Travel

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Me despeço da minha mãe e minha avó com grande pesar.

Sempre tivemos uma vida muito difícil e elas são absolutamente tudo o que eu tenho.

Embarco em meu trem na plataforma 9 as 15:40 da tarde, apenas com uma mala e o coração carregado de expectativas.
Sou filha única de mãe solteira, tivemos nossas limitações econômicas e portanto vivi a vida inteira em Alloa, mais precisamente em meu quarto.

Quem mora ou já morou em cidade de interior sabe que nesses lugares não há muito o que se fazer, para jovens então, a calmaria se torna menos atrativa.

Tive uma ou duas paixonites, coisa de aborrecente que se encanta com o capitão do time de futebol da escola, mas quebrei a cara em todas elas.

Sentada no trem, a minha vida passa como um filme em minha mente, da mesma forma que a paisagem percorre diante dos meus olhos.
Vivo um misto de emoção, entre choros e sorrisos que oscilam em instantes.

- Com licença, este acento está vago? - levanto meu rosto secando as lágrimas e tento oprimir meus sentimentos com o meu melhor sorriso:

- Boa tarde! Não, não tem ninguém sentado aqui além de mim - sorrio ao estranho que me retribui o sorriso já colocando sua maleta no bagageiro.

Ele senta ao meu lado e eu o ignoro, continuo olhando a paisagem de forma melancólica.
O homem se senta com um livro na mão e isso é o suficiente para me despertar curiosidade.

Tenho uma paixão por leitura e grande afinidade com livros diversos, desse modo, fico sentada em meu assento procurando descobri o nome do livro da forma mais discreta que posso.

Até que finalmente consigo ler um trecho:

"Nenhum homem pertence a outro, mas há aqueles no poder que fariam você pensar o contrário. Nós honramos a clareza e a benevolência mas elas devem ser providas nos termos do doador, voluntariamente, e não pela força. Os poderosos tentam nos fazer sentir culpados pelo nosso sucesso, e nós somos culpados. Culpados por nós sacrificamos e por trabalhar sob seus termos."

- Ayn Rand!

- O que disse? - questiona o homem

- Desculpe, pensei alto - respondo sem graça.

- Digo, você a lê? - pergunta com um sorriso estampando seus belos lábios.
Nesse momento, reparo no homem o qual eu ignorei o percurso quase todo.

Nossa como ele é bonito!

- Annn.. sim, eu a leio - falo tentando retomar meus pensamentos - Ayn Rand é uma das minhas autoras favoritas - completo com empolgação.

- Você parece bem nova para se interessar por livros como A Revolta do Atlas.
Percebendo o meu incômodo o estranho completa:
- Desculpe a minha indiscrição, viagens longas me deixam um pouco entediado.

- Eu gosto, me ajuda a pensar - comento rispidamente.

- Acabo de perceber que não me apresentei, meu nome é Sebastian - fala estendendo a mão em forma de comprimento.

- Prazer! - retribuo a saudação.

- Não vai me dizer seu nome? - questiona levantando uma sombrancelha.

- Talvez.

- Ok, entendi, terei que merecer - ele fala entre risos, o que me arranca um também.

Ficamos falando um pouco mais sobre  Rand, livros e política o que me fez esquecer completamente as preocupações iniciais.
Quanto mais Sebastian falava, mais eu me fascinava por ele.

Sebastian era um homem extremamente atraente. Cabelos medianos na cor preto azulado, tinha sombrancelhas grossas que emolduravam seus belos olhos amendoados. Seus lábios eram finos mas bem desenhados, o que realçava seu sorriso.
Ele vestia um suéter cinza escuro com as mangas suspensas que dava para ver seu braço marcado por pêlos negros. Apesar do suéter não ser uma peça que favoreça a silhueta, era possível ver seus músculos fazendo volume sob o tecido.

A cada minuto que passava, eu ficava mais encantada com ele até que sou desligada dos meus pensamentos com uma parada do trem.

- Bem, foi um prazer conversar com a senhorita - exclama Sebastian levantando e ajustando suas vestes.

- Mas, você vai soltar aqui? - pergunto com desânimo na voz.

- Sim, obrigado pela ótima conversa, a senhorita fez a minha viagem mais agradável.

Sebastian pega sua bagagem e parte.
Passo o restante da viagem pensando em Sebastian.

Droga, eu não lhe disse meu nome! Não trocamos e-mail, nada! Nunca mais verei esse estranho de conversa agradável chamado Sebastian.

Sou retirada de minhas​ lamentações com a parada do trem na plataforma de Mystery Spell.

Oh, finalmente cheguei

Levanto, pego minha mala e vou em direção a porta de saída.
Chegando do lado de fora da estação, percebo que já anoiteceu.

Droga, não sei onde fica a casa dos Bartholy, não conheço a cidade é já está tarde.

Resolvo então me hospedar em um hotel próximo, só por precaução, estou muito cansada e não quero me arriscar.

Is It love? Nicolae - PatrinieriOnde histórias criam vida. Descubra agora