Capítulo XIV

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Visão da Lia

Chegamos a outra pequena cidade da redondeza ao anoitecer, passamos o dia conversando sobre os possíveis esquemas do Nobre que prendemos enquanto seguíamos o percurso. Tomei a frente em investigarmos mais a fundo e delatarmos tudo que pudermos ao Rei e acho que os outros gostaram da ideia.

Sinto meus pés fisgarem por passar quase o dia inteiro cavalgando, mas por mais contraditório que seja não quero dormir. Vou até a varanda do pequeno chalé onde passaremos a noite e me sento no corrimão feito de madeira ao lado de Apolo, que logo puxa minha mão com o focinho. Fico lá sozinha pensando, olhando as árvores acerca, as cristalinas gotículas de água caindo de suas folhas enquanto afago a pelugem negra de Apolo e o deixo sonolento.

    ⁃    Amo você, garotão. - Digo baixinho sendo retribuída por um leve balançar de orelhas.

Não sei ao certo quanto tempo se passou, começo a me incomodar com o frio e percebo que Apolo já adormeceu, então decido entrar para tentar dormir. Fazendo o mínimo de barulho possível, abro e tranco a robusta porta de madeira maciça, seguindo então para minha cama. Todos já estavam dormindo, e não demoro muito tempo para acompanhá-los.

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Astra e eu estamos em uma pequena cobertura feita de tijolos e judiada pelo tempo e pelo peso da neve branca e gélida que ali está. Estamos aos fundos do lado de fora de uma casa, olhando para a rua quase vazia. O frio é tanto que consigo ouvir meus dentes se baterem, assim como meus ossos doem cada vez mais.

A pequena está ao meu lado, tremendo como eu, toda encolhida dentro de seu casaco e com seus olhinhos brilhantes saindo dentre a manta que nos cobria os braços e as costas.

Um nobre, a esposa e suas três filhas passam em uma carruagem branca puxada por dois cavalos marrons. Pela pequena janela e entre as cortinas, é possível ver que todos estão bem agasalhados e parecem se divertir lá dentro.

    ⁃    Lia. -

    ⁃    Oi, Fulger. -

    ⁃    Deve estar quentinho lá dentro, não é? -

    ⁃    Deve sim, Astra. -

Vejo-a fechando e abrindo os dedos das mãos, na tentativa de senti-las novamente.

    ⁃    Estão doendo? - Pergunto.

    ⁃    Não consigo sentir. - Ela reclama.

Pego suas mãos e as levo a boca, assoprando e fazendo calor para esquentar. Demora um tempo, mas consigo ver que estão ficando rosadas de novo.

    ⁃    Está melhor? -

    ⁃    Está. - Ela dá o sorriso mais meigo que já existiu, com aquelas bochechas meio coradas e roxas devido a friagem.

"Você não deveria ter fugido com ela do orfanato. Lá pelo menos alimento e moradia vocês teriam, você conseguia lidar com aquela freira sozinha. E agora, Lia? Qual vai ser a sua próxima burrada?" Era só o que eu conseguia pensar.

    ⁃    Que tal irmos lá pegar alguns casacos? - Pergunto.

    ⁃    Vamos, vamos! -

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    ⁃    Lia! Estou ouvindo um barulho estranho lá fora. Vamos ver o que é. - Astra sussurra me balançando na cama.

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⏰ Última atualização: May 29, 2018 ⏰

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