Capítulo XI

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Eu e Lia vamos em direção aos nossos parceiros que estavam próximos a mesa de banquete. Ao nos verem, se aproximam.
-Até que enfim terminaram sua conversa, já podemos ir embora?-
-Lamento Aaron, temos uma missão.- Lia olha em volta. –Vamos conversar na sacada, aqui estamos muito expostos.-
Explicamos a situação aos garotos que escutam atentamente, após alguns minutos começamos a elaborar um plano.
-Acredito que a opção mais óbvia seria nos separarmos, já que não temos um mapa do local, deste modo conseguiríamos alcançar uma área maior com mais rapidez.- Digo.
-Concordo. Há guardas demais aqui, mesmo com a presença do Rei não há necessidade de tantos. A nobreza é composta de bons bruxos, uma quantidade grande de guardas humanos demonstra fraqueza.– Aaron nota.
-Bem posto. Isso significa que escondem algo. Pelo que eu sei esse nobre não é muito inteligente e é muito orgulhoso, ou seja, ele confia demais em sua segurança e isso faz com que ele não esconda bem algumas boas provas. Também é possível que em lugares mais importantes possuam um número maior de guardas.- Lia explica.
-Certo, vamos nos separar. Eu sou muito bom com pessoas portanto irei tentar obter informações com as camareiras, cozinheiras e até guardas, todos tem um ponto fraco. Aaron vai observar, ele irá ficar no salão avaliando os convidados e locais suspeitos. Lia e Astra, por favor não fiquem com raiva de mim, vocês irão procurar informações nos quartos pois, por serem garotas, fica mais fácil de se infiltrarem lá.– Resume Alexander.
-Como assim mais fácil para nós?- Lia pergunta brava.
-Calma irmã...- Eu a seguro. -Ele disse isso porque todos os guardas aqui são homens e nós podemos usar o poder feminino para passar por eles facilmente.-Ela me olha como se eu fosse louca e depois de uns segundos abaixa o olhar e concorda.
-Muito bem... Eu vou para a direita e você, Astra, pela esquerda. Nos encontramos em duas horas no corredor principal, sempre há quartos lá que podemos usar. Vamos, agora!-
Nos separamos e começamos a busca. Não há nenhum guarda a frente e isso não é um bom sinal.
Continuo andando e começo a me deparar com alguns homens em ronda, me escondo, entretanto, meu vestido não ajuda. De acordo com meu avanço no corredor a aparição dos guardas se torna mais frequente. Avisto dois deles protegendo uma porta, maior do que as que eu tinha visto até agora, e mais dois andando de um lado para o outro.
Vou até eles andando cambaleante e segurando uma garrafa de vinho que estava no corredor em uma espécie de altar. Logo chamo a atenção deles que se põem em posição de combate, minha atuação deve estar fazendo efeito pois noto a postura deles afrouxar.
-Com licença rapazes... Mas vocês viram algum garoto loiro, alto e bonito passando por aqui? Acho que o assustei.- Digo fingindo estar bêbada.
Tropeço em meu vestido caindo lindamente no chão. Os guardas da ronda se aproximam e tentam me ajudar.
-Não senhorita, ninguém passou por aqui.-
-Na verdade, ninguém está autorizado a vir para este lado... Como conseguiu passar?-
Dou um sorriso de lado e quebro a garrafa na cabeça do mais próximo que desmaia na hora. Me volto para o outro e lhe dou um chute, pego minha espada e corto seu pescoço e uso-o como escudo até chegar nos que protegiam a porta. Jogo o corpo morto no da esquerda e parto para o da direita, pego minha outra espada e luto. A defesa dele é boa mas consigo perceber uma pequena brecha e logo me aproveito.
“Só falta um.”
Esse último é apenas um novato e a luta acaba bem rápido. Abro a porta com as chaves que consegui nas roupas de um deles e entro. Puxo os corpos para dentro e os amarro, pondo os em uma espécie de armário.
Depois de me livrar dos guardas, começo a analisar o local.
“Um escritório...”
Vou em direção a mesa e começo a abrir as gavetas pegando tudo o que acho relevante, convites para encontros não oficiais, cartas e alguns documentos. Todos apresentavam carimbos desconhecidos, não eram de nenhum nobre conhecido.
Olho novamente os documentos e vejo que os impostos desse lugar aumentaram bastante recentemente, e que eu saiba, esse nobre não está metido em nenhuma dívida com o Rei.
