The Door

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Após duas horas de corrida, resolvo parar na cafeteria próxima a faculdade a qual admirei desde o primeiro dia em Mystery Spell mas nunca havia tido oportunidade para entrar.

Me aproximo do balcão e peço um chá Matte gelado com limão e gengibre.

- Nossa, com shorts colados assim não há quem resista...

Me viro no mesmo instante corada pelo constrangimento do comentário.

- Loan? O que faz aqui?

- O mesmo que você.

- Há algum problema aqui Coisinha? - questiona Drogo vindo logo atrás do Loan com a sua gangue boçal.

- Não, tá tudo numa boa Drogão, tamo junto! - diz Loan se retirando rapidamente do local.

- Essas suas roupas e esse corpo suado não ajuda muito nos assédios dos caras - completa Drogo já se retirando.

- O problema são todos vocês imbecis! - falo furiosa me lembrando da noite anterior.

- Oi? - fala pausando sua ia mas ainda sem recuar.

- Você pensa que eu esqueci de ontem? Você batizou a minha bebida! Você acha graça disso?

- Eu não batizei, o drink é forte, não iria adivinhar que você não aguentaria - fala rindo.

- Você é inacreditável, eu sou um experimento para você? Você não cansa de ser babaca? - pego a minha bebida, jogo algumas notas em cima do balcão e não espero o meu troco, saio completamente transtornada dali.

- Pelo visto nem de ressaca você ficou! - grita em tom de zombaria.

2
Chego em casa e vou direto para o banho, coloco shorts jeans, uma blusinha cinza e um cardigã preto por cima com as mangas arregaçadas até metade do antebraço. Penteio os meus cabelos em um coque frouxo meio despenteado e vou em direção ao quarto da Lorie.

- Olá, tudo bem aí?

- Oi Jane, estava mesmo precisando falar com você.

- Ah, é mesmo? Pode falar então - respondo adentrando no quarto da menina para lhe dar maior atenção.

- Bem - dá uma pequena pausa - como faço para ser mais bonita?

Fico incrédula com a pergunta da Lorie, não esperava por isso.

- Mais bonita? Como assim? - tento ganhar um pouco mais de tempo para digerir o que ela acaba de me perguntar.

- Sim.

Lorie não colabora.

- Bem, depende do que você quer dizer...

- Droga, deixa!

- Não Lorie, desculpe. Eu quero ajudar, só preciso entender o que você quer dizer com isso. Tem algum motivo para você querer ficar mais bonita?

- Não! - a menina cora.

Bingo!

- É algum menino na escola?

- JÁ DISSE QUE NÃO, VAI EMBORA!

Levanto da cama dela num susto e vou embora antes dela começar a chorar e fazer chantagens emocionais.

3
Ando ao longo dos corretores e escuto o som do piano de Peter. Caminho até a sua porta e resolvo escutar atrás da porta, até que bruscamente a música é interrompida:

- Entre Janne!

- Ah, oi Peter, não queria interrompe-lo, só achei a canção bonita.

- Bach.

- Oi?

- Johann Sebastian Bach.

- A música?

- Sim.

- É muito linda.

- Ele a compôs aos 15 para o seu irmão mais novo.

- Ual.

- Você gosta de piano?

- Acho lindo mas não tenho aptidão com a música.

- Bobagem, "ninguém nasce vocacionado a nada, as habilidades são despertadas de acordo com a qualidade dos conhecimentos que estão disponíveis a determinadas pessoas".

- Nossa, você é filósofo também?

- Hahaha não!

- O que foi então? Não entendi - questiono confusa.

- Nicolae.

- Oi?

- É uma frase do Nicolae.

- Jura?

- Sim, ele escreve, você nunca leu?

- Nunca!

- Nossa, você precisa lê-lo! Suas obras são como a sua personalidade: transcendem de acordo com o século vigente.

- Como assim? - me sinto burra por questionar mas como se trata do Nicolae, assumo o papel de idiota.

- Ele escreve sobre tudo! Poesia, romances, política, economia...

- Nossa, sério? - falo incrédula.

- Sim, ele teve contato com inúmeros escritores famosos.

- Deve ser demais!

- Uma pena que ele não escreva mais, ele era realmente muito bom!

Um silêncio se instaura no ar.

- E por que ele não escreve mais?

- Janne, acho que eu falei demais, e se bem eu conheço o Nicolae, ele vai ficar possesso se descobrir.

- Poxa, mas pode ser nosso segredo, eu não contarei nada! - faço um xis com os dois dedos indicadores e levo aos lábios em sinal de lacre.

- Tudo bem, mas vamos encerrar por aqui hoje tudo bem? Preciso continuar a praticar.

- Ok...

Percebendo que estou atrapalhando o momento do Peter, me retiro cabisbaixa porém em silêncio.
Assim que eu fecho a porta do quarto, Peter automaticamente recomeça a tocar.

Entediada, resolvo não entrar no meu quarto e sigo o enorme corredor, sentido do extravagante vitral ao fim do corredor.

Observo as rosas postas em delicados jarros ornamentados, apoiadas em belas mesas de mogno.
A luz que entra através do trabalhado vitral dá um ar melancólico e me remete a um funeral.

Bonito e assustador, na mesma medida.

Ao meu lado direito, noto uma porta a qual eu nunca tinha reparado que existia.
Sinto uma enorme energia emanando da mesma.
Minha curiosidade aguça quando sinto um perfume maravilhoso quanto mais eu me aproximo da porta.
Repouso uma das minhas mãos na fria maçaneta.

Não sei se devo.

Is It love? Nicolae - PatrinieriOnde histórias criam vida. Descubra agora