Capítulo III

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Astra POV
- Próximo grupo! – gritou Marxwell.
Estávamos organizados em sete fileiras horizontais de cinco aguardando nossa vez de embarcar na carruagem para nossa excursão.
Já na carruagem, eu, minha irmã duas garotas e dois garotos, em silêncio aguardávamos a chegada ao destino final. Após aproximadamente duas horas chegamos ao que os caçadores chamavam de Sede.
O lugar era enorme e tinha a forma de um palácio. Saímos da carruagem e nos direcionamos a porta de entrada, ela tinha formato angular e era de madeira, em sua superfície detalhes de ouro e prata davam forma a duas espadas que se cruzavam. Este lugar já tinha ganhado meu coração ali mas quando entrei, fiquei completamente apaixonada. A sala era composta de vários lustres no teto e na parede quadros e janelas com longas cortinas roubavam a cena, havia também uma lareira acesa que deixava o local com uma aparência mais acolhedora.
Um homem musculoso com cabelos grisalhos que aguardava no meio da sala, a qual chamavam de Hall de Entrada, veio em nossa direção. Ele tinha uma postura rígida, com certeza era um Caçador de elite. Após trocar algumas palavras com nosso treinador Marxwell ele se virou para nós.
- Olá, meu nome é Elias e serei o responsável por guiar pela Sede, apresentar o local e sua história a vocês.– Disse ele.
Ele se virou e começou a andar, nós o seguimos, é claro. Ele começou a explicação chata dos quadros, do local e da vida cheia de aventura dele mesmo. Perdi a conta de quantas vezes minha irmã me deu uma cotovelada por tirar sarro do velho. Só parei quando ele disse algo realmente útil.
- Bem chegamos ao ponto final de nossa caminhada, essa é a sala que vocês vão usar agora, ela contém as respostas para as perguntas que seu treinador disse que tinham. Esta é a sala que abriga todas as informações a respeito das outras espécies que os Caçadores adquiriram ao longo dos séculos. Bem vindos a Sala de Arquivos.
Ele abriu uma porta e abriu passagem para entrarmos e, como todas as salas deste lugar, ela era muito grande. No centro havia uma estátua do Primeiro Caçador segurando o cabo de uma espada de dois gumes que apoiava no chão, perto da espada estavam as cabeças de um Lobisomem e Vampiro. Em volta desta haviam várias mesas. Três grandes janelas verticais e suas cortinas junto com algumas prateleiras cheias de pergaminhos ocupavam a parede ao fundo. Nas laterais várias estantes cheias de livros tomavam o lugar, cada uma dessas era dividida em quatro setores que eram determinados pela espécie a qual estavam responsáveis e o nome delas estava grifado no chão.
- Se sintam a vontade, os deixaremos sozinhos para explorarem os arquivos. Terei que resolver alguns assuntos importantes agora.– Disse Marxwell enquanto saia da sala.
Assim que ele fechou a porta, os alunos de nossa turma se espalharam pelo local entusiasmados. Olhei para minha irmã que tinha uma expressão de decepção em seu rosto.
- Mais teoria...- ela disse. Só pude rir com seu comentário.
- Ah qual é, se alegre um pouco temos material novo aqui.- 
- Por que se preocupar tanto com a teoria se podemos aprender mais praticando?- Ela perguntou me olhando.
- Em primeiro lugar, nos treinos práticos você nem se meche, fica sentada no banco atirando flechas nos alvos, então nem reclame usando este exemplo. Em segundo lugar, se você ler a teoria e ver o ponto fraco e as armas usadas para cada espécie, terá mais idéias para suas invenções..- eu disse despreocupadamente ao andar em direção ao setor dos vampiros.
- Talvez teoria não seja tão horrível assim mesmo, vou para o setor dos lobisomens e nos encontramos em alguma mesa – ela disse segurando o entusiasmo.
Eu sabia que ela não iria resistir após eu colocar as invenções dela no meio. 
Cheguei no setor e vi que no final dele tinha um quadro com a pintura de um vampiro. Peguei alguns livros que pareciam interessantes e levei até a mesa, alguns minutos depois minha irmã chegou.
