FLAMINE VENTI

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" Eram melancólicas, amargas, alegres, esperançosas, heroicas,suas palavras eram humanas..." (Nazim Hikmet)

Por um instante a mente de Petra não fora capaz de absorver o que os olhos viam, um vai e vem de pessoas que ela não era capaz de acompanhar, pessoas de todo o tipo, cor, estilo, ela até queria observar detalhe por detalhe de cada um que passava , mas era impossível, uma sequencia de  novidades, de informações novas , de coisas que  nunca tinha visto.

.Muitas distrações e ela só caiu em si quando Kai já  guardava as poucas  bagagens no porta malas de um CHARGER LS 1972 marsala , uma espécie de táxi irregular, não era uma preferência pela ilegalidade, mas o rapaz esguio com cara de charlatão havia cobrado apenas 20 pratas para leva-los do Louis Armstrong  ao Rodeway Inn cerca de 5 milhas dali.

Quem ousaria levar uma realeza eslava, que desde o seu nascimento viveu em palacetes e mansões milenares, herdadas de geração a geração para repousar num mocambo?

Talvez não se importasse em dormir numa cabana decrépita, o seu objetivo valia todo e qualquer detalhe como aquele,  mas Kai não a faria passar por isso, apesar de não ser nada cordial sentiu-se mal ao imaginar levando-a para uma cabana beirada por um sepulcrário.

Os olhos azuis gélidos da garota percorriam pela rua movimentada, atenta, mesmo sem saber exatamente o por que , não sabia o que devia sentir.

Medo? Mas medo do que?

Ânsia? Do que exatamente? Se nem sequer havia um ponto de partida.

Um mix de pensamentos não sólidos com informações não processadas e uma enorme incógnita do que seria dali pra frente, resultando numa confusão cíclica .Na verdade se sentia uma viajante do tempo introduzida numa era vanguardeira , sendo engolida por cada centímetro de detalhe que fazia daquela era o presente que já foi futuro.

Nem uma só palavra, nem sequer expressava algo, Kai a fitava pelo retrovisor central, estava no banco ao lado do motorista para garantir que não seriam ludibriados.

Prestes a anoitecer e um frio típico de LA, um vento úmido e cortante que fazia uma brisa causar a sensação de um inverno ameno, Petra não estava tão bem agasalhada, Kai por um instante pensou em oferecer seu casaco mas ela parecia dispersa e tensa demais, temeu uma situação embaraçosa então permaneceu concentrado no caminho.

Cerca de 5 minutos e enfim chegaram, em algo mais próximo do que ela poderia chamar de casa .

A ideia de estar em um lugar diferente de onde ela esteve toda sua vida não parecia tão ruim (o quanto ela imaginava), apesar da penumbra que encobria os detalhes , o tal Rodeway era até agradável aos olhos, tons pasteis , arvores por toda parte, cores vivas , em contraste com o eterno luto que ela viveu e viu em tudo que lhe cercava na sua pátria, se é que podia continuar vendo Plovdiv com os mesmo olhos depois do que vira ao pisar em L.A, ela se sentiu enganada, presa em um lugar onde o tempo parou.

Caindo em si ela ouve Kai a chamar.

Com muita dificuldade a exatamente 10 passos  a frente dela ele carregava as malas que não eram pesadas , mas eram muitas, no entanto  o que a chamou atenção mesmo foi o olhar espreitador do estranho motorista, a olhava pelo retrovisor com os olhos esgazeados, como se fossem saltar das órbitas.

Antes de descobrir a razão Petra o acompanha com alguns passos apressados.

Ainda sem se pronunciar sobre nada, seus pensamentos eram tão palpáveis que pra ela era como palavras , mesmo que não fizesse sentido para Kai.

Sem mais delongas Kai a guia para o quarto aonde ficariam, 3 lances de escada, uma porta branca com um tapete velho e gasto "Seja bem vindo", se a ideia é fazer com que os hóspedes se sintam em casa ideal seria não pagar para ter aonde dormir, pensa Kai, olhando para o tapete e rindo.

Um quarto razoável, carpetes limpos, TV, chuveiro e aquecedores funcionando, era tudo que precisava estar nos conformes.Com seus pensamentos altos Kai ainda não sabia o que dizer a Petra, apenas colocara as malas em cima da cama, e pensava num jeito de sair dali para fazer o que tanto queria desde que chegara em L.A sem parecer indelicado.

Petra o olhava , cada movimento, parecia também estar pensando no que falar e em como falar, ela havia o visto apenas duas vezes e num intervalo de vinte anos , nada intimo, não o suficiente para ter muitos assuntos a tratar.

- Imagino que esteja cansada, tenho coisas  a resolver, você se importaria se...

- Claro que não, vá! - Responde ela , rapidamente, lendo seu comportamento.

Kai segue rumo a Borboun Street, em New Orleans, aonde esperava encontra-la apesar de ter se passado um tempo  considerável, não estava em um ponto estratégico,não estava preocupado com isso afinal se ela estivesse ali ele saberia, seus olhos eram inconfundíveis, e sua magia impossível de não sentir.

10 minutos, 30 minutos, uma hora, uma hora e meia.

Nada. Nenhum sinal, nem mesmo por meio de encantamentos ele conseguia a sentir ali, ela realmente estava longe.






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⏰ Última atualização: Feb 12, 2020 ⏰

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