Thinking out Loud || 33

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"And, darling, I will be loving you, till we’re seventy,
And, baby, my heart could still fall as hard at twenty-three" 

 

Harry Styles

          Olivia tinha adormecido, ainda antes do filme ter acabado. No meu caso, vi o filme até ao fim, quer dizer, não todo ao promenor, porque estava sempre a olhar para a mulher da minha vida. É estranho ter estas sensações. Ela deixa-me sem fólego, mesmo estando só em estado adormecido por cima do meu peito descoberto pela manta macia que nos cobria anteriormente. Eu tenho tanto orgulho de ter alguém como ela comigo, mesmo tendo sendo eu, uma criança infeliz e um adolescente agressivo, que por vezes fora violento com todas as pessoas que o amavam. Ela é compreende-me, e fazia-me falta uma pessoa que me compreendesse como ela a mim. Não deixo a minha mãe de parte, ela também me compreende, mas nem todas as vezes que eu gostava que compreende-se. Por um lado, é natural, já lhe dei tanta porcaria e merda saida pela minha boca e gestos que acho que ela por vezes fica com medo que eu volte ao que era. Desta vez sou eu a compreender a posição dela. Ela só quer o melhor para o seu filho, como o seu filho quer o melhor para ela.

          Levantei-me com cuidado, sem acordar a minha musa, e cobri-lhe com a manta. Arregacei as mangas da minha camisa e olhei para o meu relógio de pulso, que se encontra nos ponteiros certos marcando as suas 4 horas. Enquanto Olívia dormia socessagada e relaxada, retirei-me do meu quarto e fui preparar algo para comermos, mas algo muito levar, visto que, ainda à uma hora a atrás estávamos a comer pipocas e a beber sumo. E conhecendo-a como conheço já sei que não vai comer muito depois de a acordar. Resolvi fazer apenas umas torradas e um sumo de laranja natural. Num estante, com tudo preparado, caminho pelos meus passos até ao meu quarto com um tabuleiro na mão.

          Abri a porta tranquilamente, com uma mão, segurando o tabuleiro com a outra fazendo pressão na parede para que este não caia. A porta logo se abre e fecho-a com o meu pé esquerdo devagar. Não sei porque é que estou a fazer o menos barulho possível, se vou ter de lhe acordar daqui a uns segundos. A verdade é que acordar-lhe vai-me custar muito. Ela está tão serena e confortável deitada na minha cama. Imagino todos os dias puder acordar com ela abraçada a mim, como se fôssemos o céu e as nuvens. Onde o calmo e o silencioso amor tornava-se mais profundo.

           Pousei o tabuleiro em cima da cama com cuidado, do lado contrário que ela estava deitada e sentei-me no chão, perto dela. Reduzi a distância que estávamos e beijei-lhe o nariz. A sua cabeça estava deitada na minha almofada e os seus cabelos estavam despenteados, continuando bonitos como sempre , espalhados por entre essa almofada que continha o meu cheiro. Deitei a minha cabeça numa ponta da cama junto a ela e olhei-lhe nos olhos mesmo estando ela com eles fechados e desligados do mundo. Os meus caracóis escondiam-se na minha testa, e esta suava. Eu tinha definitivamente que cortar um pouco o cabelo. Levei a minha mão à sua que estava descansada na manta e entrelacei os nossos dedos. Uma lágrima de alegria caia-me pelo o rosto sentindo o meu corpo todo amolecer, ficando fraco depois de lhe tocar. Ela torna-me tão forte e fraco ao mesmo tempo. É uma coisa incrível. Eu amo-a tanto, e não sei o que faria se a perdesse. Neste estante, ela é tudo para mim, e se assim for, gostava de ser tudo para ela , também.

          Tinha um sorriso parvo no rosto ao observar-lhe e estava capaz de conseguir compor uma canção neste instante. Lembro-me perfeitamente quando escrevia canções no meu quarto, quando ainda não me tinha transformado. Eu escrevia de tudo à minha volta, todas as minhas memórias e recordações. Escrevia canções que se identificavam ao meu estado de espírito. Para mim compor era o meu melhor remédio para a vida que enfrentava naquela casa. Eu sentia tanto ódio pelo o meu pai. Um pai que eu admirava e que por fim, acabei por odiar, ainda mais do que ao que pensava. As coisas mudam de avesso a avesso. Só gostava que a vida fosse como uma máquina de lavar a roupa em que a roupa suja ficava limpa e torcida, e por fim seca. É praticamente isso que eu queria para a minha vida. A vida ser vivida como uma máquina de lavar a roupa, onde os problemas sujos ficassem destorcidos e por fim secos, onde o Outono de certeza levava-os com ele e com as suas folhas secas castanhas estragadas devido ao vento e à chuva. Era tudo simples. Mas tem de haver sempre algo para que isso não seja uma idéia ótima, e outro algo, que é impossível.

Photographer || h.s. (editar)Onde histórias criam vida. Descubra agora