, literalmente e metaforicamente, em Dallas.
Assim que chegou ao Aeroporto de Fort Worth, também conhecido como Aeroporto Internacional de Dallas, surpreendeu-se ao ver Bonnie e toda sua família esperando-a na área de desembarque, com a tradicional faixa de "Bem-Vinda ao Lar". Segundos depois, percebeu que não era uma surpresa tão grande, já que seus pais realmente tendiam a fazer um alvoroço de tudo que fosse relacionado à sua filha.
— Olá, minha menina! — saudou a mãe, pegando seu rosto para dar-lhe um beijo na testa ternamente. — Como foi o voo? Você levou um casaco extra que te pedi? E trouxe o guarda-chuva? Tem chovido muito e...
— Dê a menina um pouco de espaço para respirar, Magnolia — interrompeu Jedediah, seu pai, já a meio caminho de abraçá-la.
Depois de terminar de cumprimentar seu irmão Ian, sua tia Betty e sua prima Callie, deu o braço a Bonnie, e o grupo caminhou para casa. Sua melhor amiga, extremamente animada, inteirava-lhe de todas as fofocas e tretas ocorridas na cidade durante aquele semestre, lembrando-lhe um pouco de Poppy.
O quarteto fantástico havia decidido fazer uma espécie de festa do pijama em sua última noite em Berkeley e ficaram conversando, além de pintarem as unhas uma das outras, assistirem filmes bobos e como não podia faltar: comerem muita besteira. Haviam se divertido muito, principalmente quando resolveram jogar um jogo de bebidas assistindo à série Gossip Girl. A todo o momento que o nome da garota do blog fosse mencionado, teriam de virar um shot. Digamos que fora uma noite muito louca e de muitas revelações chocantes.
Nostálgica, Maddy sorriu para sua amiga mais antiga, dizendo baixinho, porém de forma audível "Como é bom estar de volta" e deu-lhe um abraço apertado, sorrindo. Ambas juntaram-se a prima, Callie, e foram ao point da cidade para que Meredith pudesse rever seus outros amigos. Primeiro, tiveram de contornar os protestos de seus saudosos pais que demoraram, entretanto não resistiram a ceder ao apelo das garotas.
O tal Point, era um lugar que não passava de um celeiro abandonado na propriedade dos Wickham, que o cediam também para o baile semestral da vila regional. Tratava-se de uma ampla fazenda que fora herdada por um casal de idosos que não podiam ter filhos e não tinham condições de administrar todo aquele território. Dessa forma, fizeram um combinado de que, periodicamente, os adolescentes realizariam uma manutenção na área que utilizassem, localizada no outro extremo da pequena casa que o simpático casal ocupava. Ao chegarem ao celeiro, Mer cumprimentou Pepper, seu namorado Anthony, e o resto de seu antigo grupo. Conversaram durante horas, sentados em troncos de madeira, comendo M&Ms e bebendo, como costumavam fazer nos velhos tempos. O tempo passou de forma tranquila, e Maddy estava completamente relaxada, até que ela avistou Ethan na porta do celeiro, de costas para o grupo, olhando distraidamente para o céu.
O coração da menina acelerou-se com a visão e, de certa forma nervosa, ela tomou coragem para levantar-se e falar com ele, avisando antes à BonBon, com uma mera troca de olhares. Tinham o costume e a facilidade, após tantos anos de amizade, de travar conversas mentais a partir da expressão corporal e de um simples olhar. Isso era uma das coisas que Meredith mais sentia falta. Era raro encontrar alguém que pudesse identificar-se a um nível tão profundo, e não havia ninguém como Bonnie no resto do mundo. Sua amiga a entendeu imediatamente e chamou o grupo para ir para a parte mais interior do celeiro, que era fechada, para lhes dar privacidade, sob a desculpa de estar com frio.
