Intocada

Noite IX

MADELEINE

Encarei a enorme mesa ocupada por minhas irmãs mais velhas e alguns vampiros. Eles conversavam sobre um acordo: A cada cinco anos, eles voltariam a se reunir naquela mesma mansão com o intuito de refazer um novo acordo. Belledisse não via problemas naquilo, ela pareceu concordar com o vampiro que tanto desprezava.

Disfarçadamente, procurei por Tristen no salão. Encontrei Tey, Marie, Katherine e Benna. Mesmo com seu véu escondendo o seu belo rosto, pude notar que sua atenção estava completamente sobre mim. Depois do nosso último encontro, Benna se recusa a ficar sozinha na mesma sala comigo. Seu olhar acusador está deixando Belledisse curiosa. O que mais tarde, seria um grande problema.

Depois de um suspiro longo, analisei o vampiro de pele negra ao meu lado. Ele tinha uma postura dura. Seus ombros eram largos e suas roupas formais demais não pareciam combinar com ele. Não desviei os olhos quando ele virou o rosto e me encarou. Um sorriso surgiu nos seus lábios grossos, revelando suas presas brancas e pontudas. Devagar, voltei a encarar Tey do outro lado do salão.

Minha atenção estava nas velas acesas a alguns metros a cima da sua cabeça. O fogo alaranjado queimava a cera lentamente, não sei quanto tempo passei encarando aquela chama, imaginando onde Tristen estaria. Imaginando seus lábios frios nos meus, em suas mãos acariciando minha pele antes intocada. Eu o queria profundamente, mesmo que Belledisse e as outras tenham me contado sobre o Deus Caído e suas brincadeiras para nós levar a destruição, eu não me importava. Não mais. Não era para isso que o Deus Caído o colocou no meu caminho? Para me arruinar de uma vez, para possuir minha alma e consumir minha magia?

Há algumas noites atrás, eu teria visto aquilo como um aviso, poderia ter contado a Belledisse sobre meus pensamentos impuros, sobre meus desejos sombrios perante a um monstro como aquele. Mas eu decidi ficar em silêncio e depois da noite em que senti o verdadeiro prazer, um prazer antes desconhecido para mim... Bem. Não parecia ser tão ruim assim ser destruída. Não por ele.

— Madeliena? — Desviei minha atenção da vela e encarei todas as mulheres na minha frente. Belledisse me encarava com uma expressão desconhecida. Samanta estava em pé ao seu lado com os braços cruzados. Todas me encararam de volta.

— Sim? — Para a minha surpresa, minha voz estava calma.

— A reunião já foi encerrada — declarou Belledisse. — Chamamos o seu nome varias vezes, mas você parecia estar com a mente em outro lugar. — Belledisse deu um passo à frente. Ela levou a mão ao meu ombro e o apertou levemente. Seu gesto me lembrou de Margo, daquela noite pavorosa e sombria. — No que estava pensando Madeliena? Algo a perturba? — Encarei seus olhos negros.

— Sim — respondi, deixando-a curiosa. — A magia de proteção do lado sul está fraca, posso senti-la se desfazendo aos poucos. — Minha resposta à fez se afastar. — Isso está me incomodando desde o inicio da reunião. Tentei conserta-la, mas dessa distância minha magia não causa muito efeito. — Levantei minha mão, revelando um brilho fraco. — Será que posso ir conserta-la antes do jantar? — Belledisse revelou um sorriso orgulhoso.

— Estava esperando alguém notar naquele erro ridículo da Margo — disse ela. — Você me deixa orgulhosa, Madeliena. — Belledisse voltou a me tocar. Minha raiva pelo que ela fez a Margo continuava e todas as vezes que ela me tocava, eu precisava me segurar para não demonstrar nojo ou repulsa.

— Obrigada, irmã.

— Leve Benna com você — avisou, deixando-a alarmada.

— Não quero ir lá fora há essa hora e principalmente, não quero ir lá fora com ela. — Benna não parecia preocupada em ser discreta.