Capítulo V

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Fomos até o estábulo e lá encontramos o oficial responsável sobre os cavalos. Ele nos orientou até os animais que usaríamos, o primeiro foi o de Lia, um garanhão negro de pelos brilhantes, alto e forte, claro que Lia se apaixonou na hora. Lemos uma placa que estava presa a porta de madeira em frente onde o nome Apolo dava lugar. Minhas expectativas apenas aumentaram! Será que vou receber um branco? Ou de pelagem marrom?
Passamos por duas baias e paramos, olhei para a escritura da baia: Ártemis.
"Espere... O meu é uma égua?!"
Olhei para dentro do recinto repleto de fenômeno e vi uma égua dormindo com a cabeça dentro do recipiente onde ficava a comida. Ela era toda manchada nas cores branca e marrom.
-Não posso acreditar... Eu vou ter que montar em uma vaca marrom?!-
A égua acorda por conta do alto som de minha voz e curiosamente se direciona a nós.
-Meu Santo Rei! Ela é linda. - Disse Lia ao começar a fazer carinho em sua cabeça até descer ao em seu focinho. Então a égua bufou e a água contida em suas narinas veio em minha direção, sujando meu rosto e a parte superior de minha roupa.
Minha irmã começa a rir, curvando seu corpo com as mãos na barriga enquanto tento me limpar e me aproximo da égua relinchando.
-Eu não gosto de você.- Concluo dando as costas para ambas.

*QUEBRA DE TEMPO*

Os levamos pelas rédeas até a saída da Sede, prendemos algumas bolsas em suas laterais e o resto colocamos em nossas mochilas, e por fim, montamos e partimos em direção à Moldávia. Me pergunto se os caçadores que devemos encontrar na floresta serão como alguns convencidos com os quais já tive de lidar.
Estávamos cavalgando a alguns minutos e o cenário de casas e palácios dava lugar às árvores enguias, deixando de fato a cidade e entrando na floresta. O som de passadores e o balançar das folhas com o vento traziam pura harmonia junto à luz alaranjada do sol.
Por um segundo, eu e minha irmã paramos para apreciar o lugar, e quando voltei minha atenção novamente, Ártemis não movia um só músculo.
-Vaca, ANDA!- Eu disse batendo minhas pernas nas laterais de seu corpo. -Espere!-
Minha irmã dá meia volta e se aproxima novamente.
-Astra, você lembrou de alimenta-la depois que deixamos a Sede?-
-Ela já não deveria estar alimentada?-Questionei irritada.
Lia revira os olhos e retira uma grande e bela maçã de sua bolsa, dando em seguida para Ártemis, que logo volta a caminhar satisfeita.

*QUEBRA DE TEMPO*

Ao adentrar mais a floresta, a mata se tornou fechada, o que nos traz a sensação de que podemos ser atacadas a qualquer momento. Encontramos uma pequena clareira que parecia pertencer a um antigo acampamento, e já que a noite começara a cair, decidimos parar e desencasar. Sentamos em frente à clareira acesa enquanto esperávamos a carne de servo que compramos na cidade assar. 
-Aqui Astra, eu demorei um pouco mais para terminar esse... É pela formatura. Mas antes tarde do que nunca.- Disse Lia me entregando algo enrolado em uma capa de pano.
Peguei e desenrolei a capa, revelando um machado de lâmina dupla prateado e no topo de seu cabo um espinho dourado. Havia também uma adaga prateada mediana. Nela, trepadeiras esculpidas em alto relevo saem da ponta do cabo até penetrarem a parte central da lâmina, onde o nome Astra D. tinha sido gravado.
-Você prometeu o machado, mas a adaga... É muito bonita. Obrigada irmã.- Agradeci contente.
-Bom, como você havia me prometido um presente, também te trouxe um.- Eu disse entregando o item desconhecido.
Ela desamarra a pequena corda que o prende e abre o embrulho de papel. O diário em branco com capa de couro marrom, os detalhes em suas extremidades e a trava de segurança prateadas fez seus olhos brilharem.
-Agora você pode anotar suas ideias e invenções em um lugar seguro.-
Nós alimentamos com a carne assada e começamos a revezar os turnos para passar a noite. Lia ficou com o primeiro, então dormi por algumas horas e levantei-me para o meu.
Apenas a luz das chamas de nossa pequena clareira impede que fiquemos completamente envolvidas pela escuridão que assombra a floresta. Ao fundo, sons de animais de grande porte e folhas e galhos secos se quebrando, e em particular, o de uma coruja solitária que me incomoda profundamente.
"Torça para que eu não te encontre.. E esses insetos? Não acredito que Lia... O que é isso? Acabaram de me picar?"

Caçadoras da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora