Capítulo 22

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          Estamos todos no jardim de casa, comemorando o meu aniversário, todos rindo e comendo o meu delicioso bolo. Nunca gostei muito de festejar, pois isso é sinal de que estou ficando cada vez mais velha e não gosto de comemorar minha velhice, não quero deixar de ser criança, nunca na minha vida. Lá estava mamãe, rindo de algo que seu namorado lhe falava, então seus olhos encontraram o meu e seu sorriso só aumentou, sorri de volta para ela e continuei e cavar na areia. Sua risada é tão gostosa e contagiante, tão boa para se ouvir o tempo todo. Sua vida era maravilhosa, quase nunca a encontrava triste ou infeliz. E então a imagem de eu tirando tudo isso dela me veio logo em seguida, de seus olhos demonstrando medo e pavor, do seu curto grito quando cravei minha adaga em seu peito, de seus olhos perderem o brilho e a paz. Um vislumbre de como ela sofreu me atingiu por completo, eu quero sentir a mesma dor que a dela, quero me encontrar com ela e ser feliz pro resto de minha vida, sem pensar duas vezes, cravei a minha adaga em meu próprio corpo, sentido todo o seu sofrimento, o gosto de ferro e sal invadiram minha boca, me deixando enjoada...

- Arielle! - acordei assustada com a voz de Jason, por reflexo me afastei o mais rápido dele e levei minha mão ao meu peito, só para ter certeza de que eu não cometi a burrada. - Santo Zeus, quer me matar do coração? - perguntou com uma expressão irritada, que passou para preocupada quando viu que eu comecei a chorar em desespero. - Xiii! Eu tô aqui.- meu irmão se sentou ao meu lado e me puxou para um abraço de lado, dizendo coisas boas em meu ouvido. - Está tudo bem, foi apenas um sonho. 

- Não, não foi. - sussurrei. 

           Depois de um tempo eu me acalmei e percebi que Jason dormiu ao meu lado, acabei me lembrando sem querer de Nico, eu precisava dele agora mais do que nunca, mas eu sinto que ele não me quer por perto. Não consegui pregar os olhos e agradeci por já estar amanhecendo, obviamente fui um dos primeiro campistas a se levantarem. Demorei um tempo até me arrumar para sair do chalé, e tive uma surpresa em tanto quando abri a porta e dei de cara com Nico, que sorriu de lado. 

- Oi. - falei ao fechar a porta. 

- Queria saber se pode conversar? - se conheço uma pessoa mais direta que ele, não, eu desconheço.

- Tá. - dei de ombros e o segui. 

        Ficamos um tempo andando, até pararmos em um lugar afastado do acampamento, mas não fora da proteção. Nico se sentou no chão e eu o acompanhei. 

- Fui te olhar de noite... - murmurou, parecia a coisa mais difícil para ele me falar isso. - Alguns minutos depois você começou a gritar em desespero, e cheguei na conclusão de que não está nada bem internamente. - o garoto passou a mão no cabelo, o bagunçando mais ainda. - Quero que saiba que estou aqui... sabe, se quiser desabafar. 

- Eu estou bem. - tentei dar de ombros, mas ele revirou os olhos. 

- Não está não e não me faça de idiota. - agora ele se irritou um pouco. - Não quero que você passe pelas mesmas coisas que eu passei, Arielle. Eu não consigo desabafar com ninguém, mas sei que você consegue e deveria fazer isso. Tirar todo esse peso de dentro.

            O encarei perplexa, antes de abraça-lo, um abraço retribuído. 

- Ela me fez escolher entre meu pai e minha mãe. - sussurrei enquanto ainda o abraçava. O apertei contra mim. - Tive que cravar uma adaga no peito de minha mãe, só porque aquela desgraçada queria diversão. - e eu não aguentei mais, comecei a chorar de novo. Já estava me sentindo uma fraca. - Vi minha mãe morrer e o pior de tudo, foi eu que a matei. 

         Ele nos separou e olhou fundo nos meus olhos, para depois me beijar, um beijo desesperado, que nunca imaginei que ele me daria isso. Suas mãos seguraram minha cintura com força e me puxaram para ele. Passei as mãos em seu rosto e em seu cabelo, intensificando mais o beijo, não percebi quando fui parar em cima de seu colo, eu só sei que esse definitivamente é o melhor beijo do mundo. Nos separamos para buscar o ar, seus olhos não me deixaram depois disso, o garoto beijou minha testa e depois a grudou com a dele. 

Nada é por acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora