True Disaster

Finn: "My good good best friend."

       10 anos antes

       Era janeiro de 2020. Todos estávamos reunidos no set para nossa última confraternização. Stranger Things finalmente fechava suas portas para nós depois de cinco anos dedicados a 4 temporada incríveis.
       Caleb, Gaten, Noah e eu estávamos sentados em um círculo conversando e comendo besteiras, como sempre. Enquanto Millie e Sadie, ambas do outro lado da sala, riam de seja lá o que meninas riam, provavelmente de nós. Claro que não éramos só nós, estavam todos ali, todos mesmo: David, Winona, Natália, Charlie, Joe, Dacre... Mas eles estavam mais ocupados com coisas de adulto, não conosco.
       Gaten soltou um arroto e todos nos voltamos pra ele, que começou a rir como um doido, e rimos todos juntos.
       - Ok, ok. - Gaten me fitou e eu sabia que lá vinha bomba - Qual foi a coisa mais nojenta que já fez, Finn?
       - Vomitar na Millie, eu acho. - revelei.
       - Não fez isso! - exclamou Caleb - Cara, que nojo!
       - Sim, ele fez. - confirmou Noah - Fomos os 3 assistir um show da Arctic Monkeys, foi ano passado, e ele misturou uma batida de abacaxi com uma ice, dissemos que não era seguro, mas ele insistiu.
       - Vocês basicamente arrancaram aquela garrafa da minha mão.
       - Mas é claro! - reclamou ele - O que você esperava? Não tínhamos licença pra beber.
       Dei de ombros.
       - Ele começou a se sentir mal e resolvemos chamar um táxi para irmos embora. - continuou Noah - Enquanto eu ligava, ele não conseguiu segurar e colocou pra fora em cima da Millie. Conclusão, ela ficou bem brava!
       - Mas me perdoou.
       - Ela sempre perdoa.
       - E você Noah? - quis saber - Qual foi a coisa mais nojenta que já fez?
       - Bem, eu não sei. - respondeu ele - Não tenho experiência suficiente nessa vida.
       - Essa história já deu. - disse Gaten se levantando - Vou pegar algo para nós bebermos.
       - Vou com você. - Caleb o seguiu.
       Ficamos apenas eu e Noah.
       - Por que estão tão distantes? - perguntou ele.
       - Como? - o encarei.
       - Vamos, Finn! - Noah jogou as mãos para o alto - Você, a Millie... Aconteceu algo?
       - Não. - balancei a cabeça - Nada.
       - Vai dizer que não acha estranho?
       - O que? - indaguei nervoso.
       - Normalmente Millie e Sadie estariam aqui com a gente, todos juntos. - falou ele, com clareza - Mas não estão e algo me diz que tem haver com a Mills e você, por isso a Sadie está lá e elas estão tendo "papos de garotas".
       - E por que tem que haver algo entre a Millie e eu?
       - Porque vocês sempre são os problemáticos. - admitiu ele - Com toda aquela repercussão dos fãs.
       - Cara, nem fala disso! - coloquei um alcaçuz na boca - Não sei por que a Millie está estranha ou a Sadie, mas isso é papo delas.
       - Está certo. - Noah concordou - Dessa vez passa, mas se tiver alguma coisa, eu vou descobrir.
       - Uau! - fingi animação, enquanto Gaten e Caleb voltavam.
       Os três começaram a interagir entre si, mas fiquei quieto na minha. Eu de fato sabia que tinha algo errado entre Millie e eu desde o dia do ocorrido no set trancado, não tínhamos falado à respeito, apenas acabamos nos afastando.
       Olhei de relance para onde ela estava com Sadie e fui pego de surpresa ao perceber que ela já estava me olhando. Tentei desviar, mas voltei meus olhos pra ela rapidamente. Eu não sabia bem o que ela queria, mas queria algo de mim e eu esperava que ela falasse logo.

