11 - Roteiro

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Capítulo onze
Roteiro


Envergonhada.

Lisa se sentia humilhada, em todos os sentidos da palavra. O que aconteceu? Em que ponto se tornou uma vítima?

Na verdade, talvez não fosse nada mais do que uma jovem com pena de si mesma, e que agora, precisava ser salva. Ou que sempre precisou.

O Robin, chegou no momento certo. Mais uma vez. E desta vez, parecia um cão de raiva. Seus socos eram mais fortes, Lisa podia ouvir os ossos estralando, enquanto homens gritavam e se contorciam pelo chão. Alguns, arremessados contra arbustos, outros apoiados em postes, e quando o super-herói se virou para ela, paralisada um pouco ao longe, haviam quatro desmaiados ao redor dele.

E os olhos sedentos — por algo que ela quebrava a cabeça para desvendar —, estes ela jamais esqueceria. Não podia os ver muito bem, já que a iluminação estava precária graças à fúria do seu salvador, que não parecia nem um pouco com um herói. A postura era como a de um animal, seus punhos em luvas ensanguentadas e a respiração de um touro.

Ele se aproximou. Lentamente, olhar fixo na jovem que recuava passos, a adrenalina em seu corpo simplesmente desaparecera, deixando espaço para medo e incerteza. Porém, não pôde mais recuar quando suas costas foram de encontro a nada mais que ferro gelado, seu corpo saltou por reflexo.  E agora, o Robin estava perto demais. Não tão grande quando parecia, mas aterrorizante sob uma luz fraca.

— Eu não vou te ferir. — sua voz tão grave que reverbera através do corpo de Lisa, que mal conseguia pensar. — Está longe de casa. É melhor que fique na delegacia.

Apesar do alarme de um predador à sua frente, pânico pairou sobre os olhos castanhos, e Holmes estremeceu ao cogitar a ideia de ficar sozinha. Talvez aquela noite a causasse muitas sequelas, as quais teria de lidar depois.

— Vou te levar, mas apenas até lá. Tenho muito trabalho para hoje. — não era uma pergunta, ou uma sugestão, e apenas quando o herói envolveu sua cintura com o braço, que ela percebeu. — Segura firme.

E de repente, estavam nos céus. O impulso ao sair do chão fez Lisa sentir seus órgãos se remexerem, a gravidade fazendo seu trabalho, sofrendo para a levar de volta ao chão. Seus braços estavam ao redor do pescoço do Robin, as pernas agarradas aos quadris como um bebê, e sua reação instantânea fora fechar os olhos. O gritinho agudo teria ferido o tímpano de seu herói, caso não estivesse ocupado por um ponto silencioso. Tão rápido quanto subiram, desceram.

O som do gancho voltando para o tipo de pistola alarmou seus sentidos mais uma vez, mas suas pernas não queriam voltar a funcionar. Apoiada no homem — talvez jovem, não soube distinguir —, fez o possível para ficar de pé.

— Espero que não esteja enjoada. — comentou baixo, com um humor levemente aplicado, aliviando a tensão e o medo não mais crescente no corpo cheio de adrenalina de Lisa.

— Por que não me avisou? — e escondido sob a iluminação precária, e seu capuz, Damian sorriu com o tom de ódio, porém brincadeira. Se afastaram apenas para que ele subisse em sua moto. Ou, Batmoto, se preferir. Uma de suas mãos segurava a de Holmes, a oferecendo o apoio que ainda precisava.

Sabendo que não iria receber resposta alguma, Lisa apenas subiu também, envolvendo a cintura curvada, na postura em que o veículo exigia. Quando a moto arrancou em uma velocidade absurda, agarrou-se abruptamente a ele. Não identificou um perfume em especial, mas se encontrasse, seria um bem forte, caro, porém adocicado. Uma mistura de perfume feminino, suor, couro novinho e talvez borracha.

Agora, sentada em uma sala de interrogatório, xingava a si mesma por não ter tirado uma foto.

Tudo o que acontecera há uma hora e meia se repetia em sua mente sem parar, não sabia ao certo o que pensar ou o que fazer.
As sensações, até mesmo a forma como o Robin segurou sua cintura, repetia em sua mente como um filme incessante. Não podia evitar as borboletas no estômago, ou a curiosidade de entender o “como” ou “por que” de tudo o que aconteceu naquele dia.
Como toda a aparente atenciosidade desapareceu assim que chegaram na delegacia, a frieza no tom de voz ao a mandar descer da moto, ou como não a olhou nos olhos nem por um segundo.
Analisar enquanto as coisas estavam frescas? Ou somente contemplar outra cena digna de um filme que vivenciou?

WHAP - Wayne, Holmes and PrinceOnde histórias criam vida. Descubra agora