True Disaster

Millie: "It's really nice."

       Estava ajudando Ava e minha mãe na cozinha, tudo estaria preparado para mais tarde, finalmente Ação de Graças. Jaeden, meu pai e Charlie tinham saído pra comprar algumas bebidas, o que era completamente normal para eles.
       Ontem, quando subi e deixei Charlie jogando sozinho, ele estava dormindo, então nem o acordei, só tomei um banho e me deitei também.
       - Acham que devíamos montar a árvore de natal aproveitando que estamos todos aqui? - indagou Ava.
       - Talvez amanhã antes de vocês irem. - respondeu minha mãe - O que acha, Millie?
       - Claro, sim. - assenti.
       - Está tudo bem? - quis saber minha mãe.
       - Está sim, mãe. - menti, na verdade estava pensando em Paige - Só estou pensando demais.
       - Algum trabalho que está te preocupando? - perguntou Ava.
       - O que? - franzi o cenho - Não! Estou sem nada por enquanto, talvez na segunda eu pegue o papel daquele filme de terror.
       - Minha irmã fazendo filmes de terror? - Ava riu - Essa eu quero ver!
       - É só mais um gênero para o meu currículo! - falei rindo.
       Se Paige estivesse aqui estaríamos rindo do meu currículo, já fiz comédias, romances, suspenses, aventuras, ações... Mas seria meu primeiro filme de terror. Se pudéssemos ver o futuro isso resolveria muita coisa.
       Guardamos o peru no forno e batemos nossas mãos uma na outra. Aquilo estava pesado.
       - Já fizeram as pazes, mãe? - perguntou Ava com as mãos na cintura.
       - Fizemos, Ava! - ela me olhou de soslaio - Mas não quero falar disso com vocês.
       - Tudo bem! - levantei as mãos em rendição.
       - Podíamos ir ver a Dolly amanhã, estou sentindo a falta dela. - pediu minha irmã - Ela está mesmo bem, Millie?
       - Eu disse melhor, não bem. - corrigi - Mas vamos!
       Ava sorriu animada e saiu da cozinha.
       - Se acertaram mesmo? - perguntei.
       - Odeio mentir para a Ava, mas não, só combinamos de manter um clima acreditável por causa de vocês.
       - Parem de se preocupar com a Paige, ela já é adulta e sabe o que faz, mãe!
       - É complicado, Millie.
       - Eu sei que é! - concordei - Mas não vale a pena ficarmos mudando nossas vidas por causa dela.
       Minha mãe fechou o último pote de salada de frutas e me fitou.
       - Ela ama vocês. - consolei-a, às vezes eu esquecia que minha família inteira era mais sensível que eu - Pode ter feito tudo de errado na vida, mas ama vocês. Ela ama todos nós.
       - Eu sei.
       - É Ação de Graças, mãe! - tentei animá-la - Vamos aproveitar um pouquinho!

**

       Já estávamos terminando de arrumar tudo quando o relógio bateu oito e quarenta, faltava pouco para o nosso jantar refinado. Jaeden finalmente tinha descido de um banho que parecia nunca acabar.
       - Mas que demora! - reclamei enquanto ele me abraçava por trás.
       - Eu estava ficando cheiroso pra você, amor. - ele me deu um beijo no rosto.
       Ri com o gesto e suspirei.
       - Estou feliz de estarmos todos aqui!
       Eu de fato estava. No ano passado, por conta das gravações de um filme não pude vir passar a Ação de Graças com eles, ela acabou sendo na casa de Noah, só eu, ele e a mãe dele, pois na época Mitchell estava viajando e Jaeden fazendo uma temporada em Cleveland.
       Peguei a mão de Jaeden e o fitei.
       - Nossa primeira Ação de Graças juntos.
       - Finalmente em família! - disse ele se aproximando com a mão em meu rosto - E com você.
       - Awn! - fui eu quem o beijei de modo que entrássemos numa sintonia só nossa.
          - Eu te amo! - ele sorriu.
       - Eu também. - algo me fez estranhar aquelas palavras mesmo sentindo que era o certo a se fazer.
       - Será que vamos comer ou vamos ficar olhando uns para os outros como se tivesse algo em nossas caras de interessante? - era o Charlie, claramente.
       Todos nós nos sentamos à mesa e acendemos as velas em volta da mesa, algo naquilo lembrava da minha infância. Amávamos acender os candelabros, mexer com fogo era nossa alegria nas horas vagas. Sim, isso soava um pouco psicopata, mas éramos uma família completamente normal.
       Depois das orações, começamos nosso banquete e conversações.
       - Jaeden, como foi o treino ontem? - quis saber meu pai - Chegou tão cansado, não quisemos incomodar, mas nos conte.
       - Bem, ocorreu tudo bem, sou o melhor do time, não querendo me gabar, talvez eu seja escalado para o time oficial! - o sorriso dele ia de orelha a orelha - Grandes chances, na verdade.
       - Por que não me contou antes, amor? - indaguei animada.
       - Queria fazer uma surpresa!
       - Isso é demais! - passei os olhos por todos - Meu namorado no Lankers oficial!
       Ele não tirava o sorriso do rosto.
       - O melhor é que o jogo vai ser em Madrid.
       Algo dentro de mim apagou, eu esperava que fosse aqui mesmo, não em outro país.
       - Em Madrid? - o encarei.
       - É! - ele afirmou novamente - Você vai comigo, não vai?
       - Eu não sei. - fui sincera - Tenho que checar minha agenda com a Elena.
       Elena Granger era minha empresária, então ela sabia mais da minha vida do que eu mesma.
       - Meus parabéns, Jae!
       - Obrigada, senhor.
       Não é que eu não amasse a Espanha, até porque nasci lá, mas ir pra Madrid tão longe. Longe do Noah, da Dolly, dos meus pais... Não sei se era o que eu queria.
       A campainha tocou e fui atender. Aliás, era o jeito de eu sair um pouco da pressão dos olhos de Jaeden. Assim que abri, mal acreditei em meus olhos. Aquilo era mesmo real?!
       - Paige! - gritei alegre e a abracei.
       - Millie! - ela me apertou.
       - Você...
     - Mudei de ideia? Sim! - ela sorriu - Resolvi vim ver minhas baixinhas e meu marrento favoritos. Nossos pais também.
       Ava correu para abraçá-la chorando. Charlie veio não muito convencido até ela fazê-lo sorrir.
       - Seu emburrado, achou que eu ia deixar você comer toda a torta de ameixas da mamãe?!
       Ele a abraçou e depois ela correu para os meus pais chorando, e se desculpando. E eles, chorando de mesmo modo, a receberam. Quando nos tocamos estávamos em um abraço grupal familiar. Até Jaeden se uniu a nós. Agora sim, minha família estava toda unida.