Prólogo
Zayn's POV
Quando eu ainda tinha sete anos, meu pai me disse algo que naquele momento não fazia-me o menor sentido.
"Só os olhos podem te dizer toda a verdade."
Em uma noite de setembro, eu ouvi o som de quatro disparos de arma de fogo. Eu estava com tanto medo de levantar da cama que minhas pernas tremiam. Quando o barulho de sirene invadiu meus ouvidos, eu corri para me esconder no guarda-roupas. São os lobos invadindo as casas outra vez? Não eram. Um tempo depois um homem da policia me encontrou. Eu fui levado à delegacias, juizados de menores, todas essas coisas. Três dias depois eu fui ao enterro do meu pai. Mais uma semana depois eu fui encaminhado para um orfanato, esse o qual me encontro até hoje.
- Temos de todo tipo que quiser. Brancas, pardas, negras. Olhos claros, escuros. Diversas nacionalidades. Idade. - eu juro que posso vomitar a qualquer momento. A diretora do orfanato falava como se fossemos objetos, mercadorias - Creio que nem ao menos queira um adolescente, mas aviso que se quiserem um, não escolham esse. - a mulher me encarou com nojo, vadia - Além de problemático, o garoto é muçulmano, nunca o quiseram adotar, graças que em um ano ou menos não precisaremos mais aturar essa peste.
Graças a Deus.
Graças a Alá.
Graças aos Deuses.
Se passaram dez anos desde que tudo aconteceu e durante todo esse tempo eu nunca fui escolhido. De certa forma era um alívio. O pior são os eventos ou quando algum famoso quer crescer seu IBOPE e vem ao orfanato doar dinheiro ou coisa do tipo: ridículo. Aquele dinheiro nunca é investido no orfanato ou nas crianças. E eu dou graças por só faltar dez meses para me ver livre desse lugar.
Duas horas depois fomos liberados a voltar para nosso quarto ou fazer alguma atividade física no pátio. Meu quarto é dividido comigo e mais sete garotos, um deles sendo bem mais novo que o restante.
Daqui a duas semanas um cantor iria vir para um show de caridade. Eu odeio essas coisas, será que ninguém além de mim sabe que essas coisas são só para que a mídia fale bem deles? Ah, fala sério, são todos uns hipócritas de merda.
- Zayne. - aquela voz fininha me acordou.
- O que houve Logan? - o menininho na porta estava de pijamas e agarrado em um coelho de pelúcia.
- E-eu não q-quero dormir sozinho. - o pequenino resmungou, se apertando ainda mais ao coelho.
- Isso quer dizer que você quer dormir aqui, não é? - ri baixo.
- Zayne deixa? - Logan fez biquinho e eu abri os braços para que Logan viesse até mim, e assim o pequeno fez.
Logan foi abandonado pelos pais dois anos atrás, quando tinha dois anos, e, desde que entrou no orfanato, ele procurou carinho em mim e eu não o neguei isso. Eu sou o mais velho entre os órfãos e sempre que algum garoto ou garota tem dúvidas ou coisas eles me procuram e eu não posso negar isso a crianças que já foram tão negadas.
- Vamos dormir, tá bom? Já está tarde e logo o resto dos meninos estão aí. - Logan balançou a cabeça com calma e correu para debaixo do cobertor. Ri da fofura da criança e me deitei ao seu lado. Em pouco tempo já estávamos dormindo.
-x-
Os dias passaram tão rápido que eu sentia vontade de xingar a porra do movimento da Terra por fazer isso. Desde ontem estamos arrumando todos os enfeites e preparações para o show beneficente. Era hoje que aquele tal cantor iria se apresentar e minha maior vontade era passar todo o dia no quarto. Como se fosse possível.
Nossas roupas são escolhidas a dedo pela diretora do orfanato e as pau-mandados dela. Roupas ridículas.