“Por que ele aumentou tanto os impostos?”
Acho mais uma carta com o selo desconhecido:
*Caro amigo,
Estamos gratos pela sua ajuda em nossa causa. O pagamento foi recebido com sucesso e espero nos vermos em breve.
                                    (Carimbo)*
“Nossa causa? Espera... Será que ele está envolvido com a Revolução?”
Encontro outras cartas mas, desta vez, enviadas pelo próprio nobre:
  *Caro Sócio,
Há rumores de minha falta de lealdade para com o povo vindo diretamente de alguns escritores da imprensa local. Gostaria que acabasse com esta história definitivamente. Lembrando que, o que me afeta agora, o afetará amanhã.
                (Carimbo do nobre local)*
“Pedido de execução... Eu tenho que levar isso!”
-SEUS INÚTEIS!!! SÓ HAVIA UMA ORDEM, DE NÃO DEIXAR ESTA MALDITA PORTA DESPROTEGIDA, E ELES AINDA CONSEGUEM FALHAR!- Um homem entra no escritório aos gritos.
Me escondo debaixo da mesa as pressas e ele se aproxima, pelo som parece que está bebendo algo. Vejo seus pés assim que ele fica em frente a mesa, abre a gaveta e pega algo pequeno saindo logo em seguida.
Assim que escuto as portas baterem, saio do meu esconderijo. Vou até a porta e paro quando ouço o nobre dando ordens a, provavelmente, guardas substitutos.
“Não vai dar para sair por onde entrei...”
Olho em volta e vejo uma janela, a abro, olho para os lados enquanto avalio as possibilidades. Consigo ver outra janela e há um pequeno parapeito as ligando; entretanto, se eu quiser passar não poderei levar as provas. Meu vestido não tem entradas e é muito justo, não dá para colocar nada.
“Eu posso esconder esses papéis e quando encontrar meus parceiros peço para um deles vir aqui pegar. Merda de vestido!”
Peguei todos os papéis relevantes e escondi atrás de um quadro que estampava uma foto do nobre com alguns outros homens.
Vou até a janela, a abro e saio. Com muito cuidado vou deslizando pelo parapeito, dou um pulo e caio na beira da outra janela. Passo pelas cortinas e entro no que parece ser um quarto.
Uma flecha atinge a parede ao lado de meu rosto, saco minha arma e me preparo para o combate.
Um feixe de luz lunar invade o quarto dando início a luta, sinto uma flecha vir e a parto no meio. Conforme as flechas vêm eu começo a perceber onde o arqueiro está. Vejo um vulto no fundo do quarto e vou até ele.
“Tenho que admitir, ele não é ruim.”
Ele percebe que estou indo em sua direção e tenta desviar. Pego uma das minhas facas de mão e a arremesso na direção dele. Aproveito seu momento de surpresa e coloco a faca em sua garganta.
-Astra? Espera, espera!!-
Coloco o rosto do arqueiro na luz e vejo quem é, imediatamente o solto.
-Eu pensei que você estava vigiando as pessoas no salão Aaron!! Podia ter te matado.-
-Desculpe.. Acontece que o nobre apareceu e veio nesta direção. Não podia deixar passar, então vim aqui ver, quando os outros guardas chegaram entrei nesse quarto.- Diz enquanto pega as flechas presas na parede. -E você? Onde estava?-
-No quarto em que o nobre entrou. Era um escritório cheio de documentos e cartas suspeitas; entretanto não pude trazê-las pois o nobre pôs novos guardas na porta e não dava para colocar as provas nesse vestido a fim de que eu saísse pela janela.- Olho para Aaron mais uma vez e analiso a roupa dele. Me aproximo e o revisto procurando algum bolso.
-Ei, o que você está fazendo? Não acha que está muito próxima?-
-Se acalma bonitinho, não vou fazer nada contigo.- Me afasto dele. -Você terá que ir no escritório e pegar os papéis que eu deixei lá. Seu sobretudo possui bolsos suficientes para levar todos sem fazer volume na roupa.-
-...Isso que você estava vendo?- Ele suspira. -Está bem, onde os deixou?-
-Atrás de um quadro que emoldura uma foto do nobre com mais dois homens.-
Ele sai em direção a janela e desaparece. Após alguns minutos ele volta e mostra os documentos dentro dos bolsos.
