Noite I

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MADELEINE

À noite estava fria, tão fria que uma nevoa se formava entre as arvores e a vegetação baixa. Meus pés descalços tocavam a areia escura da floresta, meus dedos brancos se tornaram negros e frios. Porém, aquele ambiente não me incomodava. Não nos incomodava. Nascemos em lugares mais frios do que esse, tão frio que fazia nossa pele queimar se não estivéssemos com a proteção apropriada.

Viemos de um lugar onde nenhum um ser humano ou Inumano pudesse nos encontrar.

Meu véu bordado à mão balançava todas as vezes que eu suspirava. Meu longo vestido branco era macio ao toque, o acariciei preocupada. Essa é a minha primeira vez fora do clã, longe de casa. Não posso negar que estou com medo, todas as histórias contadas por minhas irmãs sobre o mundo, não eram contos de fadas com finais felizes. Apenas histórias de sangue, destruição e morte. Eu estava apavorada para dizer a verdade.

Contudo, tive que me manter firme. Uma bruxa não demonstra fraqueza, ela não chora e não pede desculpas. Isso nos torna fracas e insignificante aos olhos dos inimigos, ou pior, para nossas próprias irmãs.

— Eles estão se aproximando — avisou Katherine ao meu lado. Seu véu branco me impedia de ver seus olhos negros ou seu rosto bonito. — Levante-se — pediu com a voz seria. Não pensei duas vezes antes de levar e ficar ao seu lado. Minhas irmãs, que estavam sentadas na escadaria, fizeram o mesmo. Todas as cinco, com vestidos de mangas longas que descem até os tornozelos. Nossos véus foram bordados à mão pelas nossas irmãs anciã, impedindo que estranhos ou impuros vissem nossos rostos. Ninguém pode saber como somos, não podemos correr o risco de sermos corrompidas por esse mundo.

Observando a floresta com atenção, pude ver sombras se aproximando, escutamos sons de passos sobre as folhas e galhos secos. Seguimos para o limite do jardim, onde uma linha, criado com pedras separava a enorme mansão da floresta escura.

Minhas irmãs e eu vimos os seres da noite ganhando forma. Eles se vestiam com elegância e luxo. Seus olhos vermelhos pareciam brilhar na escuridão, as cores de suas peles pareciam à maravilhosa lua que tanto adorávamos. Mas eu deveria ficar alerta com a presença de todos. Vampiros são traiçoeiros e só se importam com o próprio prazer. Eles são seres que não possuem alma ou humanidade em seus corações.

— Boa noite, irmãs — cumprimento o vampiro de cabelos brancos. Ele era o único que estava próximo ao nosso circulo. Os outros, que contei ter apenas dez, estavam atrás dele.

— Boa noite. — Nossa irmã Belledisse se pronunciou. Ela tinha os cabelos negros presos em um coque alto, decorado com flores prateadas. Seu vestido negro parecia se camuflar na escuridão. — Você é o líder entre a sua espécie? — Sua voz era carregada de frieza.

Meus olhos correram entre ela e o vampiro de cabelos brancos. Ambos pareciam tão orgulhos, tão frios e poderosos.

— Não. Mas serei o porta-voz nessa negociação — respondeu ele. — Decidimos manter a integridade do nosso líder. Espero que entenda isso, Belledisse. — O nome de minha irmã sendo pronunciado por aquele ser maligno, fez meu corpo se arrepiar. Era raro alguém que não fosse do clã saber nossos verdadeiros nomes.

— Entendemos perfeitamente, Turno. Por isso, serei a porta-voz da minha Rainha.

— Espero que ao longo das 20 noites, nada de ruim aconteça com meus semelhantes — sua voz profunda fez meu coração bater com força. Silenciosamente puxo o ar frio pela boca e o prendo em meus pulmões. Depois de três segundos, expirei lentamente. Eu precisava diminuir meus batimentos cardíacos, não posso deixa-los saber que estou com medo.

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