A maior luta do dia foi, definitivamente, para usar o banheiro. Somos em oito garotos no quarto e um banheiro. Deixei que todos se banhassem primeiro e fiquei por último. Em dias comemorativos, a água quente podia ser usada e isso era um alívio. Odeio banho frio.
Durante o banho, eu só conseguia pensar no quão pouco faltava para que eu saísse desse inferno. Dez meses.
- Vamos descer Zayn, termine logo seu banho. - Luke gritou por trás da porta.
- Podem ir, eu não demoro.
Me sequei com pressa e coloquei a roupa. Ridículo. Uma calça formal, camisa quadriculada com um colete social e suéter, caso alguém sentisse frio. Qualquer coisa era melhor que aquilo. Calcei os sapatos sociais e desci.
Tudo estava um tumulto, todas as crianças do orfanato reunidas em um lugar só era pior que um formigueiro. Procurei Logan por uns bons quinze minutos e fui o achar perto de umas garotas, pedi licença e peguei o garoto no colo. Era melhor ter ele perto de mim, pois já tivemos problemas com crianças pequenas em outros eventos. Quase uma hora depois começou o tumulto de verdade e a diretora nos obrigando a ficar em pé quase em uma fila. Ela queria que eu soltasse Logan, mas no momento aquilo não era uma opção, ele iria ficar ali comigo.
- Senhor Payne, que prazer! - a megera quase gritou. - Como o senhor está?
- Muito bem, e a senhora?
- Idem, querido, vamos ver as crianças.
A megera trouxe o homem para perto e aí eu entendi o motivo de tanto alvoroço. Tinha como esse cara ser mais gostoso?
Sua pele com um leve bronzeado, os olhos castanho-chocolate, topete bem feito, boca rosa e carnuda. Camisa branca e jaqueta de couro preta, jeans largo com rasgos, coturno marrom acobreado.
O cara exalava beleza e auto-confiança. Era quase como um filho de Apolo. Porra.
Como se aquilo fosse fazer parecer que ele se importava, ou guardaria o nome das crianças, ele foi de um em um perguntando seus nomes.
Eu e Logan estávamos pouco depois do meio da fila, ainda antes do final. Com alguns minutos de pé e com Log no meu colo, o tal cantor chegou até nós dois com a cobra ao seu lado. O homem olhou pra gente como se estivesse nos avaliando - pronto, mais um - e logo depois sorriu para Logan.
- Desculpe o comportamento dos dois. O mais velho não arruma o cabelo da forma devida de jeito nenhum e acaba influenciando o menor. - a diretora suspirou em desgosto ao final do que disse.
Em todo dia como esse os meninos deviam pentear o cabelo completamente para trás e as meninas usarem coque. Todos os meninos com mais de onze anos deviam aderir ao corte militar. Eu nunca deixei que cortassem o meu, fugia nos dias de corte, fazia qualquer coisa, e o arrumava com uma navalha ou coisas que eu conseguisse 'roubar' do banheiro da diretoria.
- Qual seu nome, pequenino? - O homem estendeu a mão e Logan tentou a segurar, apesar da sua pequena mão ser praticamente um grão perto da do mais velho.
- Logan Lerman. - o pequeno levou a mão livre ao meu cabelo acariciando perto da nuca, sempre adorável.
- Belo nome. - o cantor sorriu para Logan e focou sua atenção em mim - E o seu, moreno?
Moreno. Mas que porra?
- Zayn Malik.
- Árabe? - curvou a sobrancelha.
- Quase isso.
- Vamos para os próximos, senhor Payne. - a megera começa a se irritar, já que a atenção do homem não está onde ela queria.
- Claro. Aliás, gostei do topete. - o amorenado disse antes de se virar de vez e seguir a diretora maldita.
- Viu Zany, todo mundo gosta do seu cabelo. - o pequeno se arrumou melhor no meu colo, escondendo o rosto em meu pescoço e alisando o cabelo da minha nuca.
Moreno...Era só o que me faltava.