Finn: "Don't cry."

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       Dirigi rumo ao Grand Hope Park, eu não fazia a mínima ideia de porquê a Millie tinha me ligado, mas pela voz dela não era nada bom. Não demorei a chegar, eu estava em uma velocidade consideravelmente alta. No momento em que estacionei, pude ver Millie sentada em um banco focada na árvore em sua frente.
       - Millie? – disse suavemente anunciando minha chegada.
       Ela levantou o olhar, estava com o rosto tão vermelho, parecia doente.
       - O que aconteceu? – tirei meus óculos escuros e meu boné, e me sentei ao seu lado.
       - É assim que sai nas ruas? – perguntou ela forçando uma risada – Se tornou um antrofóbico?
       - Sem piadas hoje, está bem? O que houve?
       - Meu dia está uma droga!
       - Millie. – falei sério, queria entender o que estava acontecendo.
       - Minha cadela está enterrada bem ali. – ela apontou – Acordar enterrando a Dolly não é um bom começo de dia, sabia?                                                         
       Não soube o que dizer, eu sabia o quanto Dolly era importante para ela, eu podia sentir a dor dela, eu já tinha enterrado muitos bichinhos.
       - Já sei o que vai dizer. – ela passou os dedos pelos olhos uma segunda vez – Pare de chorar! É só um cachorro!
       - Na verdade, não. – neguei – Ela era sua amiga.
       - Você era meu amigo.
       - Ah, Millie! – a puxei para um abraço, não havia muito que eu pudesse fazer, mas queria passar um pouco de conforto a ela, e mesmo que eu falhasse, ao menos tinha tentado.
       - Não queria que me visse assim. – ela cobriu o rosto – Mas eu não queria ficar sozinha.
       - Por que está sozinha, afinal? – perguntei aflito, ela costumava estar sempre com os pais ou os irmãos. Por que o namorado não estava com ela? Ou Noah?
       - Eu não queria chorar na frente dos meus pais, Noah está em Nova York e Jaeden... – ela fez uma pausa – Foi pra Madrid.
       - E te deixou aqui?
       - Bem, eu não quis ir. – respondi – A culpa é minha.
       - Pare com isso! – a adverti – Essa não é a Millie que eu conheço, a minha Millie era incrível, ela inspirava as pessoas e era confiante. O que fez com ela?
       - Acho que não tão incrível e confiante assim. – disse ela segurando o choro – Nem eu mesma me conheço, às vezes. Não sou a mesma Millie de antes.
       - Mesmo assim, aqui estamos nós. – disse – Não desistiu de mim, assim como a Millie de que me lembro.
       - Não tire vantagem disso, você era o único que podia me atender.
       - Mas eu poderia me recusar.
       - Perderia um ponto na promessa de recuperar a minha amizade.
       - Então, você me ouviu?
       Rimos, mas, então, recuperei a postura, apesar de tudo ela ainda estava triste e tinha todo o direito de estar.
       - Por que não vamos comer alguma coisa? – sugeri – Eu te deixo em casa depois.
       - Está cedo. – disse ela desapontada – Tenho que ir pro Edifício ainda.
       - Então, comemos algo e eu te deixo no Edifício, ora.
       - Aceito a carona. – respondeu ela – Mas essa "parada" fica para outro dia. Eu ainda estou brava.
       - Certo. – ele assentiu recolocando os óculos e o boné – Tem uma dívida comigo agora.
       Caminhei ao seu lado sem falar muito.

**

       Parei o carro em frente.
       - Vai ficar mesmo bem?
       - Finn, eu já estou bem. – ela assentiu, de fato ela estava mais calma e seu rosto já havia assumido uma aparência normal – Obrigada.
       - Não foi nada. – revirei os olhos – E sobre domingo, aparece lá, me dê uma chance.
       - Não sei se vou estar no clima. – respondeu ela – Mas eu talvez vá, só talvez.
       - Se cuida, tá?
       Ela assentiu e saiu do carro.
       - Você também.
      Mesmo depois de Millie entrar, continuei estacionado ali com as mãos no volante. Eu não tinha controle do que acontecia dentro de mim, mas meu coração contraía sempre que estava perto dela, aquilo era incômodo, pois eu não sabia o que fazer. Era uma sensação ruim tê-la assim tão perto e querê-la mais perto ainda. Quando eu parava pra pensar demais, eu perdia a noção, portanto, afastei aqueles pensamentos e dirigi de volta para o Plaza.

**

       Depois que Gale nos dispensou, fomos todos para a casa de Jack. Eu estava jogado em um puff no chão, Ayla encontrava-se deitada no sofá, Jack trocando de disco, porque sim, ele tinha um toca-discos, e Malcolm, vindo em minha direção com duas garrafas de 51.
       Ele se jogou no puff ao meu lado.
       - Então, foi por isso que ela te ligou? – quis saber ele sobre Millie, eu havia contado o mais superficial possível, sem muitos detalhes.
       - Sim, foi. – tomei uma golada – Disse que eu era o único que podia atendê-la.
       - A Candace está gostando dessa aproximação de vocês dois?
       - Ela não sabe. – respondi – Não é nada demais, ela e eu nem somos mais tão amigos assim. Ela está uma fera.
       - Mesmo assim te ligou. – insistiu ele – Cuidado, cara, pode estar arranjando um problemão. É questão de tempo até algum paparazzi fotografar vocês dois. É melhor Candace saber por você.
      - Ela não gosta muito do assunto.
      - 95% dos assuntos discutidos por casais não são do agrado de ambos, mas mesmo assim são discutidos. – ele me encarou – Isso se chama DR.
      - Pra alguém que não tem namorada você está bem informado.
      - Faço minhas pesquisas. – ele deu de ombros – Mas sério, conte pra ela. Pelo menos que voltaram a se ver.
      - Malcolm está certo, Finn. – Ayla se sentou – Como uma figura feminina, posso afirmar que odiamos que nossos homens saiam com outras mulheres sem nosso consentimento. Ainda mais depois de um pedido de casamento.
      - Não fiz o pedido ainda. – disse tomando outra golada – Provavelmente, o farei até o fim do mês.
      - Se você quer se casar com ela o que está esperando? – Jack se pronunciou – Fiquem noivos logo. A não ser que não esteja totalmente convencido disso.
      - Jack está certo. – Malcolm concordou – Por que esperar mais duas semanas? Vá comprar logo o par de alianças.
      - O problema não é meus sentimentos pela Candace. – respondi – O problema é o casamento em si.
      - Não estou te entendendo. – disse Jack.
      - Não dá pra entender os homens. – disse Ayla - Simples assim. Vocês são estranhos.
      - A ideia de estar casado me assusta.
      - Vocês são praticamente casados. – respondeu Ayla mais uma vez – Vocês dormem na mesma casa, na mesma cama, dividem o mesmo banheiro e já ganham seus salários. Então, você não a ama.
      Franzi o cenho.
      - Você ainda é apaixonado pela Millie? – perguntou Malcolm.
      - Chega desse assunto. – declarei.
      Me levantei, deixando a garrafa no chão.
      - Aonde você vai, cara? – perguntou Jack jogando as mãos para o alto.
      - Vou usar o seu banheiro. – respondi – Posso?
      Ele fez um sinal de aprovação com a cabeça.
      Fechei a porta atrás de mim e me sentei no chão abraçando minhas pernas. Millie e Candace faziam parte da minha vida, eu não podia mentir pra mim mesmo, porém muitas questões estavam latejando em minha mente, provavelmente era apenas o álcool me castigando, carregando minha alma de questões que eu não queria resolver enquanto sóbrio, como uma arma prestes a disparar. Enterrei a cabeça nas mãos e fiquei alguns minutos assim, tentando mentir pra mim mesmo.

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