"Ut vultus "

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E mais uma vez minha intuição me trai .Achei que conseguiria dormir depois de um dia cansativo , em todos os aspectos existentes.Mas eu não conseguia sequer fechar os olhos , por um simples motivo : minha mente não parava ! Um trilhão de pensamentos por segundo , eu não conseguia não pensar naquilo , e não tinha sequer uma opinião formada sobre aquela situação excêntrica , por que o meu entendimento limitado me dizia que era extremamente impossível  conhece-lo sem me lembrar , mas o meu coração e o meu corpo mostravam que o Sr Parker era mais que familiar .

E as horas voaram , o sol abusado como sempre invadiu meu quarto , raios intensos acompanhados de um cantarolar de pássaros , fazendo até parecer que aquele seria um dia bom e comum .

E como as horas passaram! Como eu desejei aquilo , mesmo não sendo uma amante do verão e a sua intensa presença , não queria parecer estranha andando pela casa de madrugada por nenhum outro motivo além de insonia , e até mesmo medo de esbarrar com o Sr Parker no saguão , ainda não estava pronta .

Levantei-me , e do jeito que eu estava fui até a cozinha , um cheiro suave e convidativo vinha de lá.

- Parece que alguém caiu da cama ! - Sauda Freya enquanto cortava ervas para fazer um chá.

- Bom dia ! - saudei com um riso frouxo .

Puxei uma cadeira e me sentei, a mesa estava linda , mas algo em especial me chamou atenção : um buquê de Knapweed , flores parecidas com cardos num tom violeta , típicas da Alemanha , me lembro de já ter visto uma daquela antes mas o que me prendeu não era apenas a lembrança repentina da flor , mas sentia que ela me lembrava alguém , e eu não sabia quem era , não podia lembrar , uma enorme incógnita .

- São para você! - diz Freya com um sorriso bobo de lado, e me fazendo voltar de meus devaneios.

- O que ?

- Essas flores são para você ! - repete ela.

Olhei rapidamente para o buquê tentando imaginar quem poderia me dar um presente tão familiar .

- Mas...

- Olha o cartão ! - Interrompe Freya ansiosa para minha reação, talvez se divertisse com isso ou achasse muito romântico .

Entre as flores havia um cartão na cor champagne e algo escrito numa letra delicada , e solta o bastante para ser quase ilegível .

"Ao olhar para esse buquê deveria se lembrar de nossa ultima dança "

"Obs : Que tal uma volta pela Bourbon Street?"

Eu não deveria mas ao terminar de ler já sabia de quem se tratava, podia até imaginar sua voz dizendo aquilo,com uma carga de sarcasmo notória de quem conseguiria o que queria . Minha cara de choque foi inevitável .

Uma noite inteira perdida , com os pensamentos girando em torno daquele rosto , aquela voz , aquele nome, em como era estranha a sensação de o conhecer , como eu queria acreditar nele , seria mais fácil explicar por que eu sentia algo tão forte por alguém que eu mal conhecia .E agora aquilo , flores , e não flores comuns .

- Foi tão ruim assim ? - Pergunta Freya sem entender por que tanto pavor .

- é que ... é - Tentei explicar enquanto meu coração batia mais rápido que as asas de um beija-flor.

Freya continuou com sua expressão confusa.

- Esquece !- lamentei, pegando as flores e voltando para o quarto.

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