-Agora temos que sair daqui sem  parecermos suspeitos.–
-Bem.. Nós podemos parecer um casal. Isso aqui é um quarto, eles não vão ficar fazendo perguntas se nós sairmos de mãos dadas e com as roupas um tanto bagunçadas.- Ele me encara como se eu fosse louca, começa corar e desvia o olhar.
“Por que todos me olham como se eu fosse louca?”
-Isso vai ser constrangedor, mas é nossa melhor opção.-
Afrouxo um pouco o corpete de meu vestido e giro-o um pouco. Puxo uns fios avulsos do meu cabelo desfazendo o penteado em partes. Depois vou para o espelho mais próximo avaliar e fico contente com o resultado.
Aaron desabotoa parte do seu blazer e bagunça seu cabelo. Não está muito convincente mas dá para passar.
Antes de sairmos eu tiro minhas sandálias e as seguro, dou a outra mão para Aaron e, assim, saímos do quarto. Sinto os guardas nos olharem mas nada fizeram para nos parar, andamos de mãos dadas até o ponto de encontro. Não tem ninguém.
“Eles já deviam estar aqui.”
Continuamos caminhando até que a porta de um quarto de abre e Aaron é puxado, como estávamos de mãos dadas, vou junto com ele. Por conta do movimento  repentino, tropeço em meu vestido e caio encima do meu par.
-Estava me perguntando por que os dois estavam demorando tanto mas acho que já sei. Até que vocês fazem um bom casal.-
-Fica quieto Alexander!– Lia me ajuda a levantar e a arrumar meu cabelo.- Pronto.
-Os dois conseguiram algo relevante pelo menos?- Pergunta Alex.
-Sim.- Aaron tira as provas da sua roupa e as coloca na mesa mais próxima. -Astra encontrou isto no escritório do nobre.-
Lia se aproxima e analisa os documentos.
-Esses carimbos não são de nenhum nobre que eu conheça e... pedidos de execução não oficiais? Alguém está tentando esconder a verdade do povo e da realeza.- Ela diz.
-E vocês? Descobriram algo?- Pergunto. -Eu encontrei o cofre dele, e sabe o que tinha dentro?- Amina-se Lia. -Ouro celestial e prata lunar.-
-Mas esses metais são propriedade dos Caçadores.. Nenhum outro nobre tem autorização para mantê-los em seu cofre particular.- Digo.
-Então quer dizer que ou ele está vendendo ou está tentando se virar sozinho, sem os Caçadores. Já vimos casos de nobres que se achavam completamente auto suficientes e não admitiam nossa ajuda.- Explica ela.
-Ele também pode estar planejando e/ou trabalhando em algo que não tem aprovação da Coroa. Se for isso, os primeiros que ele iria querer se livrar seriam os Caçadores.- Sugere Aaron.
-Acredito que Aaron tenha razão. Descobri com alguns serventes daqui que este nobre recebe várias visitas suspeitas e nenhuma delas é supervisionada pelos Caçadores, como é de costume. Sem falar que o número deles nessa cidade é muito menor do que o ideal.- Complementa Alex.
-Eu percebi isso quando chegamos. Haviam dois na entrada da cidade mas não tinha nem um nas praças. A segurança aqui está mal distribuida e pequena.- Penso um pouco. –Como isso não me chamou a atenção antes?-
Lia olha nos documentos novamente.
-Os impostos... Estão altos demais.
“Quase esqueci isso.”
-Também notei. O interessante é que não há dividas com a Coroa, então ele pode ter aumentado para pagar algo por fora, algo pessoal.-
-Mas os Caçadores locais teriam que avisar o reajuste dos impostos.– Nota Aaron.
-Não se eles estivessem envolvidos em todo o esquema.- Alex nos encara. -Eu soube que alguns Caçadores desapareceram após serem mandados em missão por este nobre. Talvez esses fossem os fiéis aos seus chamados.-
-O que eu sei é que os donos deste carimbo misterioso estão trabalhando em alguma causa e o nobre local os está ajudando.- Afirmo.
-Os Caçadores daqui também estão contribuindo e aposto que recebem algo para ficarem calados.- Diz Alexander.
-Além da ameaça de morte?- Ironiza Aaron.
-Você disse que havia encontrado ouro e prata dos Caçadores, não é? Os nobres não recebem treinamento para manusea-los e esses metais servem apenas para combate. Eles não possuem o brilho nem a beleza de ouro e prata comuns. Talvez o nobre esteja comprando seus Caçadores.- Alex relembra.
