Doze.

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"Então vamos, disse Fernando Pessoa, Vamos, disse Ricardo Reis"


"O ano da morte de Ricardo Reis", José Saramago



Oito meses.

Quando os dois jovens haviam feito a promessa de permanecerem juntos durante os oito meses que restavam a Fernando Pessoa, estes não contavam que esses mesmos meses fossem os equivalentes ao seu fim.

Valentina olhava Francisco ainda perplexa e com um nó na garganta e um aperto no peito enquanto controlava o choro.

- Amor, diz algo. - E ainda nada. - Por favor. - O jovem jogador aproximou-se do sofá onde Valentina encontrava-se sentada com as mãos na cabeça e ajoelhando-se perante ela

- Madrid, Espanha. - Foi a única coisa que disse com a sua voz quase inaudível

Francisco assentiu com a cabeça e tentou puxar Valentina para perto de si numa tentativa de a mesma reagir. E ela reagiu. Mas, não da maneira que ele queria, esta levantou-se repentinamente e colocou-se na ponta oposta da sala.

- Isto não vai resultar. - Proferiu a medo sem encarar os olhos castanhos de Francisco que se arregalaram e começaram a ficar ligeiramente marejados

- Tu, tu estás a acabar?

- Francisco. - E a medo subiu o seu olhar, arrependendo-se logo em seguida ao ver um Francisco com os dedos emaranhados nos seus fios de cabelo castanhos alourados puxando-os ligeiramente em frustração, os olhos marejados e enquanto mordia veemente o lábio inferior numa tentativa de não deixar nenhuma lágrima escapar. Valentina suspirou. - Eu estou tão feliz por ti, Chico. É o Atlético de Madrid! Mas, eu não consigo saber que estou contigo, mas ao mesmo tempo não estou porque tu estás a milhares de quilómetros de mim, não dá.

Valentina já soluçava enquanto as lágrimas caiam vagarosamente pelo seu rosto, Francisco virou a cara não conseguindo encara-la enquanto estava naquela situação por causa dele. E um sentimento de culpa tomou conta de si.

- Mas nós estamos a falar de Espanha não do Quirguistão ou do Uzbequistão, Valentina!

- Por favor, Chico.

- Por favor o caraças Valentina! - Geraldes já não se encontrava em si quando teve a sensação de que a jovem mulher que se encontrava à sua frente já não lhe pertencia, já não era a sua Valentina.

A morena estremeceu com o grito do seu, ainda, namorado e os soluços tornaram-se ainda mais ruidosos. Francisco a passos vagarosos puxou Valentina para si afagando os seus cabelos castanhos enquanto esta chorava no seu peito.

- Desculpa, Chico. Mas, eu sei que não vai dar e...

- Eu só queria que tentássemos antes de desistirmos, Val. Há milhares de pessoas que conseguem ter uma relação à distância porque é que nós não iríamos conseguir? Porra, tu sabes que eu amo-te mais do que tudo. - Geraldes levou as suas mãos ao rosto da Carvalho mais nova fazendo com que esta o encarasse.

Francisco puxou-a para mais perto de si juntando os seus lábios em mais um beijo, mas, desta vez era um beijo diferente, era um beijo de despedida, um último adeus.

- Desculpa. - Foi a primeira coisa que Valentina disse após separar os seus lábios dos do agora jogador do Atlético de Madrid. - Foram os melhores oito meses da minha vida. Adeus, Francisco.

Francisco ainda tentou alcançar Valentina numa tentativa de a demover da sua decisão, mas já era tarde de mais. Tarde de mais para a impedir de sair da sua casa, tarde de mais para a poder beijar mais uma vez, tarde de mais para a impedir de terminar tudo. Era tarde de mais...

"Então vamos, disse Fernando Pessoa, vamos, disse Ricardo Reis"

E com eles foi Valentina. Foi para longe, longe de Francisco.

Saramago || Francisco GeraldesOnde histórias criam vida. Descubra agora