Comecei a ler e fiquei impressionada, não sabia metade das informações que tinham ali, na academia aprendemos como identificá-los ( do modo simples, ou seja, pelas presas, alta velocidade e pele pálida) e matá-los, não suas curiosidades.
- Lia, sabia que vampiros tem sangue roxo? E que eles passam por uma fase chamado ‘Despertar' antes de se transformarem completamente? – perguntei animada
- Não então pode me explicar, sei que você está animada para fazê-lo.- disse ela ao fechar o livro que estava lendo.
- Bem, quando um humano é mordido ele não vira imediatamente um vampiro, ele passa por uma fase onde eles meio que morrem então o sangue coagula e fica roxo. Por conta da magia que os transforma a íris destes espande até o olho todo ficar preto, este conjunto de acontecimentos junto com a vinda de força e velocidade sobrehumana é chamada de Despertar. Esta fase dura em torno de quarenta e oito horas. Eles são altamente perigosos, neste período são completamente irracionais e pensam apenas em alimentar-se. Não dá para acreditar que criaturas assim sempre existiram... São monstros! – disse um tanto impressionada
- Por isso que seremos caçadoras, criaturas assim merecem apenas a morte, se cruzarmos com qualquer um destes iremos matar sem pensar até o último desta espécie repugnante! – Lia disse com ódio no olhar
- Aqui também diz que eles são imortais, isso já sabíamos, só morrem ao cortar a cabeça, também sabemos e ouro celestial é tóxico para eles, bem, também não é novidade.- disse ao revisar as páginas do livro – Mas e você? Achou algo interessante?- 
- Na verdade sim. Além do que já sabíamos, que prata lunar é tóxica, morrem ao serem atingidos no coração pela mesma, são identificados pelos olhos cor de mel e super sentidos há também as curiosidades. Bem.. eles tem uma cicatriz na parte externa da mão para marcar a transformação, se orgulham desta fase e usam esta cicatriz para demonstrar isso. Têm uma rixa com os vampiros desde os tempos antigos pela disputa por comida. Os lobisomens não se transformam pelas mordidas e sim pelos genes. Eles são mordidos, mas é uma forma que estes encontram de passar o poder, geralmente, este gesto é apenas realizado nas famílias quando a geração posterior atinge a idade adulta. Assim como os vampiros eles têm um “despertar” mas para eles se chama apenas fase de transformação pois é algo normal na vida de um lobisomem. Nesta fase eles ficam muito fortes e se transformam descontroladamente, têm alguns apagões o que é muito perigoso pois seu lado animal se sobressai.- Ela me explicou calmamente. – Ah, mais uma curiosidade: mordidas de Lobisomens são mortais para vampiros.- 
- Ah sim, as de vampiros também são mortais para lobisomens, mas ambos são orgulhosos e prezam muito a honra, ou seja, quando ambos lutam eles não usam este método da mordida, apenas em casos extremos.-
- Em toda a sujeira e repugnância destas espécies eles pelo menos possuem “honra”.- Lia disse meio irônica.
- Assim nós temos mais vontade de matá-los. – Falei com um sorriso de lado. – Mas sabe... acho que sabemos de tudo sobre estas espécies, mas falta uma: as bruxas.- 
- Isso podemos resolver, vamos devolver esses livros aos seus respectivos setores e então pegamos alguns da seção delas. – disse minha irmã já se levantando e juntando os livros.
Me juntei a ela e devolvemos os livros, pegamos o material que achamos ser necessário para nossa pesquisa sobre as bruxas e voltamos a nossa mesa. Após algum tempo lendo aqueles livros, os fechamos e começamos a comentá-los.
- Quem começa? – Lia perguntou.
- Pode ser você mesma. – Respondi.
