Lunam Glacies

19 0 0
                                    


  " Летище Пловдив, 4009 Plovdiv, Bulgária  "(Plovdiv Airport ,4009 ,Bulgária ) .

Em letras vermelhas incandescentes , numa fachada degradê em preto e laranja que escondiam onde as cores se encontravam atrás das letras , suspensa por  sete pilares metalizados , que não pareciam ser capazes de suportar o peso .Kai não se lembrava de ter visto um aeroporto ali antes .

Ruínas e muralhas da era de Filip da Macedônia , teatros romanos e agora um aeroporto na cidade mais antiga que Cartago e Constantinopla , nem parecia ser um unico e mesmo lugar .

Ele queria se lembrar do que existia ali antes mas só se recordava das 3 colinas batizadas pelos turcos : Bunardjik tepe , Djendem Tepe , Sahat Tepe , lembrava-se também que na verdade eram sete : Djambaz Tepe (a maior e mais alta ),Taksim Tepe e Nebet Tepe (que significava Colina da Guarda ), e  Markovo Tepe que havia sido demolido cem anos atrás .

Era o marco da cidade , as guardiãs de Plovdiv , se pudessem falar contariam a história triste que presenciaram, a metamorfose sofrida na mão dos homens .

Ele apenas se lembrava que teria de ir para o norte do rio Maritsa ,era a unica informação que tinha e torcia para que tudo estivesse no mesmo lugar .

Pegou uma espécie de taxi e  lançou ao motorista sua unica e preciosa informação : "на север от марица, моля!" (Ao norte do Maritsa por favor !). Aquela era a unica vez que  se lembrava de ter dito : por favor , e era cômico , não podia ameaça-lo com magia, ali não , teria de se passar por um universitário em ferias .

O motorista o lançou um olhar confuso pelo retrovisor , esperava uma informação mais precisa de alguém que tinha a pronuncia tão boa , sua desenvoltura na pronuncia era de quem ja havia morado la e não de um intercambista amador , então no mínimo ele deveria saber onde exatamente queria ir .

Kai o encarou pelo retrovisor como se quisesse dizer : "Isso mesmo !".

Ele não disse uma só palavra , e seguiu seu destino .

Horas e horas ansiando ver o maldito rio , definhando na poltrona rasgada e empoeirada naquele taxi  de um amarelo cegante, um silencio transtornante ,sua vontade era de disparar falando , desabafar com o motorista que aparentava ter 50 anos , a pele já enrugada  mas os cabelos negros e ralos , porém  temeu assusta-lo com o que iria falar , iria dizer que estava tão irritado com aquela demora que seria capaz de arrancar a lingua de alguem .

Decidiu engolir sua agonia para não ter que ir até o rio apé .O Maritsa parecia ser maior que a própria cidade , parecia não ter fim e se estendia por todo o Oriente, A cada 10 metros la estava . Evros estonteantemente verde , aparentando estar intoxicado por clorófitas mas  era o rio mais limpo que ele ja vira , desde a epoca de Filip, permanecia imaculado, de tal desvelo .

Os marcos mais antigos de Trimontium eram os mais preservados , com um zelo admirável, como se ali os tempos novos , a modernidade não fosse aceita de braços abertos como nas outras partes do mundo .As eras atuais e futuras pareciam transmitir medo  à aquele povo, medo de perder suas origens , de ter seu reconto esquecido , largado as ruínas .

"La Maritza c'est ma rivière ,comme la Seine est la tienne" (O Maritsa é o meu rio,como o Sena é o teu ) .Lembrava Kai da francesa Sylvie Vartan , declarando seu apreço pelo velho Maritsa , quando o compara com o rio Sena , não era atoa a obstinação causada por ele a todos que o conheceram em eras diferentes , diante tantas alternâncias ele era unicamente tudo que permaneceu intacto , guardando a historia da Macedônia Oriental, Edirne e o mar Egeu onde deságua ao sul  , fronteira ao sul Grécia-Turquia e ao norte Bulgária -Grécia , uma grande história e muitas lembranças compartilhadas por varios povos , que tinham um amor em comum : a presença do velho Meriç, evros ou Hebros como chamavam os gregos .

