Finn: "And will always be."

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       Candace e eu tínhamos brigado ontem a noite por conta do cheiro de cerveja que tinha ficado em mim, expliquei que eu estava bebendo com Gale e que não estava bêbado, mas mesmo assim tive que a ouvir dizer o quanto ela odiava pessoas que bebiam. Depois, acabamos fazendo as pazes, o que era bom já que hoje era Ação de Graças.
       Candace estava terminando de vestir seu vestido quando meu celular tocou. Era meu pai. Atendi com uma pequena rapidez.
            - Meu velho!
            - Filho! - ele riu - Vocês vêm hoje?
       - Estamos indo agora. - disse animado - Vamos pegar o Nick no estúdio e iremos juntos.
       - Isso é incrível! - gritou ele - Mary, nossos filhos estão vindo!
       - Mas que maravilha! - ouvi minha mãe dizer. - A Candace está vindo também?
       - Está, pai. - estendi o telefone pra que ela falasse com ele - Quer saber de você.
       - Olá, senhor Wolfhard!
       - Mary, ele vai trazer a namorada! - o ouvi se gabar mais uma vez.
       - Ok, já está bom, meu velho. - repliquei - Agora tenho que desligar, nos vemos logo.
       - Claro, filhão, espero por vocês.
       - Tchau. - desliguei.
       Candace caminhou em minha direção e parou em minha frente, com as mãos em meus ombros.
       - Finn, você não pensa em se casar?
       Na verdade não, eu queria dizer, não agora. Era estranho pensar sobre isso e ter uma rotina viciante. Eu já tinha uma rotina viciante, mas a ideia de estar casado não combinava bem comigo.
       - Penso. - respondi, sabendo que era uma mentira - Mas não agora.
       - Eu já moro aqui, somos quase casados. - insistiu ela - Só faltam as alianças.
       - Talvez no próximo ano, está bem?
       Ela revisou os olhos.
       - Vamos, Candace. - pedi tocando seus ombros também - Você pode me esperar mais um pouco, não pode?
       - Você não está me enrolando, está?
       - Sua boba! - a beijei - Não sou do tipo que enrola as mulheres.
       - Então, quando?
       - Quando for o momento certo. - assenti - Só preciso de mais um tempo pra me acostumar com a ideia ser um homem casado.
       - "Não é você, sou eu" é clichê demais, amor.
       - Só preciso de mais um tempo. - vasculhei seu olhar em busca de alguma questão a mais, mas nada veio, então me pronunciei - Vamos aproveitar que não temos que correr pra trabalho nenhum hoje.
       Ela assentiu e me abraçou.
       - Gosto quando os dias são assim.
       - Eu também. - assenti ainda a abraçando mesmo sentindo um pingo de culpa pela noite anterior.
       A soltei enfim e saímos.

**

       Fomos a pé para a gravadora, pois era onde o carro estava desde ontem e dirigimos até o aeroporto. Deixei meu carro com um dos meus assessores e embarcamos. O voo levaria duas horas e alguns minutos, então dava para eu tentar compor uma música ou algo assim já que Candace dormia a viagem toda, ela odiava pegar aviões. Nick só ficava com seus fones de ouvido e suas revistinhas de star wars, ele era mais velho que eu, mesmo assim parecia mais novo.
       Peguei a caneta e pensei em um bom começo, estava doido para saber como ficaria com o som da guitarra, baixo, bateria e até cantada mesmo. Cantarolei baixinho para que nenhum passageiro me ouvisse e me reconhecesse, a parte ruim de ser famoso era ser facilmente reconhecido, mas eu gostava dos meus fãs, Candace é que não gostava tanto assim, portanto, eu me mantinha mais "escondido" deles.
       Olhei pela janela do avião e vi as nuvens bem abaixo de nós, eu sempre ficava encantado com aquele visual. Era uma pena que Candace e Nick perdiam tempo com outras coisas ao invés de não poderem apreciar aquela cena tão singela mas tão bonita.
       A viagem foi inteira assim, eles dormindo e lendo, e eu compondo.

