Quatro.

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Valentina Carvalho


Pela última vez encaro o relvado do Estádio da Luz, desta vez já vazio, os jogadores do meu clube já haviam abandonado o relvado para o balneário enquanto festejavam o 2-1 frente ao eterno rival lisboeta deixando um largo sorriso no meu rosto. Mas, do outro lado estava um certo rapaz de cabelos castanhos aloirados que conseguiu prender a minha atenção e por incrível que pareça torci para que este marcasse, e assim foi, aos 74 minutos, Francisco Geraldes diminuiu a desvantagem no contador de dois golos para apenas um.

Decido finalmente abandonar o recinto do estádio e caminho a passos largos para a zona dos balneários onde iria ter com o meu primo João, cumprimento os seguranças com um sorriso e mostro o badge ao meu pescoço que me dá acesso à área restrita encaminhando-me até lá a passos largos.

O meu olhar percorre o corredor dos balneários da equipa da casa e da equipa visitante, junto a este último vejo alguns jogadores verdes e brancos à porta do mesmo e lá estava Francisco, com os fones nos ouvidos, o típico livro na mão e uma caneta brincava entre os seus dedos antes de apontar algo no livro. Sorri. E caminhei até ao jovem jogador perante o olhar atento dos seus colegas de equipa que já tinham notado a minha presença e olhavam-me com um olhar confuso, simplesmente, ignorei.

- E lá estás tu com José Saramago, minha nossa. - Resmunguei após retirar o livro das suas mãos e o moreno esboça um sorriso enquanto retirava os fones dos ouvidos encarando-me surpreso.

- Tu já sabes o que a casa gasta - uma gargalhada adorável abandona os seus lábios fazendo-me esboçar um sorriso ainda mais largo - Mas desta vez é por uma boa razão. E o que é que tu fazes aqui?

- Estou à espera do meu primo.

Após o rapaz anuir após as minhas palavras desvio o meu olhar até aos apontamentos que este havia escrito e percebi serem anotações de locais onde ele me podia levar ou coisas que podia fazer naquele determinado capítulo para me fazer gostar de Saramago. Nesse momento, sorri ainda mais e não sabia que isso era sequer possível.

- Tu estavas a planear as nossas tardes? - eu murmuro e Francisco assente enquanto pousa um braço sobre os meus ombros e deixa um pequeno beijo sobre a minha cabeça

- Como assim as vossas tardes? Chico, andas a sair com uma lampiã? - desvio o meu olhar para o dono da voz e pude encontrar João Palhinha, um dos rapazes que Francisco se dava melhor da equipa verde e branca, que esbraceja para mim apontando para o manto sagrado e os três cachecóis que me acompanham.

Francisco revira os olhos e volta o seu olhar para mim ainda com a cara um bocado ruborizada devido a alguns comentários que os seus colegas, principalmente Palhinha que era agora acompanhado por Podence.

- Valentina! - ouvi o meu nome ser chamado e virei o meu rosto para o local de onde vinha a voz, vendo o meu primo, João Carvalho, acompanhado de Rúben Dias e Diogo Gonçalves que sorriam para mim.

- Estou a ir, estou a ir. - Murmuro rapidamente e entrego o livro a Geraldes depositando um beijo na sua bochecha - Até amanhã Francisco. E parabéns pelo golo. - Sussurrei a última parte e ouvi-o murmurar um "obrigado", antes de abandonar o local ainda proferi um breve "Tomem bem conta do Francisco", o que só fez as piadas de Podence e João piorarem.

Caminho a passos largos em direção aos três rapazes e atiro-me para cima deles felicitando-os pela vitória. Enquanto andamos em direção à saída dou um último olhar a Francisco que me sorri e pisca o olho movimentando os seus lábios num "até amanhã" sorriu com o seu gesto e aninho-me mais nos braços de Rúben que tinha os mesmos sobre os meus ombros.

Saramago || Francisco GeraldesOnde histórias criam vida. Descubra agora