- Então tudo bem. – ela disse se ajeitando para começar a explicação – Como sabemos, as bruxas são divididas em duas classes: de as brancas e as negras ou puras e impuras. O livro que eu peguei fala com mais profundidade e prioridade sobre as brancas ou puras. Essas bruxas são consideradas abençoadas por deuses e por isso ocupam altos cargos na nobreza, um grande exemplo é o nosso Rei. São almas boas e cheias de luz o que é refletido em seus poderes que são os de cura, de ligação com a natureza e o dom de mover objetos com a mente. Não gostam de lutar e sempre optam pela paz e igualdade. Após usarem seus poderes pela primeira vez aparecem mechas brancas em seus cabelos e faixas de luz em seus pulsos e antebraços como marcas, e durante o uso de seus poderes, seus olhos ficam completamente brancos. Sempre foram grande líderes e lutaram pela segurança dos humanos com relação os vampiros, lobisomens e até mesmo bruxas negras.-
- Muito bom.. minha vez – disse ao fechar o livro a minha frente. – O meu livro fala sobre as negras ou impuras. Ao longo da história elas sempre foram um problema para os humanos e as brancas, sempre causando discórdia e lutas, anseiam pelo poder e fazem de tudo para alcancá-lo, ou seja, matam sem misericórdia. Nunca foram bem vindas em meio dos humanos por sua aparência assustadora quando usam seu poder: elas ficam com os olhos vermelhos e a íris muda de forma, várias marcas em formas de tatuagem aparecem em todo o corpo e linhas negras aparecem em volta dos olhos. São muito poderosas, podem mover objetos com a mente, entrar na mente das pessoas, controlar animais e até a natureza. E após corrompê-los, não fazem isso apenas com plantas e animais, mas com outras espécies como, por exemplo, vampiros e lobisomens. Ambos eram pacíficos e até mesmo amigos da Coroa até que as bruxas negras os mudaram conforme sua devida vontade, os tornando um perigo aos nobres e humanos, foram elas que criaram a Rebelião que existe até hoje. Com isso podemos compreender que elas são extremamente perigosas e precisam ser detidas e foi isso que os Caçadores e Bruxas Brancas/nobres fizeram, em torno de uma década atrás estes se juntaram contra as Impuras e extinguiram toda espécie.-
- Menos uma espécie para nós preocuparmos. – após Lia dizer isto a porta da Sala de abriu revelando Marxwell e Elias que nos chamavam para irmos embora. Olhei para a janela e vi que o sol já estava se pondo, mal tinha percebido que tanto tempo se passara.
Elias nos acompanhou até a porta de entrada da Sede e então se despediu. Fizemos nossa habitual formação para embarcar-mos nas carruagens, voltamos com o mesmo grupo da vinda, a única diferença era que desta vez conversavamos animadamente e trocavamos informações a respeito do que havíamos descoberto até que fomos surpreendidos pela subta parada dos cavalos.
“Por que paramos? Não é possível já termos chegado.”
Nos entreolhamos e começamos a pegar nossas armas que estavam ou no nosso corpo/roupa ou na carruagem, escutamos um uivo sendo seguido pelo barulho de pessoas gritando em desespero. Este foi o ápice, saímos da carruagem, com Lia liderando, e logo vimos a batalha que se formava do lado de fora. Vários lobisomens (em sua forma humanoide) e vampiros (com suas veias roxas saltando) atacavam sem piedade os aprendizes inexperientes e em choque, os triturando e esquartejando.
“Verdadeiros animais, eles nos pegaram de surpresa.”
Era horrível, e por um minuto ficando apenas parados analisando tudo aquilo. O primeiro a despertar do transe foi o garoto de cabelos bronze ao meu lado, que com sua lança perfurou e cortou a garganta de um vampiro que tentou atacar a garota na minha frente. Assim nosso grupo se comunicou rapidamente com o olhar e nos separamos. Eu fui para a esquerda, saquei minhas espadas e ataquei qualquer um que não possuísse o símbolo dos caçadores estampado na roupa.
O primeiro que matei foi um vampiro, cravei minha espada em seu peito e o prendi na árvore mais próxima e, com a outra espada, cortei sua cabeça. Peguei minhas espadas e fui em direção a um colega que estava encurralado por dois lobisomens, cheguei cortando a coxa do mais próximo, girei e enfiei minha espada no espaço entre os olhos do outro, cravei minha outra espada no coração do primeiro o matando, quando virei vi que o lobisomem número dois já estava morto no chão e meu colega estava ao lado dele com minha espada na mão. Ele me devolveu minha arma e neste gesto pude observar a marca de uma mordida em seu braço.