-Mesmo que não saibamos exatamente no que este nobre está trabalhando, já temos o suficiente para incriminá-lo. Posse ilegal de ouro celestial e prata lunar, cartas de execução não oficiais, aumento de impostos sem o consentimento da Coroa e suspeita de tentativa de independência.- Digo. -Isso irá tirar dele o título de nobre.-
-Muito bem, já sabemos com o que incriminá-lo. Vamos organizar as provas para ficar da melhor forma possível quando apresentarmos ao rei.- Lia chama Aaron com um movimento da cabeça e ambos começam a trabalhar.
-Deixe-os trabalhar, quero falar contigo.-Fala Alexander.
Quando chagamos a uma distância razoável dos nossos colegas ele continua.
-Você está afim do meu amigo?-
-...Pensei que iria falar ou perguntar algo relevante.- Suspiro alto. -Não.-
-Não há nenhum tipo de atração? Porque iriam formar um belo casal e eu preciso que ele arranje alguém assim eu me livro um pouco dele.-
-Sinto desapontá-lo. Se nos conhecêssemos a dois meses atrás, te ajudaria, mas eu mudei. Não pretendo voltar ao que eu era.-
-Então daria uma chance?-
-Alexander...– Respiro fundo. -Sinto muito se eu parecer rude mas, nós dois, não somos amigos. Essas suas perguntas parecem uma tentativa forçada de se aproximar e é irritante. Grave em sua memória que se vieres a mim com este tipo de pergunta novamente, não terei a mesma paciência que tive agora e isto não será bom para você.-
Ele levanta suas mãos em gesto de desculpas, porém, quando as abaixa esbarra em um vaso que, por sua vez, cai e quebra.
O barulho assusta Lia e Aaron que nos olham com desaprovação.
-Precisam ter mais cuidado! Os guardas daqui são ruins mas...– Ela é impedida de falar quando Aaron tampa sua boca com a mão. Tento ir em sua direção mas sinto Alex segurar meu braço, ele agarra, também, minha tentativa de soco.
-O que está fazendo, imbecil?– Ele me põe contra a parede, ao lado do vaso quebrado, e coloca sua cabeça na curva do meu ombro, dou um chute no meio de suas pernas quando um guarda entra sem aviso.
-O que está aconte.. oh!- Quando vê a mim e Alex juntos ele vira um pouco a cabeça, desviando o olhar para o vaso no chão. -Sinto atrapalhar este momento mas os senhores não estão autorizados a entrar nos quartos.-
-Sinto muito senhor... Só achamos que seria melhor nós não fazemos o que iríamos fazer no salão principal.- Digo ao ver a impossibilidade de Alex para dizer algo.
-Ah. É claro... Deixarei ambos a sós.-Assim que ele sai, Alex cai no chão com ambas as mãos no lugar onde eu havia chutado.
Devio o olhar e vejo Lia e Aaron saindo de um closet segurando o riso e falo:
-Acho que já está na hora de sairmos daqui.-
Eles concordam e vamos até o rei. Os mostramos todas as provas que fortificavam nossas teorias, ele escutou com atenção até terminarmos. Ao final, ele pegou os papéis e se direcionou ao nobre, com um movimento da mão ele chamou os seus Caçadores particulares e, juntos, levaram o suspeito para fora de nosso campo de visão. Esperamos.
Após alguns minutos os rei aparece e nos agradece. Diz que nossa teoria estava correta e que tudo indicava para um tentativa de independência.
-Amanhã enviarei alguns homens de minha guarda particular para vasculhar a casa dos Caçadores desta região. Se encontramos ouro celestial e prata lunar, eles perderão os títulos e irão para a forca. Sugiro que vocês saiam cedo amanhã. Se descobrirem que tiveram algo haver com tudo isso, terão problemas. Não quero que minhas meninas, e seus acompanhantes, passem por estresse por minha causa.-
-Não se preocupe conosco...- Lia sorri. -Com sua permissão, pedimos para nos retirarmos, Vossa Alteza.-
-Permissão concedida.-
Saímos do castelo e entramos em nossa carruagem e somos levadas para o pequeno hotel onde tínhamos nos hospedado e nos preparamos para dormir.
“Amanhã será um bom dia...”

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