"Um barco escuro sobe o fluxo soturno, é o Highland Brigade que vem atracar ao cais de Alcântara.""O ano da morte de Ricardo Reis", José Saramago
No dia seguinte, há mesma hora, no mesmo local, Valentina já esperava pelo jogador sportinguista com uns nervos miudinhos, levando-a constantemente a ter a perna direita num tremor infernal e a desviar o olhar das primeiras páginas da obra de Saramago para a entrada sempre que ouvia o pequeno sininho da porta da biblioteca.
Passados sete minutos e quarenta e três segundos da hora combinada, não que a rapariga estivesse a contar, o corpo de Francisco entrou pela biblioteca e ela pôde ver um largo sorriso no seu rosto quando este já se encontrava a poucos metros da jovem.
- Valentina Carvalho pensei que não me darias o prazer da tua companhia nesta tarde friorenta de dezembro – Francisco comenta após cumprimentar a jovem morena com dois beijos.
- Isso devia ser eu a dizer, não? Mas eu só vim porque eu preciso mesmo de perceber Saramago, Francisco Geraldes. – A morena contrapõe no mesmo tom fechando o livro que se encontra nas suas mãos.
- Em que página é que já estás?
- Uhm... página 12. – Valentina afirma coçando a nuca ligeiramente ao ver que o rapaz solta uma gargalhada que é repreendida, mais uma vez, pela bibliotecária
- Tu ainda vais na página 12 e já tens uma opinião tão formatada da obra?
- Em minha legítima defesa eu já li o primeiro capítulo três vezes, porque deixo de ler o livro por um tempo e depois fico meio confusa e tenho de voltar a ler para ver se percebo.
- Estou a ver que isto vai ser uma tarefa mais complicada do que eu esperava... – Geraldes comenta passando a mão pelos seus cabelos e um pequeno sorriso aflora-se no seu rosto quando tem uma ideia que para ele devia ganhar o prémio Nobel das ideias, se isso porventura algum dia existir – Vem comigo!
Após a brilhante ideia, Francisco pega na mão da rapariga que mesmo relutante acompanha-o até ao seu carro sem nunca deixar de perguntar para onde iam ao que o rapaz dizia que ela em breve iria perceber tudo, o que leva Valentina a repetir vezes sem conta que aquilo tudo devia ser um plano do rapaz para vender os seus órgãos no mercado negro.
Após Francisco parar o carro, Valentina fez uma expressão confusa quando percebeu que se encontrava em Alcântara.
- Francisco porque é que estamos em Alcântara?
- Nunca te disseram que com tanta pergunta pareces o burro do Shreck? – Geraldes ri antes de entrar no café deixando Valentina a murmurar palavras menos agradáveis ao número 23.
Após sair do estabelecimento entrega uma das duas bebidas a Valentina que levanta o sobrolho ao ler "José Saramago" no seu copo.
- José Saramago? A sério, Francisco? O que será que ficaram a pensar de ti no café?
- Coisa boa não foi de certeza afinal não é todos os dias que alguém diz que os nomes dos pedidos é Ricardo Reis e José Saramago – Francisco ri e mostra o seu copo a Valentina que ri ainda mais.
- O que raio estamos a fazer no Cais de Alcântara? É agora que vais traficar os meus órgãos? – a morena pergunta quando vê Francisco sentar-se no chão em frente ao cais.
- Não era má ideia, mas antes de traficar seja o que for vindo de ti tenho uma aposta para ganhar.
Valentina assente e bebe um bocado da sua bebida enquanto encarava o rio que estava diante dos dois jovens pudendo ver o pôr do sol cada vez mais próximo.
- Ainda não me explicaste o porquê de me teres trazido aqui. – Valentina reforça, mais uma vez.
Francisco revira os olhos perante a insistência da morena e pega no livro que estava pousado sobre as pernas da mesma.
- "Aqui o mar acaba e a terra principia. Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas de barro, há cheia nas lezírias. Um barco escuro sobe o fluxo soturno, é o Highland Brigade que vem atracar ao cais de Alcântara." – Francisco lê sobre o olhar atento de Valentina que pela primeira vez desde que começara a ler Saramago estava interessada na obra do mesmo. – Agora a menina já percebeu?
Então era isso, o jovem jogador trouxera a estudante para onde a ação do primeiro capítulo da obra do escritor luso decorria.
- Agora sim. Mas podias continuar a ler para mim? – Valentina pede e Geraldes retoma a leitura do primeiro capítulo da longa obra.
O jogador do Sporting continuou a ler sobre o olhar atento de Valentina que sorria sempre que o seu olhar e o de Francisco se cruzava durante a leitura das cinquenta e três páginas pertencentes aos dois primeiros capítulos. Geraldes sentia-se como um pai babado a mostrar o seu filho aos amigos quando se apercebeu que a morena continuava tão atenta como quando este tinha começado a ler a obra sobre o médico natural do Porto que pede um quarto com vista para o rio por tempo indefinido no hotel Bragança, contudo, os olhos da mesma já começavam a pesar o que o fez soltar um sorriso de lado.
- "... A dita é um jugo e o ser feliz oprime porque é um certo estado. Depois foi-se deitar e adormeceu logo". – Francisco termina fechando o livro e encarando Valentina que mesmo com a atenção máxima sobre todas as palavras proferidas pelo rapaz não evita soltar um pequeno bocejo o que faz o sportinguista rir.
- Sabes, tu lês muito bem e tal, mas isto chega a ser mais secante que os quinze anos do Sporting a seco. – Valentina profere pousando a cabeça sobre o ombro de Geraldes que desvia o olhar do sol a pôr-se para a rapariga que tinha um sorriso brincalhão no rosto. – Se continuasses mais um bocado quem iria "deitar-se e adormecer logo" era eu e não Ricardo Reis. – A jovem de dezassete anos afirma e continua com o olhar preso no pôr-do-sol que refletia sobre o rio Tejo.
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E aqui podem observar José Saramago a deliciar-se com um belo de um mocha 😋
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Na melhor companhia 😬📚
@valentinacarvalho: Saramago é um ótimo acompanhante
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Saramago || Francisco Geraldes
Fanfiction"O Ano da Morte de Ricardo Reis" era suposto ser mais um livro obrigatório que faria Valentina morrer de tédio até Francisco Geraldes decidir mostrar a verdadeira beleza do livro de José Saramago à jovem estudante que conhecera numa biblioteca. "- D...