“Droga!”
Olhei para ele e com minha espada apontei para a mordida.
- Você conhece o regulamento, não é mesmo? – perguntei enquanto me posicionava para atacá-lo.
- Não.. NÃO!! Por favor não..!! – ele dizia enquanto tentava esconder sua ferida e dava alguns passos cambaleantes para trás.
- Sinto muito. – disse enquanto cortava seu abdômen em formato de X e logo em seguida sua cabeça – Mas não posso deixar que um dos nossos se transforme em um monstro como eles. 
“Não tenho tempo para sentimentalismo agora, meus colegas precisam de mim.”, pensei enquanto me movia em direção a um outro grupo de amigos.
Éramos três contra cinco, comecei a atacar os três da minha frente, dois lobisomens e um vampiro, ao mesmo tempo. Cortei a mão de um, coxa do outro e garganta de outro, nesta divertida dança matei um lobisomem e perdi uma espada. Continuei como se não tivesse acontecido nada. Acertei o coração do outro lobisomem mas acabei sendo desarmada pelo vampiro, dei uma cambalhota para trás e peguei a espada de algum defunto por perto e fui em direção ao desgraçado que me desarmou. Fui mais rápida desta vez e esperei para atacar devido suas investidas. Analisei seu movimento e então ataquei, cortei seu peito e enfiei a espada no seu coração e enquanto olhava em seus olhos peguei minha adaga em meu tornozelo e a cravei no seu pescoço. Puxei minha espada e cortei sua cabeça. Por alguns segundos a observei rolar e então tirei minha adaga da mesma.
Ofegante corri em direção ao próximo grupo, então para o próximo e próximo. Já estava cortada, arranhada, sangrando e dolorida, mal sentia minhas pernas e só conseguia pensar em como isso era diferente do treinamento.
“Parece que a batalha está acabando e é melhor mesmo porque eu só quero ir embora daqui com minha irmã e... Espera um momento.. onde é que está a minha irmã???”
Olho para todos os lados mas não a encontro, já estava começando a ficar preocupada até que sinto um forte impacto no meu peito e sou jogada para longe até que paro ao bater em uma árvore, com a força e susto causado pelo impacto acabei deixando minhas armas caírem. Sinto o ar sair de meus pulmões, olho para frente e vejo um vampiro um tanto diferente. Ele era mais alto, forte e seus olhos eram completamente negros.
“Ele está na fase do Despertar...”
Mas o que mais me chamou atenção foi sua roupa, que poderia ser reconhecida em qualquer lugar. Era a roupa de um caçador, ele era um de nós.
Girei para o lado, me levantei e tentei correr em direção a arma mais próxima, mas ele era mais rápido e chegou em minha frente, com outro empurrão ele me jogou para longe.
Tentei levantar e lutar. Desferi vários socos e chutes nele mas a única que sentia o impacto era eu, sua pele parecia de pedra. Dei outro chute mas ele segurou minha perna, me virou e jogou em direção às carruagens. Por conta de eu ter batido com tanta força na mesma, eu não conseguia levantar e estava vendo tudo dobrado, sentia apenas o sangue escorrendo de algum lugar em meu rosto e as dores no corpo todo.
Ele parou na minha frente e eu tentei novamente levantar, o que não deu certo. Com uma mão ele agarrou meu pescoço e me levantou prensando minhas costas na carruagem. Não estava mais conseguindo respirar, tudo estava ficando preto e meus olhos automaticamente se fecharam.
“Não acredito que vou morrer aqui, sério, tantos lugares legais para morrer e vai ser aqui. Apenas mais um corpo, não vou nem me destacar...!”
“Mais uma vez aqui, cara a cara com a morte e...”
