Finn: "I wish Millie was here."

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Meus dedos correram pelas cordas da guitarra, enquanto eu procurava uma boa melodia. Eu normalmente ficava inspirado quando não estava tão bem. A noite tinha sido difícil, eu mal tinha dormido. Pelo menos eu não tinha perdido a hora desta vez.
O estúdio era um dos meus lugares favoritos, mas por mais que eu o adorasse, sentia falta de minha casa em Vancouver. Queria ver meus pais logo, estava com saudades, eu ia passar a Ação de Graças lá mas teria que voltar no dia seguinte. Mas valeria a pena.
- Ei, cara! - era Malcolm se sentando do meu lado - Qual o problema?
- Estou com a cabeça cheia. - respondi sem querer dar grandes explicações - Não componho faz uns três meses.
- É só uma fase. - ele era bem otimista, queria ser assim às vezes - Logo vai conseguir inspiração, vai ver.
- É. - dei de ombros - É assim com todo mundo, não é? Até os maiores compositores tem bloqueios, por que eu não teria?
- Você é um grande compositor, cara.
- Em outras épocas. - voltei meus olhos para as cordas novamente - Mas é só maluquice da minha mente de todo jeito.
- Ei, ei! - chamou Gale batendo as mãos - O que os folgados estão fazendo? Vamos, o horário de folga já acabou. Vamos fazer barulho!
Nos levantamos em um salto e fomos para a sala de gravação. Já estávamos prontos e só tocamos nossa música, o que nos alimentava. Me senti bem por alguns minutos, era sempre tranquilizante quando tocávamos era como se o resto do mundo desaparecesse e só existisse nós quatro e a música ali dentro.
Gale estava sentado do outro lado do vidro nos observando, no começo intimidava, mas agora já estava até acostumado com ele nos analisando, ouvindo o nosso som e opinando sobre como melhorar. O objetivo dele era nos transformar em lendas.
Cada nota que entrava pelos meus ouvidos me dava vontade de tocar mais e mais, e foi assim, até que de repente, eu estava depositando todos os meus sentimentos ali. Com a força, em um dos passes, arrebentei a corda da guitarra.
- Merda! - reclamei.
- Ei, filho! - chamou Gale - Dia ruim, é?
- Ainda não.
- Por que não tenta se acalmar um pouco, hein? - indagou ele, mas era quase um conselho - Vou ter que arranjar cordas novas agora.
Deixei a guitarra de lado e saí, mal parei para ouvi-lo. Só passei direto por ele e caminhei apressado até as portas da frente e segui rumo pela calçada.

**

Rodei pela cidade o dia todo, tanto que achei que em algum momento iria dar de cara com Millie, mas não aconteceu. O que me restava agora era uma música ruim de fundo de garagem e o gosto amargo da cerveja nos meus lábios.
Olhei para o meu relógio, ele marcava seis e meia, ou seja, deveria ter chegado em casa meia hora atrás, mas infelizmente eu nem estava me preocupando com isso.
A porta do pub se abriu e era Gale. Ele entrou e se sentou no banco ao meu lado, não parecia chateado apesar de eu ter arrebentado a corda da guitarra e ter saído sem falar nada.
- Quer falar sobre isso? - perguntou ele.
- Não tem nada pra ser falado. - balancei a cabeça ainda sem olhar pra ele.
Gale pediu uma cerveja e voltou sua atenção pra mim.
- Olha, não quero me meter. - disse ele querendo minha atenção - Mas se bem conheço a senhorita Belmount, ela vai ficar uma fera se chegar em casa tarde e bêbado.
- É meu segundo copo ainda Gale, eu estou bem.
- Tudo bem, rapaz. - sua cerveja chegou e ele agradeceu ao bar man - Não vou bancar o paizão com você e dizer o que deve ou não fazer, já é bem grandinho pra saber.
- Eu só precisava relaxar um pouco.
- Tudo bem. - entendeu ele - Poderia ter me dito isso. O que tem em Los Angeles que te deixa assim tão doido?
- Nada. - fui seco.
- Ok, não tem que se abrir comigo. - ele deu de ombros e tomou uma boa golada de sua cerveja - Com certeza não tem nada a ver com a Ação de Graças, vai ver seus pais?
- Sim.
- Não vê eles há quanto tempo? - indagou Gale - Cinco, seis meses? Deveria estar feliz.
- Eu deveria estar muitas coisas, Gale, mas tem um buraco no meu peito onde deveria ter um coração. - respondi sem pensar - Já sentiu que devia ter feito algo anos atrás e agora sua vida está uma merda por que não fez? Já se iludiu dizendo pra si mesmo que está tendo uma boa vida quando na verdade era mentira?
- É uma garota, então...
- O que?! - o encarei enfim.
- Você ama a Candace, Finn?
- Amo, claro. - franzi o cenho - Por que estaria com ela se não amasse?
- A ilusão da boa vida.
Muita coisa estava na minha cabeça além do álcool, eu não ia falar dela pra ele. Era um segredo que prometi nunca contar, e mesmo que nunca mais a visse pessoalmente em vida, não contaria.
- Não tem garota nenhuma. - neguei - Só estou querendo me afastar um pouco de tudo.
- Você ama seu trabalho, duvido que seja isso. - disse ele - Não precisa me contar sobre ela, finja que nunca tivemos essa conversa, mas sugiro que a procure. Você pode até amar a Candace, aliás, estão há bastante tempo juntos, mas ama mais essa outra garota, e é melhor contar pra ela.
- Você não entende, Gale.
- Não mesmo! - alarmou ele - Você nem mesmo fala disso.
- Porque faz 10 anos!
- Sua vez de rever os fatos, Finn. - aconselhou ele - Está com a Candace por amor, por impresa ou pra preencher a falta que essa garota misteriosa faz? - ele se levantou tomando uma última golada e repondo o copo vazio no balcão - Mas não sou eu que vou te dar essa resposta.
- Tem que pagar, senhor. - disse o bar man percebendo a saída de Gale.
- Eu sei, ele vai pagar a minha.
O bar man se calou no mesmo instante e foi atender outra pessoa.
- Ei, Gale! - chamei-o, enquanto ele saía.
Ele se virou e levantei meu dedo meio pra ele. Depois de rir, Gale saiu.
Quando me virei, lá estava o bar man de volta. Paguei pela cerveja de Gale e meus dois copos. Resolvi ir embora, se eu chegasse em casa bêbado, Candace teria um treco. Teria que ir a pé, não podia dirigir e correr o risco de levar uma multa. Então, minha caminhada seria longa.

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