Cólera

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Fico tão feliz com a notícia que resolvo fechar a loja mais cedo.
O movimento está fraco, meu pai está doente, não terá problema algum fechar a loja só hoje.

Corro pelas ruas como se a minha vida dependesse disso, sem pensar muito vou direto a casa de Mary lhe dar a notícia.

- Marianne! Marianne! Minha doce Marianne!!! - vejo a vizinhança me olhando assustado mas pouco me importa, a única coisa que eu quero é contar as boas novas para a minha amada.

- Marianne, abra a porta! - escuto passadas curtas e arrastadas no açoalho.

- Você? O que faz aqui? - pergunta a mulher com o rosto abatido e marcado pelo sofrimento.

- Dona Henriette, vim conversar com a sua filha. - após proferir tais palavras vi que elas poderiam ter dupla interpretação.

- Ela está de cama, não tem disposição para conversar.

- Oh, o que ela tem?

- Cólera.

Meus pés por um momento se desprendem do chão, sinto meu corpo amolecer e meu mundo girar.

Minha amada Mary está com essa doença devastadora que a todos contaminam? Não pode ser, estou perdendo meu pai e irei perde-la também?

Como se eu tivesse tomado um choque, corro dali da mesma forma que corri para chegar. Esqueço até qual era o meu objetivo com essa visita inesperada.

2
Abro meus olhos pela manhã e me sinto fraco, de repente sinto uma forte pressão na região abdominal e correção para o banheiro.

Droga, será que...
Prefiro não pensar a respeito, preciso de mais água.

Vou em direção a cozinha e sinto a mesma pressão novamente.

Droga, droga, droga!!

Tento disfarçar os primeiros sintomas e vou para a loja, penso que pode ser algo que eu tenha comido e que não tenha me caído bem.

Abro as portas, limpo a vitrine e do nada desmaio.

Acordo no hospital e após uma série de exames o Dr. Ronald vem com o diagnóstico, Cólera. Entro em total desespero.

Eu com cólera? Mas eu sou tão jovem, não posso morrer, não quero morrer!

Levanto da maca e arranco toda a parafernália que está presa ao meu corpo.

Não fica o aqui nem mais um segundo

- Ei rapaz você não pode fazer isso, volte aqui!

Saio rápido do hospital em prantos.

Está noite e me sinto fraco, me escoro em um beco escuro para pegar um pouco de ar, quando uma figura sinistra aparece em minha frente:

- Você parece quase morto - dou um pulo para trás desconfiado do estranho que me abordava.

- Quem é você e o que você quer? - respondo tentando mostrar segurança.

- Sua salvação - responde o desconhecido com um sorriso largo.

- O que você quer dizer?

- Que podemos fazer um tipo de negócio o qual seja favorável para nós dois.

- E que negócio seria esse? - pergunto desconfiado.

- Você tem cólera e eu tenho a cura. - arregalo meus olhos - como assim? Me dê a cura, onde ela está?

- Está guardada comigo, mas antes que eu a lhe entregue, preciso que você me dê algo em troca.

- E o que seria? Posso da-lo o que quiser, meu pai é fabricante de armas, possui boas condições e tem uma importante rede de contatos, posso fornece-lo todos eles - não consigo esconder meu desespero.

- O que eu quero não é dinheiro, é a sua alma. - achando essa ideia absurdamente ridícula, eu caio na gargalhada.

- E então, você aceita? Pergunta o lunático de boas vestes.

- Aceito - respondo incrédulo, não tinha nada a perder, já estaria morto em poucos dias.

O homem então se aproxima de mim como se eu fosse uma presa saborosa, seus olhos passam de azuis para um vermelho sangrento. Eu fico amedrontado com a aparência do estranho e dou passos para trás até bater com as minhas costas na parede fria. O estranho então coloca seus enormes caninos a mostra e se prende ao meu pescoço.
Sinto um calor irradiar meu corpo, uma mistura de medo com prazer.
Aos poucos sinto as forças do meu corpo serem sugadas e decido não resistir mais, me entrego ao momento e sinto tudo ao meu redor apagar.

3
Acordo suado e com uma dor insuportável, começo a gritar e a me contorcer de dor, nunca senti tanta dor em minha vida.

- Se acalme criança, você está em processo de transição e precisa do meu sangue para concluir a transformação, caso contrário, você morrerá.

Entre urros de dor eu suplico em agonia para que ele fizesse parar aquela dor. Vlad era meio sádico e sentia um certo prazer em me ver daquele jeito.
Quando finalmente ele me dá o seu sangue, automaticamente cessa a minha dor e junto a essa calmaria vem uma fome incontrolável.
Vlad começa a rir e me leva para a minha primeira caçada.

4
Com o passar dos dias e a morte do meu pai, eu fui me exilando cada vez mais. Vlad era um bom professor e me incentivava a me alimentar para aumentar as minhas forças, porém a medida que matava para saciar meu desejo por sangue, me sentia mais infeliz.
Percebi que havia cometido o maior erro da minha vida, quando por conta própria tentei transformar Marianne afim de salva-la.
A noite de 13 de outubro foi a pior noite da minha vida. Eu simplesmente não pude conter a minha sede e bebi seu sangue doce e quente até a sua morte.
Culpei Vladmir, me enfureci e quis mata-lo por me transformar no monstro que sou, Vlad só ria de mim.
Ele era forte demais, eu não conseguia me sobrepor a ele e um nó se apossava de minha garganta, uma angústia invadia meu peito e eu me sentia um garotinho estúpido.

Is It love? Nicolae - PatrinieriOnde histórias criam vida. Descubra agora