Senti um líquido espirrar na minha face, o que interrompeu meus pensamentos filosoficamente mórbidos, então a pressão sobre meu pescoço diminuiu e eu caí no chão. Em alguns segundos recuperei minha visão e vi que tinha uma flecha de ouro celestial no meio da testa do vampiro, esta estava ligada a um cabo que o puxava para trás. Ainda no chão, segui o cabo com o olhar e ao final dele encontrei uma garota de cabelos loiros puxando com toda sua força aquela corda.
“LIA!! Você está b.. mais ou menos bem, nossa você está acabada!”
Olhei novamente para a corda e vi que estava começando a arrebentar, observei o local e encontrei um machado que estava preso a um corpo. Fui até ele e o peguei, quando virei vi o momento em que o cabo arrebentou. O vampiro de desequilibrou e caiu para frente, quando ele levantou a mão para arrancar a flecha na sua testa minha irmã atirou outras flechas que cravaram suas mãos e pés no lugar. Aproveitei a oportunidade e fui em direção a ele com o machado, dei impulso para pular e quando cai coloquei toda a minha força nele, e direcionei no pescoço daquele monstro.
Peguei a cabeça pelo cabelo e levantei para mostrar à Lia, esta sorriu e veio até a minha direção. Quando ia largar a cabeça notei que ela possuia uma tatuagem na nuca.
“Ah Não... É a tatuagem dos Caçadores Oficiais.”
Quando virei-a para mim percebi que o vampiro que matei não era um aprendiz qualquer, era na verdade nosso treinador Marxwell!
Larguei-a subtamente após esta revelação e me virei para minha irmã.
- Era o nosso treinador!!! Eu matei nosso treinador! – eu disse meio que em choque.
- Ei, você matou um vampiro! Um vampiro perigoso que queria te matar, não tinha nada do nosso treinador ali. O corpo poderia ser dele mas não a alma, além do mais ele iria querer assim. – Lia disse tentando me confortar.
- Como você sabe disso? – a perguntei.
- Bom, foi ele que nos treinou e ensinou para fazermos o que fosse necessário para garantir nossa sobrevivência. – ela disse por final – Vamos, temos que encontrar os outros que restaram é melhor ficarmos juntos.
Estávamos todos acabados. Dois garotos e uma garota estavam sentados em choque. Eu e minha irmã estávamos de guarda e um outro menino ajudava os sentados com os ferimentos. Escutamos um barulho de cavalos e logo ficamos atentas pois os que eram nossos não podiam ser, eles estavam mortos também. Já estávamos nos preparando para lutar novamente até que vimos a luz emitida pelas tochas. Eu já estava pronta para atacar mas então eu vi de relance o símbolo dos caçadores na lateral da carruagem, não tinha certeza do que havia visto, estava tudo muito escuro porém quando esta se aproximou tive certeza.
Elas pararam a alguns metros de nós e dela desceram algumas pessoas. Entre elas estava Elias, que só consegui identificar quando estava bem próximo de nós.
- Só sobraram vocês? – ele perguntou
- Infelizmente sim, Senhor. – respondeu minha irmã ao observar o pessoal. Mal podia acreditar, éramos trinta e seis pessoas contando com nosso treinador, agora éramos apenas seis.
- E onde está o Oficial Marxwell? – ele perguntou novamente.
- Ele não resistiu, Senhor. – desta vez eu respondi.
- Sinto muito.. Enfim, temos que focar em vocês agora, vamos levá-los de volta para a Sede, terão pessoas especializadas para cuidar de seus ferimentos. – ele dizia enquanto nos encaminhava para uma carruagem.
Faziam apenas algumas horas desde que estivemos aqui pela primeira vez, entretanto pareciam meses. Não consegui ver aquele local da mesma maneira, antes estávamos entusiasmados, ansiosos e alegres. Mas agora estamos aos pedaços.
Assim que entramos fomos atendidos por curandeiros que nos guiaram até outro quarto, onde eles cuidaram de nossas feridas.