— Ainda com o sonho de voar, Ethan? — Aproximando-se cautelosamente, Mer chamou a atenção do garoto, sorrindo de forma genuína. Lembrou-se de como quando eram crianças, o garoto tinha uma fascinação pelo super-homem, correndo de um lado para o outro com sua fantasia. Porém, quando ele se virou, foi como se ambos tivessem levado um choque. Seus olhares transmitiam saudade avassaladora, que ultrapassava a luxúria, mas incluía um peso que pareciam não ter percebido carregar até o momento. Era simplesmente o mais puro medo de perder a amizade um do outro.
Maddy havia quase esquecido dos ombros largos que tinham o poder de fazê-la sentir-se em segurança, sob a proteção do casulo de seus braços. Avaliou o cabelo loiro escuro, agora mais comprido, que ela tanto zombava dele quando crianças dizendo se tratar de um loiro sujo, cor que secretamente sempre admirou. Por fim, encontrou os olhos verdes brilhantes de seu antigo namorado que a tornavam cativa tentando desvendar o que quer que estejam tentando esconder. O que sentia naquele momento, não era nada como sua experiência com Caleb em que tudo era novo e surpreendente, mas sim um aperto familiar em seu coração que fez com que ela prendesse a respiração.
O problema é que não tivera tempo de realmente pensar se superara sua paixão por Ethan. Somente partira esperando que a distância cuidasse disso, mas percebia agora que estar longe dele só havia congelado por um tempo o que sentia. Não que ainda estivesse apaixonada pelo garoto a sua frente, isso percebera quase que instantaneamente, mas ainda o amava, pois ele era como sua família e isso nunca poderia ser mudado.
Com essa constatação, jogou seus braços ao redor de Ethan rapidamente percebendo o quanto havia sentido saudades dele. Afinal, ele também era e havia sido seu melhor amigo desde que podia se lembrar. Seu primeiro beijo, quem havia lhe introduzido no grupo deles no colegial, quem havia ouvido seus sonhos e sempre a incentivara a correr atrás do que desejava. Sem ele, ela nunca teria tido a coragem de se apresentar no concurso da cidade que por uma graça do destino, uma real benção oculta, acabou trazendo sua aprovação para Berkeley e junto a ela, a separação do casal, o que era quase cômico.
— Annie... — Suspirou Ethan, quase sussurrando o apelido que só ele destinava a ela, criado a partir de seu segundo nome. – Como senti sua falta...
— Também senti, Ethan... E acho que só agora percebi o quanto... — disse Meredith Ann, com os olhos brilhando. — Mas eu preciso te dizer uma coisa import... — Foi interrompida quando começara a tentar formular um aviso acerca de seu novo namorado, que estava para chegar à cidade e que não seria justo ser uma surpresa para seu ex.
Ao ouvir o som de seus amigos lhes chamando para cantar uma música em dueto, como sempre costumavam fazer, Meredith não pode dizer não aos olhos carentes, quentes e familiares de seu antigo par.
Cantaram a música I hate U I love U de Gnash e muitas outras canções até o amanhecer, com Anthony no violão na maioria delas, Peppere Bonnie no backing, e os demais: Louise, Jennifer, Marcus, Adam e Daniel batendo palmas. Todos acabaram por adormecer, como muitas vezes no passado, juntos no celeiro em seus sacos de dormir. Mesmo após seis meses sem contato pessoal, foi como se o tempo houvesse congelado e Mer estivesse novamente em casa, no seu lar. Por um minuto, talvez até a noite inteira — mas não queria admitir isso para si mesma —, conseguiu não pensar em Caleb e fingir que tudo estava como antes e que não havia se tornado tão complicado.
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Hazel's Serendipity
RomantizmUma jovem moradora de uma cidade pequena chamada Dallas tem que enfrentar os desafios de entrar para uma faculdade de música renomada da Califórnia. Largar sua família, amigos e namorado foi muito difícil, porém a promessa de novas paixões e amizade...