Já havia se passado mais de uma hora , o ditoso destino não chegava , Kai ja estava irritado , não sabia se era culpa do motorista , por estar sendo lento ou por que era realmente longe , sua vontade era de lança-lo com o taxi ainda em movimento e dirigir ele mesmo , mas lembrou dos milhões de motivos que tinha para não fazer isso , então engoliu seco sua impaciência e se aconchegou no canto direito do banco de trás , reclinado sobre a porta , com  os braços cruzados buscando se aquecer , o sol ja estava caindo e a temperatura também  juntamente com ele .Ele odiava ser controlado , e se sentia controlado pela situação , pois precisava do motorista vivo para leva-lo aonde queria .

Com a cabeça reclinada sobre o vidro gelado da janela ele percorre com os olhos cada perímetro verde do rio , as sangras d'agua abeirando as margens , tingindo a paisagem num degradê de inúmeros tons de verde , era tão magnífico que o deixou tonto , supondo que veria um seguimento equipolente  de verde nos próximos 20 metros se poupou fechando os olhos , buscando pensar em algo que o trouxesse esperança e animo para sua tarefa , que não seria nada fácil .

Podia sentir o cheiro silvestre , capim e outras ervas que ele sabia que só haviam afastado da cidade grande , o zumbir dos grilos , o gorjear das corujas , e o cheiro de barro úmido e de rosas , que não se misturavam ,eram perfeitamente distintos . 

Aquilo fez seus olhos alertas pesarem, uma vez , duas vezes , três vezes ,do cenário degradê ele passou a ver um verde uniforme, até que eles se fecharam de vez , e ele estava numa escuridão profunda , era como se estivesse consciente .

Kai caiu num sono abrupto , aquele clima lhe era familiar pois até seu corpo sabia que já podia descansar  , em partes , já que se tratando de Verena todo esforço seria pouco , não havia tempo para dormir , nem se lamentar , nem ter ataques de ira , sua missão ali era unica e objetiva : encontrar os Oksana , em seguida seria se manter vivo , logo depois conseguir se aproximar de quem podia ajuda-lo e por fim conseguir o maldito feitiço .

Sua missão acabaria ali ? Não !

Imaginava ele que pior que tudo isso junto seria convencê-la a ter suas memorias de volta , cada  pedaço , cada segundo , cada  beijo , cada abraço , cada promessa , cada olhar , cada vez que seu coração ardia em pensar nele e no que o esperava , cada minuto que sucumbiu de tristeza  e culpa por vê-lo sendo punido pela Gemini e estar de mãos atadas .

Ele se lembrava muito bem , Annia e a Gemini armaram tudo aquilo numa noite de lua minguante , onde Verena estaria fraca e não poderia fazer nada .

Tudo aconteceu em frente aos seus belos olhos azuis , a agonia de ver o garoto que ela amava sendo sugado para um limbo solitário e imprevisível , sem que ela nada pudesse fazer , a dor de saber que eles não conheciam o mesmo Malachai que ela conhecia , pois eles jogaram no mundo-prisão o  bruxo tirano , sedento por poder e culpado pela morte de seus proprios irmãos , e naquele dia eles mataram o garoto apaixonado por alguem que  o enxergava alem de sua escuridão.

Todas aquelas lembranças estavam em jogo , e ele nem sequer havia ruminado se ela seria capaz de reviver todo aquele abismo de novo.

Ela ainda era a mesma garota que ele viu chorar e se debater esmagando os pulsos e os ossos da mão  em correntes banhadas com ervas , em total desespero querendo salva-lo do que o esperava .

A garota sensível que jamais se perdoaria por não ter feito nada , que não pouparia uma convenção e muito menos sua família por um ato tão cruel .

Eles não conheciam ele como ela , era por isso que ela o defendia com todo seu ímpeto .

Era por aquela garota que ele estava ali ,aonde não deveria pisar os pés nunca mais , só para poder fazer possivel que ela se lembrasse de como ela era amada e por que .





MONDOnde histórias criam vida. Descubra agora