As meninas e os garotos foram separados. Eu, minha irmã e mais uma garota fomos a uma sala onde pudemos banhar-nos. Saímos desta sala com um sobretudo e encontramos algumas mulheres segurando nossas roupas. Agradecemos e nos vestimos. Ficamos deitadas nas camas dentro do cômodo, que parecia com nosso dormitório na Academia, olhando para cima. Eu não conseguia tirar as imagens da batalha de minha cabeça, acho que nenhum de nós. Meus devaneios foram interrompidos quando uma mulher entrou e chamou nosso nome.
- Olá, me pediram para chamar as senhoritas pois o Conselho quer saber o que exatamente aconteceu durante a luta de vocês. – ela disse – Sigam me, mostrarei o caminho.
Depois de andar alguns minutos por aqueles corredores, finalmente chegamos ao que parecia nosso destino final. A mulher bateu três vezes na porta e quando escutou um 'Entre!' a abriu e nos deu passagem. Os garotos já estavam presentes no local e apenas três cadeiras estavam livres, para nós, é claro. Após sentarmos avaliei a sala, que era completamente sem graça, uma mesa redonda ocupava o local no centro, a minha direita havia uma lareira e acima desta um quadro com o símbolo dos caçadores e uma janela grande ao fundo. O local era iluminado graças ao fogo da lareira e das tochas presas as paredes. Na mesa estávamos eu, Lia, nossos colegas de classe que sobreviveram, Elias e outras pessoas que eu não conhecia, todos Caçadores Oficiais.
- Muito bem.. Queremos saber o que aconteceu na batalha que travaram a algumas horas atrás e, por favor, não escondam nada. – pediu Elias.
Começamos a falar, cada um em seu ponto de vista. Não escondemos nada. Depois que falamos tudo o que sabíamos um homem barbudo se levantou e disse:
- Agradecemos pela sinceridade, podem sair. – Quando todos já estávamos nos levantando ele novamente se pronunciou. – Vocês três não. – disse ao apontar para mim, Lia e o garoto que nos ajudou com os ferimentos no campo de batalha. – Queremos conversar melhor com vocês.
Dito isto, nós nos sentamos novamente.
Uma mulher de cabelos curtos cacheados começou: 
- O que vocês fizeram hoje foi impressionante, não só agiram com maturidade como também com profissionalismo. Sentimos muito que tiveram que passar por isso mas foi uma surpresa para todos. Sei que é um tanto cruel fazer com que revivam aquele momento novamente, mas isso se faz necessário para que possamos melhorar nosso sistema de segurança o mais rápido possível, não podemos ser surpreendidos assim de novo.
- Ela tem razão, fomos pegos de surpresa e quem pagou foram vocês. Mas com as dores que nos tornamos mais fortes, então, queremos fazer uma proposta para vocês. – disse um homem careca.
- Vocês demonstraram hoje o que muitos tentam demonstrar em anos, nos mostraram que são verdadeiros Caçadores e queremos tornar isto oficial. – disse uma mulher de cabelos presos em rabo de cavalo.
- Me perdoem mas não estou entendo. – disse nosso colega de classe.
- Bem... O que eles querem dizer é que hoje vocês agiram como verdadeiros Caçadores. Mas no momento são apenas aprendizes, e como vocês os impressionaram demasiadamente eles querem acelerar o processo e transformá-los oficialmente em Caçadores da Coroa, não tendo assim que passar pelas provas finais da Academia. O que vocês acham? – nos explicou Elias.
Nós nos assustamos com a proposta e nos entreolhamos. Eu levei minha mente novamente até a batalha, a adrenalina, a aproximação da morte, o medo, o desespero, a falta de piedade ou misericórdia. Revivi o momento em que matei meu treinador friamente e meu colega que havia sido mordido. Não sinto nada, não sinto pena, arrependimento ou remorso, no fundo eu sei que gostei, me senti útil, me senti alguém. A Academia de Caçadores me deu um propósito e eu gosto dele. Se ser caçadora é isso, esse é o fardo que tenho que carregar, estou pronta!
Olhei para minha irmã e vi que sentia o mesmo, olhei para o garoto ao meu lado e vi o mesmo.
Nos voltamos para o Conselho e dissemos em uníssono:
- Nós aceitamos a proposta, aceitamos virar Caçadores da Coroa! - 

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