Finn segurou minha mão e corremos pela floresta. O som soou alto e nos escondemos atrás de uma árvore, os braços dele me abraçavam forte.
- Acha que eles nos viram? - indagou ele alarmado falando no meu ouvido.
- Não. - balancei a cabeça - Eles foram pelo outro lado.
- Não dá pra ganharmos disso, El. - disse ele me abraçando mais - Hawkins está infestada de demodogs. É questão de tempo até o devorador de mentes nos achar.
- Não vai! - respondi - Nós vamos dar um jeito.
- Você sabe o que ele quer.
- Mike. - falei baixinho - Ele não vai me pegar, vou ficar bem.
- É diferente agora. - disse ele com a voz trêmula - Não vou deixar que machuquem você.
O olhei de soslaio.
- O importante é que não machuquem você.
Ele abriu a boca mas o som soou de novo.
- Vamos! - foi minha vez de puxa-lo em direção à casa dos Hopper, minha casa de certa forma.
Assim que entramos e trancamos a porta juntos, nos olhamos e encaramos a porta. Mas não aconteceu nada.
Uma voz nos assustou cerca de cinco minutos depois de entrarmos.
- Millie, Finn. - era Shawn - Vamos ter que parar por aqui, houve um pico de luz e estamos desativados e não conseguimos tirar vocês daí. Só mantenham a calma e vamos esperar juntos até que volte. Vocês me ouviram?
- Sim! - dissemos juntos e nos entre olhamos.
Finn caminhou até a parede oposta e sentou-se no chão. O acompanhei e me sentei de frente pra ele, encostando as costas no sofá.
- É engraçado né? - ele riu - Somos profissionais nisso mas ainda sim é bizarro como saímos dos personagens de repente.
- O engraçado é que eu vejo muito do Mike em você. - disse pra ele - Mas acho que faz parte a gente se sentir assim. Em um momento eu sou a eleven, em outro sou a Millie.
- A gente provavelmente nunca parou pra falar disso. - ele se devagou em cada palavra - Tanta coisa mudou, já é a última temporada, entende? Crescemos fazendo isso.
- Com certeza não é mais bizarro do que pensar que você continua sendo a única pessoa que eu beijei nos últimos quatro anos.
- Eu sinto muito por isso.
- Por quê? - mordi meu lábio inferior.
- Seu primeiro beijo deveria ter sido especial. - ele balançou a cabeça e seus cachos caíram em seus olhos - Sinto que estraguei isso. Afinal, beijar é uma droga.
- Eu era uma criança! - reclamei envergonhada com o comentário - Eu nem sabia o que dizer do beijo, foi estranho o fato de ter tanta gente nos olhando.
- Mas precisava ter dito que era uma droga?
- Não foi uma experiência boa porque eu nem sabia o que estava acontecendo direito. - repliquei - Você também estava nervoso, mais que eu, não parava de enfiar tic tacs na boca.
Rimos.
- Mas foi diferente da segunda vez, digo, um ano depois.
Ele não soube o que falar.
- Temos que ser sinceros. - engoli em seco - O "vou me aproximar" me fez rir por dias, mas eu gostei.
- Gostou?
- Olha, você é meu melhor amigo e sabe disso. - sorri pra ele - O fato de eu ter te beijado por tanto tempo assim, estamos falando de anos, me fez perceber que talvez eu não quisesse um beijo qualquer.
- Então o meu beijo é um beijo específico? - ele riu - Isso me faz sentir melhor, sinto que assim sou um amigo melhor.
- Quero te falar algo sobre isso.
- Não sou um amigo melhor então, já entendi.
- Não é isso. - balancei a cabeça - Eu te considerei meu irmão por anos, a pessoa que eu sempre protegeria e teria uma amizade saudável. E foi assim por muito tempo.
- Onde vai chegar com isso, Mills?
Me aproximei dele e toquei sua perna com a minha.
- Não somos mais crianças, Finnie, coisas estão acontecendo e melhores amigos compartilham o que sentem.
- O que houve? - ele me encarou - Sei que algo está errado.
- Eu estou torcendo todo esse tempo pra não ter que dizer que eu sinto algo por você. - fechei meu olhos e respirei - Mas sinto. Algo mudou nos últimos dois anos, ficar perto de você é quase uma tortura. Poderia ser algo passageiro, mas de verdade estou tendo que lidar com isso por mais tempo do que eu esperava.
Ele não falou nada, apenas tocou minha mão.
- Algo mudou pra mim também. - ele sorriu sem jeito - Você é mais especial do que pensa.
Trocamos olhares por alguns minutos, até eu me inclinar e beijar seus lábios lentamente. Foi mais demorado do que qualquer outro beijo que já tínhamos dado na vida. Até ouvirmos a porta abrir.
Abri os olhos e o encarei olho no olho.
- Prometa que não vai contar isso a ninguém.
- Eu prometo. - ele gaguejou mas não disse mais nada.
Depois, me levantei e saí dali. Não queria mesmo pensar na possibilidade de ter entendido errado as palavras dele. Eu era especial, eu tinha ouvido bem, mas talvez esse especial não fosse o que eu queria que fosse.
Sadie me recebeu primeiro que todos perguntando se estava tudo bem. Não estava mas eu tinha que mentir pra me convencer.
- Sim. - eu respondi - Eu estou bem.
Finn chegou logo depois e me fitou de imediato com um pequeno sorriso no rosto. Naquele momento meu coração se acalmou, eu podia ver na expressão dele que não tinha se decepcionado. O especial estava certo. Sorri de volta.
E então, tudo ficou bem.
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True Disaster
FanfictionAs vidas de Finn e Millie tomaram rumos diferentes após o final de stranger things. Finn viajou pelo mundo com a banda Calpurnia, que decolou e o fez desistir da carreira de ator; enquanto Millie permaneceu em Los Angeles atuando e usando seu lado m...