**

       Chegamos horas depois, havíamos parado em alguns mercados e lojas para fazer nossas compras, eu tinha sido reconhecido e tirei fotos com algumas pessoas, era difícil passar despercebido por Vancouver, as pessoas aqui me conheciam.
       Agora estávamos bem na porta da casa onde eu e Nick crescemos e aquilo era animador, pois muita coisa devia ter mudado por dentro e ao mesmo tempo estaria tudo ali, todas as lembranças de quando éramos mais jovens e menos preocupados.
       Eu fui quem tocou a campainha. A porta se abriu e lá estava meu pai com um sorriso enorme.
       - Nem acredito que estão aqui! - ele abriu os braços e abraçou nós três, todos juntos - Mary, ponha os waffles na torradeira, temos companhia agora.
       Waffles. Suspirei de repente, mas afastei aquele pensamento.
       - Entrem, entrem. - pediu ele abrindo passagem.
       Candace entrou na frente, enquanto meu pai passava os braços pelos ombros de Nick e os meus.
       - Como estão os meus garotos?
       Nick falou primeiro:
       - Tudo normal, pai. - disse ele - Continuo trabalhando em uma loja de penhores, mas já estou buscando algo maior pra mim, e ainda sou um dos assessores do Finn, então eu estou bem.
       - Isso é ótimo, filhão! - ele voltou-se pra mim - E você, grande astro?
       - Está tudo bem também, meu pai, só com um pequeno bloqueio para compor, mas acho que já estou vencendo ele. - contei - Nada que uma boa viagem pra casa não resolva.
       - Vocês nunca me decepcionam!
       Ele enfim nos largou e nos sentamos à mesa.
       - E você, Candace, agenda apertada? - quis saber meu pai.
       - Que nada! - ela sorriu - Tenho um ensaio fotográfico depois de amanhã e uma entrevista mês que vem. Deve surgir mais alguma coisa antes do Natal, mas nada que eu não dê conta.
       - Meu filho tirou a sorte grande mesmo!
       Todos rimos.
       - Sabe, filho, estávamos assistindo Stranger Things outro dia. - disse minha mãe serenamente.
       - Não diga! - escondi meu nervosismo embaixo da mesa, todo depositado na minha mão - Por que isso agora, mãe?
       - Você estava tão pequeno, nos deu saudade! - explicou ela - Você atuava tão bem!
       - Foi há anos isso, mãe. - repliquei - Ninguém assiste mais essa série.
       - Foi um trabalho tão lindo! - ela estava mesmo encantada - Vejo tanto talento ali, lembro-me que todos vinham pra cá direto. Não fala mais com nenhum deles?
       - Não, mãe. - disse calmamente, mas nem tanto - Cada um seguiu seu caminho.
       - Mas você gostava tanto da Millie.
       Candace me lançou um olhar de reprovação.
       - Mãe, por favor! - pedi em tom claro, mas sem faltar com respeito - Gostava de todos eles, eram todos meus amigos. Podemos não falar deles? É Ação de Graças, vim pra ficar com vocês e falarmos de coisas da família, não de Stranger Things.
       - Ele está certo, Mary. - completou meu pai - Não vemos eles há meses.
       Ela se calou entendendo.
       - Vou deitar um pouco, está bem, foi uma viagem cansativa! - falei passando as mãos pelo rosto.
       - Não quer os waffles, amor? - perguntou Candace sorrindo.
       - Passo. - respondeu ele - Estou um pouco enjoado, não quero comer nada.
       - Tudo bem, filho! - entendeu meu pai - Fique à vontade, a casa é sua.
       - No jantar, eu prometo estar com uma cara melhor.
       Ele assentiu, enquanto eu subia os degraus e ia até o meu quarto. Ainda estava tudo lá, os pôsteres, a minha primeira guitarra, meus troféus da época de banda de garagem e do lado de deles, uma foto. Eu me lembrava daquele dia, primeiro dia de filmagem, estavam quase todos lá, Caleb, Gaten, Noah e Millie, tinha sido fantástico gravar com eles.
       Andei mais um pouco e encontrei a pilha de filmes assistidos, na ordem que eu havia deixado anos atrás, todos eles assistidos com a Millie, eram muitos. Me sentei em minha cama e olhei mais em volta, tudo ali me lembrava de todos eles.
       Quantas vezes eu tinha trazido o Caleb e Gaten aqui para jogarmos? Sadie era a única que nunca viera em minha casa. Noah vinha para ensaiarmos nossas falas muitas vezes. Havia um quadro na parede, bem atrás da cômoda, agora vazia, onde ficava meu computador. Nele uma foto minha e de Millie, fazia anos mas aquela imagem me fez reviver aquele momento, nosso primeiro prêmio. Ela estava tão linda!
       Caminhei até lá e peguei o quadro, ela tinha chorado naquele dia, mesmo assim irradiava luz. Tinha algo nela que sempre me chamava atenção, ela era ela mesma e não se importava com o que dissessem dela.
       Tirei a foto do quadro e coloquei debaixo do meu travesseiro. Peguei o caderno e o lápis no criado-mudo do lado da cama e me deitei, eu tinha que compor alguma coisa, peguei de onde eu tinha parado e a letra foi surgindo devagar. 

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