Noite VII

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MADELEINE

Passei o dia inquieta. Depois do que aconteceu, eu não consigo parar de pensar que tudo foi um erro. Um maldito erro. Um erro delicioso e inesquecível. Mordi o lábio, enquanto escovava meus cabelos, eu ainda conseguia sentir a sensação dos seus lábios contra os meus. Da sua língua acariciando a minha e das suas mãos na minha pele.

O som da porta abrindo me despertou. Encarei através de o espelho Benna entrar no quarto. Ela vestia um vestido branco e estava usando o véu. Ela o retirou assim que fechou a porta. Seus cabelos estavam amarrados em um coque baixo.

— Belledisse deseja vê-la irmã ¾ declarou, enquanto se aproximava. Deixei a escova de lado e a encarei. — Sabe Madeliena, você não deveria sair sozinha. — Benna segurou meus ombros e me encarou através do espelho redondo. Encarei seus olhos escuros. — Não é seguro, você sabe muito disso. — Senti seus dedos subindo para o meu pescoço, suas unhas afiadas aranhavam minha pele. — O que acha que um vampiro faria se a visse andando pela floresta, como um carneirinho indefeso? — Sustentei seu olhar sem piscar — O que você acha que aqueles monstros fariam? Eu acredito que eles... — Ela parou, assim que começou a traçar uma linha em meu pescoço, deixando um rastro vermelho na minha pele branca.

— Você sempre me subestimou, Benna — segurei seu pulso em um movimento rápido. — Em todos esses anos, você continua brincando comigo, pregando peças sem graças, contando mentiras sobre mim. — Sem colocar muita força, gravei minhas unhas no seu pulso fino. — Você acha que eu não sei sobre o que você anda falando sobre mim? — Levantei do banco de madeira e me virei para encara-la. Seu rosto continuava imudável, sereno. Seus olhos caídos, fazendo-a parecer triste. Um sentimento que ela nunca sentiu. — Que Madeleina será a primeira Intocada a ser corrompida, que se deixará dominar pelo Deus caído — Benna tentou puxar o braço, fazendo-me segurá-la com força, senti minhas unhas rasgando sua pele, Benna reprimiu um gemido. — Não brinque comigo Benna, não tente me manipular com suas palavras venenosas disfarçada de açúcar. Se eu cair, você também cairá irmã. — Soltei seu pulso, fazendo-a arregalar os olhos e se afastar. — Talvez você esteja certa sobre mim. — Respirei fundo. — Talvez eu seja a primeira dessa geração a ser corrompida, mas se isso acontecer, o seu sangue cara irmã, será o primeiro a ser derramado.

Benna deu outro passo para trás. Ela segurava o pulso machucado, algo que não duraria muito. Inclinei a cabeça e lhe encarei calmamente.

— Contarei a Belledisse sobre essa conversa — disparou ela, duramente.

— Benna minha irmã, você ainda não entendeu? — Dei um passo na sua direção. Ela recuou na mesma hora, sorri com seu medo. Por um momento, por uma fração de segundos, o seu medo foi prazeroso para mim. O modo como seus olhos negros se arregalavam, o modo como seu maxilar redondo estava tenso ou a forma como seus ombros tremiam. Foi satisfatório. — Você esqueceu que eu sou a favorita de Belledisse? Em quem você acha que ela vai acreditar?

— Fique longe de mim — mandou, correndo. Quando o som da porta ecoou pelo quarto, voltei a me sentar em frente ao espelho. Encarei meu rosto com cuidado. As palavras de ontem ecoaram na minha mente. Um sorriso tímido surgiu, fazendo minhas bochechas ficarem mais marcantes. Naquele momento, em frente aquele espelho, eu me achei linda. Algo que nunca pensei e nunca me importei.

Decidi deixar meus cabelos soltos. Peguei meu véu sobre a penteadeira e o coloquei. Deixei o quarto mal iluminado e caminhei pelos corredores escuros da mansão encantada. Pergunto-me o que Belledisse deseja. Depois da purificação ontem à tarde, ela pareceu melhor. Seu corpo voltou a ficar limpo, assim como grande parte da sua magia. Ela estava mais calma e paciente. Isso era bom. Talvez tudo o que ela queira é conversar sobre as reuniões com os vampiros.

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