**

       Gaten, Noah e Caleb haviam ido jogar no nosso fliperama pela última vez, me chamaram, mas eu não estava muito a fim, então fiquei. Do outro lado da sala estava Millie, sozinha, com um copo de refrigerante na mão. Sadie tinha ido embora depois de lhe brotar uma dor de cabeça, por isso Millie se encontrava deslocada agora.
       Terminei minha coca e fui até ela, me sentando ao seu lado no sofá. Ela me olhou e sorriu do mesmo modo que eu.
       - Está tudo bem? - perguntei com as mãos apoiadas em meus joelhos que não paravam de bater um no outro.
       - Não sei se está. - respondeu ela - Muita coisa está fora de ordem.
       - Como por exemplo?
       - Sadie foi embora, estou sozinha.
       - Obrigado. - agradeci ironicamente.
       - Você não entenderia meus assuntos. - expliquei - E com certeza não vai querer conversar sobre roupas e moda.
       - Ah, era sobre isso que falavam? - ri - Achei que fosse sobre mim.
       Ela revirou os olhos.
       - Às vezes, você me irrita muito por ser tão convencido! - reclamou ela.
       - É um dom!
       Ela pegou a almofada atrás dela e bateu em meu braço. Eu ri.
       - Quando é que vamos falar sobre aquilo?
       - Aquilo o que? - perguntou ela sem entender.
       - Aquilo que rolou no dia do pico de luz. - disse a ela - No set... O beijo.
       - Eu já entendi. - disse ela com os olhos fechados e as bochechas vermelhas de vergonha - Não acho que seja o lugar adequado para falarmos disso, Finn.
       Assenti. Não era mesmo um bom lugar, mas eu queria desabafar com ela sobre aquilo, mas podia esperar.
       - Eu só queria entender o que você está sentindo. - expliquei a ela - Por que eu acabei de contar para os meninos da vez em que eu vomitei em você e eu parei pra pensar sobre há quanto tempo não saímos mais como antes ou não dormimos mais na casa um do outro para nossas maratonas de filmes, como star wars, por exemplo.
       - Eu te odeio por aquilo. - respondeu ela rindo, eu sabia que ela estava falando do vômito - Não sei se sou capaz de voltar ao normal como se nada tivesse acontecido. Não sei se consigo ser a mesma Millie de um ano atrás.
       - Não quer ser mais minha amiga?
       - Não é isso, Finn. - ela ficou frente a frente comigo - Eu só tenho medo de não conseguir suportar a ideia de sermos somente amigos depois de tudo.
       - Então, o que você quer? - perguntei confuso.
       - Por isso você precisa me dar mais tempo.
       - Até quando? - indaguei - Millie, já faz dois meses e você nem sequer me liga para conversarmos sobre isso. Eu gosto de você.
       - Mas eu não espero alguém que goste de mim. - respondeu ela terminando seu refrigerante - Espero alguém que me ame.
       Não soube o que dizer, eu pouco sabia sobre amor para tentar expressar qualquer coisa que fosse.
       - Não quero perder sua amizade, Finn. - ela balançou a cabeça - Essa... Coisa pode ser passageira, mas não nós.
       Concordei, não queria mesmo me afastar da minha melhor amiga, nunca fora este o caso.
       - E se não for passageiro? - perguntou ele.
       - Aí a gente vê o que faz. - ela assentia sem parar.
       - Ei. - apoiei minha mão sobre a sua, enquanto nossos olhares se encontravam - Eu sempre vou ser o seu Finnie bobão. Me prometa que vai ser minha Mills sorridente.
       Ela soltou uma risada e olhou para baixo, o que me aliviou demais para aquele momento. Havia uma luz que sempre a rodeava, ela parecia um anjo de verdade com todo aquele esplendoroso encanto.
       - A melhor rapper que o mundo merece conhecer. - sacudi nossas mãos juntas - Pode contar comigo.
       - Obrigada. - agradeceu ela com as bochechas saltadas.
       - Por que não vamos jogar um pouco no fliperama? - eu nem queria de fato jogar, só desejava deixa-la feliz.
        A puxei pela mão.

