Aurora

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 Era a coisa mais humana e mais estranha que ele ja havia vivido após muito anos , descer de um longo voô, e ao mesmo tempo tão rápido que nem parecia ter atravessado um oceano , um continente , mas ali o fato irônico de parecer um cidadão comum em férias .

Kai jamais pensou que voltaria ali novamente, depois de tantos anos , um ato desesperado de amor ou a mais genuína ousadia ?

Depois da anarquia que deixou para trás , inimigos , aliados , histórias mal terminadas , segredos , novos desejos .

Plovdiv era um lugar esotérico , uma realidade paralela , onde o que parecia ser não era , e quem vivia naquele cenário de aparência nem imaginava o que estava oculto , mas para Kai parecia tão obvio que era cômico a ele ver as  familias sorrindo com suas crianças e passeando com seus cães sem nem imaginar o cenário de horror  por trás de tudo aquilo , como se as pessoas não quisessem ver , não quisessem acreditar naquilo que não podiam explicar , compreender .

A cidade das sete colinas , a Hollywood ocidental , de uma beleza singular e cegante , atraiu olhares como o do grego Samósata, que descrevia sua beleza  como um garoto apaixonado, decifrou  sua bela Trimontium, entre as três colinas no sopé dos montes Rodopé , as margens  do  rio Maritsa , resguardando sua simetria trácia até os dias atuais ,como se o tempo ali houvesse parado .

As pessoas que ali moravam pareciam se esquecer da bagagem histórica e obscura trazida no tempo , mas as construções  de pedra não , nem o calçamento gasto , definhado , desde as ruínas e muralhas da era de Filip ao teatro romano ,brincando com as eras e as mentes aéreas das pessoas que achavam aquela mistura sensacional , sem imaginar que aquilo era uma afronta a quem vivera e vira Elmopias , Filipópolis , Trimontium ,Philibé e Plovdiv .Passando de mãos em mãos , como um brinquedo sendo disputado por crianças mimadas , deixando as marcas do horror que sofreram , um povo que teve sua cultura arrancada de suas vidas e tiveram que assistir a tudo aquilo sem defesa alguma.

Kai não se importava com aquilo , mas gostava de examinar a hipocrisia e o comodismo dos búlgaros ,gregos , turcos e trácios , que não acompanharam o tempo , tendo que viver com uma ferida presente daquilo em que eles se encaixavam , se sentindo deslocados , mas imutavelmente albergados .E era algo que ele jamais aceitaria , ver aquilo em que  pertencia sendo arrancado de suas mãos , por isso estava ali.

Aliás , o destino estava sendo gentil , o dando uma segunda chance , e nem todos podiam ter essa regalia , então agora era com ele .

O ar era meândrico, ora rajava como um redemoinho , ora soava como um sopro , uma leve brisa , aquilo o dava a entender que o tempo estava para virar , um inverno horrível estaria as portas  , e ele se lembrava dos invernos búlgaros , era como se  a Sibéria estivesse mais próxima do que o Sol .

E o inverno não era ruim apenas pelo frio cortante , mas por que salientava o cenário morto e abandonado , pouco se via pessoas pelas ruas , era apenas a neve , as arvores parcas que só não caíam por que estavam congeladas o suficiente , mas a madeira sem vida e oca dava a impressão de que até mesmo as raízes jaziam , nem mesmo a terra podia protege-las de enregelar .

O inverno se aproximando , aquele cenário familiar , o possível reencontro com os Oksana ,um dejavu o tomou, e ele temeu reviver até mesmo a perseguição sanha da Gemini .

Sua vontade era de pegar um avião de volta , pisar os pés ali o deu um frio na barriga terrível , uma sensação de algo ruim estava prestes a acontecer ,como um sensor de confusão .

Mas ele sabia plenamente que se resignasse pegaria um vôo para Mystic Falls ou para Portland , se desistisse não deveria nem sequer cogitar em voltar para New Orleans . Não teria coragem , toda a sua força para ignorar a  frustração de ser rejeitado cada dia mais pela unica garota que amou em sua vida sombria vinha de sua certeza de que provaria a ela , com fatos que o que ele dizia era verdade .Seria frustrante .

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