**

       Já era noite, tínhamos ficado o dia todo ali. Noah e Gaten já haviam ido. Restava eu, Millie e Caleb agora.
       A carona dele não demorou a chegar, então novamente estávamos sozinhos. Millie estava sonolenta, apoiando a cabeça no encosto do sofá.
       - Mills! - a chamei baixinho.
       Ela virou a cabeça e me olhou.
       - Sim, Finnie? - até sua voz estava carregada de sono.
       Sorri percebendo que ela me chamara pelo apelido.
       - Quando seus pais vem te pegar?
       - Quando eu ligar pra eles.
       - Por que não fazemos isso agora? - passei minha mão pelo seu cabelo - Está cansada.
       Ela assentiu, provavelmente sem forças para afastar minha mão. Peguei seu telefone e disquei o número de Kelly e esperei chamar. Ela atendeu no terceiro toque.
       - Millie?
       - Não, senhora Brown. - respondi educadamente - É o Finn. Finn Wolfhard.
       - Oh! - ela parecia estar surpresa - Olá Finn, sabe me dizer se minha filha está aí?
       - Está aqui do meu lado. - sorri pra ela - Está bem cansada, a senhora ou o Charlie e a Paige ou o Senhor Brown poderiam vir buscá-la?
       - Ok, vou pedir para a Paige. - disse ela - Muito obrigada, Finn.
       - Por nada, senhora Brown!
      E então, desliguei.
      - Paige vai vim te buscar, tá?
      Ela assentiu e segurou minha mão, levei menos de alguns segundos para guardar o telefone em sua bolsa quando senti seus dedos apertarem os meus.
      - Você é um bom amigo. - eu mal tive tempo de sorrir pra ela, pois ela deitou a cabeça de volta no sofá e adormeceu.
      A observei dormindo, e ainda com a mão dada a dela, cerca de vinte minutos até Paige e Charlie chegarem e a levarem embora.
      Foi no momento em que ela se foi que eu soube que a amava, porque mesmo eu tendo ligado para os pais dela para que viessem buscá-la, eu queria que ela ficasse.

       De volta a 10 anos depois

       - Depois de dois dias veio a sua carta. - contei - E na semana seguinte, já estávamos na estrada.
       - E você não a viu depois daquele dia?
       - Não. - tomei meu café - Eu sequer fui capaz de me despedir dela.
       - E aí você conheceu a Candace.
       - Exatamente. - assenti - Faz uns 3 anos que a conheço e ela foi uma pessoa incrível comigo, ainda é, porém, quando passamos pela Espanha...
        - Foi lá que ela nasceu, não é?
        Assenti.
       - Era como se o sentimento tivesse despertado de novo, eu fiquei louco! - suspirei - Agora me sinto um idiota por ter pensado que ela ainda estaria apaixonada por mim, quando na verdade, assim como eu, se apaixonou de novo. E mesmo se ela ainda sentisse algo, agora estou de casamento planejado.
       - É isso mesmo que você quer? - indagou ele - Vai se casar com a Candace?
       - No próximo ano. - assenti - Só temos que marcar ainda.
       - Dá tempo de desistir, rapaz. - falou Gale cautelosamente - É melhor desistir antes de se casar e se arrepender depois. Vai ser pior para a Candace.
       - Eu vou me casar, Gale. - confirmei - Não viu que a Millie já tem alguém, já devem ser até casados.
        - Lembra daquela noite no bar? - disse Gale - Pra mim, aquela não era uma situação para alguém com planos de se casar. Pelo menos não com a pessoa em questão, se lembra do que me disse?
       Apenas o encarei, eu sabia do que ele estava falando só não queria admitir.
       - Sei que se lembra. - ele me fuzilou - Olha, filho, não posso tomar suas decisões, mas pense bem no que quer. No que quer de verdade. Vai ter que se virar sozinho nisso, mas não fique preso na ilusão da vida perfeita, isso não existe.
       Com isso, ele se levantou e jogou as chaves do estúdio para mim.
       - Chegue cedo amanhã. - foi tudo.
       Terminei meu café, já gelado, e comecei a refletir um pouco. Gale não entendia que era mais complicado do que parecia, não tinha contado tudo a ele.
       Não tinha contado do beijo, assim como tinha prometido anos atrás, nem falei sobre eu ter trocado de telefone para ela não me ligar mais e do quão arrependido eu fiquei de fazer isso, nem mesmo contei sobre nossas noites juntos assistindo filmes. Aquilo ficaria pra sempre conosco, e somente conosco.